Capítulo 21

132 11 2
                                    



Bem mais tarde, ao retornarem para o apartamento, durante o trajeto Alexandre percebeu que Raquel, apesar de mais animada, ainda não se sentia á vontade com ele. Muito falante, o rapaz não oferecia trégua ao silêncio.

- Assim que chegarmos em casa, eu a deixarei lá e vou até a casa dos meus pais. Você acha que pode ficar bem?

- Claro.  Após pequena pausa, ela revelou triste e tímida: 

- Alexandre, estou inconformada com a ideia de morar com você. Tudo foi muito rápido. Sinto-me envergonhada...

- Ora, meu amor, por quê? perguntou ele com expressão carinhosa, que não se deu conta, a princípio, percebendo somente depois o que havia falado. Disfarçando, continuou como se nada tivesse dito, só que procurava ser ponderado e vigilante. 

- Sabe, Raquel, eu penso que muitas vezes a maldade está nos olhos daqueles que a vêem. Tem uma passagem de Jesus em que Ele diz: "A luz do corpo são os olhos. Se seus olhos forem bons, todo o seu corpo será luz. Se seus olhos forem maus, todo o seu corpo será tenebroso". Existem pessoas que só conseguem enxergar malícia, maldade. Essas são criaturas com o coração tenebroso e sem valor. Não devemos nos preocupar com elas, temos coisas mais importantes para fazer.

- Não consigo parar de me preocupar.

- Não pare de se preocupar, somente mude o foco, mude o objetivo da sua preocupação. Pense: o que você tem de fazer primeiro na sua vida agora?

- Não sei direito. Que tal tirar os documentos que roubaram.

-  É mesmo... sorriu ao lembrar. 

- Então, mãos á obra! Verifique o que você vai precisar, onde terá de ir... Isso é importante e é uma preocupação saudável.

- Vai dar tanto trabalho... lamentou a moça.

- Que nada! Pense diferente. Tenho certeza de que você não gostava da foto que tinha na sua identidade, ou que a assinatura não saiu como deveria. É a oportunidade que tem para mudar tudo isso. Então, fique feliz com esse trabalho.

Raquel sorriu ao perceber que Alexandre tirava, de qualquer dificuldade, um bom proveito e com humor.

Dirigindo, vez ou outra ele a olhava sorrindo, enamorado com o jeitinho de Raquel. Ao chegar bem próximo do prédio em que morava, ele exibiu primeiro um semblante sério, depois, vendo que não teria alternativa, sorriu pela situação que iria enfrentar.

- Teremos que ser calmos, rápidos, práticos e objetivos! 

- Por quê? 

- Está vendo aquele carro, ali? perguntou, apontando. É o carro do meu pai. Eles têm as chaves do meu apartamento e já subiram.

Raquel estremeceu. Pálida, não sabia como reagir, nem o que fazer. Alexandre, mais ponderado e racional, avisou:

- A essa altura devem ter olhado todo o apartamento. Viram a cama montada no outro quarto, viram as suas roupas... Minha mãe é ágil nisso.

Raquel parecia ter empalidecido mais ainda, sentia-se tonta e ensurdecia. Alexandre, equilibrado, disfarçava suas preocupações. Ele queria falar com seus pais sobre Raquel, mas longe de sua casa e sem a presença dela, a fim de não constrangê-la, pois sabia que sua mãe faria inúmeras perguntas á "queima roupa".

Após estacionar o carro na garagem, indo em direção de Raquel, olhou-a nos olhos brilhantes, que exibiam preocupação, e falou firme:

- Aconteça o que acontecer, não tome nenhuma decisão precipitada. Não se desespere. Estarei do seu lado, entendeu?

UM MOTIVO PARA VIVEROnde histórias criam vida. Descubra agora