Capítulo 30

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O Senhor Valmor, concordando com as exigências de Alice, comprou um pequeno apartamento e, após mobilia-lo, levou a amante para lá. Marcos ficara desesperado. Sem entender o motivo do abandono e ignorando, atê então, que Alice o traíra, Marcos se desequilibrara tanto que o próprio chefe aconselhou-o a tirar férias.

Como sempre, toda traição conjugal traz suas dores cruzis, instalando naquele que foi traído a desconfiança, o medo do futuro, o sentimento amargo da rejeição e do abandono. A separação e o divórcio súbitos trazem a inevitável pergunta: E agora, o que faço da minha vida?

Havendo os filhos queridos, outra: E aos filhos, o que digo? Nenhuma explicação consola os corações aflitos. Que exemplo Alice, que traiu o esposo desde o instante em que pensou em outro homem, poderia passar aos filhos por se envolver com paixões efêmeras? Que respeito e amor essa mulher poderia ter dos filhos?

Um dia, com toda certeza, a consciência de Alice iria cobrá-la por ter deixado os filhos sem orientá-los, bem de perto, para saber que caminhos estarão trilhando, se sentiram dores, se estiveram alimentados, se sentiram sua falta, se choraram no silêncio da noite, se tiveram apoio para prosseguirem nos estudos e futuros trabalhos. Ela não se preocupou se sua ausência física traria algum abalo emocional capaz de levá- los a buscarem na rua, nas drogas ou em companhias duvidosas a compensação para essa falta de amor de que se vêem privados. Mas o egoísmo dessa criatura não a faria renunciar aos efêmeros prazeres e ambições vis. Atraindo indescritíveis companheiros espirituais, que se compraziam em satisfações mundanas do mais baixo nível, o que, consequentemente, a fariam enveredar por amargos caminhos.

Marcos, por sua vez, encontrava-se em total desarmonia e desilusão, mas amparado por amigos espirituais que procuravam sustentá-lo no bom ânimo e para o bem. A custo ele encontrava nos filhos o motivo e a razão para não cometer nenhum desatino. Marcos não conseguia entrar em contato com sua irmã quando telefonava para o apartamento, uma vez que Raquel fora morar na casa dos pais de Alexandre. Raquel, também tentando contatá-lo no serviço, recebia a informação de que ele estava de férias.

Marcos passou a enfrentar sérios problemas com o filho Nilson, que perdera o emprego no mercado e se enturmara com péssimos companheiros. Nilson, agora maior de idade, fora preso por tentativa de furto.

Elói, mais tranquilo e sempre amigo, procurava animar o pai. Alice parecia pouco se importar. Ela só se preocupava com a sua vida.

Um dia, após voltarem da visita que fizera ao hospital para Alexandre, Raquel pediu para Rosana que a levasse á casa de seu irmão, pois tinha o novo endereço. Ela ignorava a separação do casal. Ao chegarem á casa de Marcos, ele as recebeu com satisfação, mas Raquel percebeu sua aflição.

Após conversarem um pouco, Raquel contou-lhe sobre Alexandre e o irmão revelou tudo sobre Alice e Nilson.

- O que você vai fazer, Marcos? 

- Não sei, Raquel. O advogado disse que o Nilson pode sair a qualquer momento e... Não sei. Já pensei em pegá-los e voltar para a fazenda, mas nem sei se posso, porque o Nilson ficará respondendo o processo e parece que não pode mudar de estado, eu acho.

- Voltar para a fazenda? estranhou a irmã. Há quanto tempo você não tem notícias deles?

-  A última vez que recebi uma carta da mãe foi há uns três anos. Na semana passada escrevi novamente e pedi, pelo amor de Deus, que ela me mandasse notícias. Vamos ver se assim ela me escreve. Avisei também do endereço novo.

- Gostaria tanto de vê-la comentou Raquel sentida, perdendo o olhar, pensativa.

- Por que não vai até lá, Raquel? perguntou Rosana. Raquel, tomando uma

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