Enquanto isso, Raquel chegava caminhando devagar atê uma praça. Com o coração descompassado, atordoada ainda, Raquel estava alheia e sem se importar com mais nada. Desalentada, sentou-se em um banco, sem reparar os frequentadores do lugar, parecendo incapaz de ver e ouvir. Minutos ali e um travesti, que a observava desde a sua chegada, incomodou-se com a presença da moça.
Amigos espirituais, que foram designados para auxiliar Raquel, agiam naquele instante fazendo com que aquele irmão pudesse ter compaixão da moça e se sensibilizar com as suas dificuldades. Eles procuravam envolvê-lo, mas não era fácil. Raquel nada notou até o travesti dizer:
- Por que não dá o fora daqui?! Esse lugar não é pra você!
Angustiada, Raquel ergueu vagarosamente o olhar, exibindo um semblante extenuado. Suas mãos estavam trêmulas, geladas, aliás, todo o seu corpo tremia. Seguindo o rapaz com o olhar, pois ele enervado andava de um lado para outro a examinando, Raquel, com voz fatigada, explicou:
- Desculpe-me, não tenho pra onde ir.
- Se vira!
- Meu irmão me tocou de casa... Fui roubada... Após poucos segundos, abaixando o olhar, disse, quase sussurrando:
- Tenho vontade de me matar, mas nem sei como.
O olhar de Raquel prendia-se em ponto algum do chão, enquanto as lágrimas caíam abundantes. O rapaz, de súbito, sentiu um arrepio por todo o corpo ao ouvir aquilo, que o impressionou imensamente.
- Credo, menina! Pare com essa história de morrer! Cruzes!!! respondeu o moço, horrorizado fazendo o sinal-da-cruz.
Depois de observá-la um pouco, ele começou a se apiedar do estado de Raquel. Ela trazia o rosto machucado e a leve blusa de frio rasgada. A garoa intensa, que caía pouco antes, a deixou toda molhada e naquela hora fazia muito frio. Compadecido, perguntou:
- Você não tem nenhum namorado? Uma amiga?
Raquel ficava paralisada e parecia não ouvi-lo. Seu olhar continuava perdido. Menos agitado, o rapaz perguntou:
- Qual é o seu nome?
Raquel respondeu automaticamente.
- Olha, menina, esse não é um bom lugar pra você ficar. Aqui, vai acabar arrumando encrencas, acredite! Você tem que ligar pra alguém.Tem que cair fora daqui. Entendeu?
Raquel, olhando-o sem expressão alguma, murmurou:
- Não sei o que fazer. Não tenho para onde ir. Não tenho como avisar alguém...
Suspirando profundamente, com modos e gestos típicos, ele respondeu:
- Você já está me dando nos nervos! Não sei por que, mas vou tentar te ajudar.
- Levanta daí! Vamos! insistiu, puxando-a com delicadeza pelo braço.
Raquel, confusa, desorientada, não reagia e se deixou levar. Eles caminharam até um telefone público próximo dali e ele ofereceu:
- Tome! Ligue e vamos acabar logo com isso. Eu não sou babo e não posso ficar aqui pajeando ninguém a madrugada toda! Mesmo me simpatizando com você.
- Eu não sei... atordoada não conseguia ligar.
- Vamos, Raquel! exigia inquieto. Não me faça perder tempo!
Vendo que a moça estava atormentada, ele resolveu:
- Vai, me fala o número que eu ligo pra você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
UM MOTIVO PARA VIVER
Spiritual..."A familía autoriza a doação?"i O que fazer diante desta situação? No que nos baseamos para tomar tal decisão? Quais as consequências? É certo? É errado doar orgãos? O que nos diz a espiritualidade? Filhos adotivos? Qual a diferença entre filhos...