Capítulo 15

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Na primeira oportunidade de se ver sozinha com o marido, Alice, calma e cautelosa, observou comentando:

- Viu, Marcos, foi como falei. Agora você mesmo pôde comprovar que Raquel não é o que aparenta. Ela disfarça muito bem.

- Por que ela faz isso, Alice? Não posso acreditar. 

- Ela faz isso a troco de sua proteção, sua atenção. Não se esqueça de que, anos atrás, Raquel criou um caso que revolucionou a vida de toda a sua família. Todos ficaram contra ela, só você a apoiou. Até sua mãe reconheceu a filha que tem, tanto, que nem com você ela quer mais contato. Agora está aí a verdade.

Após alguns instantes de silêncio,aparentando-se tranquila e racional, Alice continuou: 

- Onde você acha que Raquel arrumou o dinheiro que nos emprestou para que pagássemos o aluguel em atraso?

- Se fosse através de economias, você não acha que ela já teria guardado outro tanto? Sim, porque o seu salário deve ser o mesmo, se é que não aumentou. E, morando aqui conosco,ela não tem tantas despesas assim. - Acorde, Marcos! A Raquel é bonita!Muito bonita! Quem iria trazê-la em casa a troco de nada? Na certa ela fez programas para conseguir o dinheiro que reservou e, agora, por estar morando aqui, sob a sua vigilância, não deve estar ganhando nada e, por isso, não consegue juntar alguma grana.

Marcos, embebido por pensamentos terríveis, deixava-se envolver por Alice e Sissa, que lhe passavam incentivos com o propósito de amargurá- lo e colocá-lo contra sua irmã.

Ao ver o marido em silêncio, Alice perguntou:

- O que faremos?

Tristonho e até abatido, ele resolveu:

- Ainda não sei. Vamos esperar mais um pouco. Não podemos mandá-la embora daqui.

Marcos, a passos lentos, retirou-se sem dizer mais nada. Alice imediatamente esboçou um ar de felicidade através de uma satisfação sórdida, indecente. Iria, a qualquer custo, macular a imagem de Raquel para o irmão.

- Por quê?

Por simples prazer. O coração das criaturas pequenas, que ainda não descobriram o amor, promove os danos nos sentimentos alheios através de seus pensamentos, palavras e atitudes.

Mas elas ignoram que, no exato momento em que pensam indevidamente, falam de modo não conveniente.  A boa moral ou agem com intenções indevidas, criam imediatamente em torno de sim uma aura impregnada, uma grosseira camada de energias, fluidos pesarosos, vis, torpes, baixos e que inevitavelmente atraem entidades sem evolução nem valores morais. Só que, independente de qualquer coisa, a duras penas, haverão de harmonizar tudo o que desarmonizaram, pois esta é a Lei.

Como nos disse Jesus: "... de modo nenhum passará da Lei um só jota ou um só til, até que tudo seja cumprido".

Só temos a eternidade para nos refazermos.

Com o passar de algumas semanas, Alice via-se nervosa e preocupada. Seu relacionamento extraconjugal não estava indo muito bem. Ela e Aldo se desentendiam por qualquer coisa. Ele exigia mais tempo em sua companhia, o que era difícil, pois Alice não poderia oferecer nenhuma desconfiança ao marido. Esse foi um dos motivos que geraram várias divergências entre ela e o amante. Por essa razão, Alice começava a ficar impaciente e irritada dentro de casa, voltando a ser mal-humorada, só que não brigava tanto quanto antes.

Marcos acreditava que ela tornara a se comportar assim por estar insatisfeita com a presença e o comportamento de Raquel. O que ele poderia fazer? Ele não poderia colocar a irmã na rua. Se bem que, se Alice estivesse com razão, Raquel arrumaria rapidinho um lugar para ficar.

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