Capítulo 10

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Enquanto Alexandre lutava com os próprios pensamentos, Raquel, ao chegar em casa, sentia-se ainda aterrorizada, mas procurava manter as aparências. Sem coragem, não contou a ninguém o que aconteceu, apesar de estar desfigurada ainda devido ao susto.

Alice não notou seu abalo nem seu semblante amedrontado, que exibia que algo estava errado. Preocupada consigo mesma, a esposa de Marcos sз exigia:

- Pensei que fosse minha amiga, Raquel. Preciso ir lá  hoje e sem falta!Com voz cansada Raquel tentava justificar:

- Alice, por favor, hoje não. Eu não estou bem. Aconteceram muitas coisas e...

- Amanhã ainda é sexta-feira e... Recuso aceitar um não. Parecendo nervosa, Alice desfechou: Você só se faz de boazinha comigo quando Marcos está por perto.

Raquel sentia-se muito mal. Tudo a incomodava. Procurava ser forte para não se deixar dominar pelo pânico, mas estava sendo difícil. Seu coração estava envolto por uma dor inenarrável. Por não ser firme, arrancando das entranhas da alma forças que desconhecia ter, Raquel acompanhou a cunhada.

Bem mais tarde, ao voltarem para casa, Raquel, exaurida de forças físicas e mentais, mal tomou um banho e largou-se no sofá, lugar onde dormia.

Alice também adormeceu rapidamente. Durante o estado de sono de Alice, o espírito Sissa, que havia algum tempo acompanhava a encarnada, aproximou-se de seu corpo adormecido e chamou:

- Ei, Alice! Venha, minha amiga. Sou eu. O corpo físico de Alice estava completamente adormecido e deitado em sua cama, enquanto o corpo espiritual despertava agora para o plano que os encarnados normalmente não enxergam e até ignoram. E, nesse desdobramento, aquela alma passou a oferecer atenção ao espírito Sissa, que estava mais próxima das vibrações, desejos e pensamentos da encarnada.

- Alice! Venha, sou eu! insistia Sissa.

- Aonde? perguntou Alice, um tanto perturbada ainda. Vem comigo. É do seu interesse. Vamos encontrar nossos amigos. Amigos? Sim. Você já os conhece. Nós vamos visitá-los num lugar mais propício.

Por ser um espírito ignorante, sem elevação moral, Sissa não podia suprir a companheira encarnada de amparo, sustentação e bem-estar, o que proporcionava a Alice um estado confuso e perturbado.

Alice, por sua vez, em desdobramento, tinha aquela companhia espiritual pelo nível moral em que se colocava, por falta de fé, pela ignorância sobre a vida espiritual e,principalmente, pela ganância material.

Ela não fazia preces a Deus e isso tudo não a deixava favorável para receber algum envolvimento ou inspiração de seu mentor. Sissa levou a companheira encarnada para uma faixa vibratória inferior, onde se situava um lugar estranho, havendo ali vários espíritos de baixos valores morais e inúmeros encarnados em desdobramento pelo estado de sono. Os encarnados podiam ser reconhecidos pelo cordão fludíco que se alongava do corpo espiritual, ou perispírito, até o corpo físico, que se encontrava em repouso. Desencarnados com aparência sinistra preservavam tudo, "organizando" a reunião.

Depois de alguns rituais que foram feitos a fim de impressionar todos e com o intuito de prestar como que uma homenagem, demonstrar obediência e simbolizar respeito ao líder, deu-se início á reunião. Quando todos observaram que o chefe fez menção de tomar a palavra, o silêncio foi absoluto. Eloquente, circunvagando á sua volta, ele falou sentindo-se absoluto:

- Mais uma vez, estamos reunidos em favor da nossa força, dos nossos direitos e dos nossos domínios, mostrando que as chamadas"Falanges da Luz" nada mais são do que migalhas sob nossos pés. Ninguém proporciona maior segurança ou maior prazer do que a força que obtemos com a nossa união. Todos a favor de todos! disse o líder com vibrações tenebrosas e olhar fulminante.

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