Aquele convite para incluir-se como companhia das moças na hora do almoço não foi uma surpresa, era de seu costume convidar, a cada dia, uma colega diferente,sem distinção, para almoçar.
Bem mais tarde, chegando na seção onde Raquel trabalhava, Alexandre, na companhia de um amigo que trouxera consigo, aproximou-se da colega e chamou:
-Vamos? Onde está a Rita?
- Ainda não chegou. Mas...olha....estou tão...
Antes que Raquel argumentasse qualquer empecilho, ele alertou:
-Raquel, presta atenção: Você me parece preocupada demais com seu trabalho. Vejo-a pálida, com uma carinha de quem está com sono e até alheia a tudo o que está fazendo. -Aproximou-se mais, com seu jeito atencioso, pegou-a pelo braço tirando-lhe a caneta da mão e girando sua cadeira, foi conduzindo-a agora com ambas as mãos para que levantasse e prosseguiu:- Vamos almoçar porque, aí sim, estará mais revigorada, ficará mais atenta no que estará fazendo...
Quando Alexandre a segurou pelo ombro, brincando gentilmente com quem a conduzisse, Raquel, com o semblante sério, esquivou-se rapidamente, parecendo não gostar de ser tocada daquela forma.
Observando o gesto arredio, Alexandre, um tanto sem jeito, recuou erguendo ambas as mãos mostrando que não a tocaria mais e dizendo:
-Desculpe-me, eu não...
- Sou eu quem pede desculpas, eu....-disse Raquel também embaraçada, sem saber como se justificar pelo que fizera.
Vagner, colega de ambos que se encontrava ao lado e presenciou a cena, achou estranha a atitude da moça, porém, somente trocou ligeiro olhar com Alexandre e nada falou.
A chegada de Rita acabou desfazendo o clima um tanto sem graça que, repentinamente, havia se feito.
Ao ver Vagner acompanhando Alexandre a colega afirmou:
-Que bom, o Vagner irá conosco?
-Sim, irei.
-Então vamos logo! - pediu Alexandre animado e colocando-se á frente para saírem.
Almoçando em um lugar de pouco luxo, recolheram-se os quatro colegas a uma mesa em um canto do restaurante onde conversavam bem á vontade.
Rita, muito falante, atraia para si a atenção de todos.
Com sua bela voz agradável e seu riso gostoso de ser ouvido, ela conseguia trazer alegria e animação.
Raquel, no entanto, mais recatada, sorria vez ou outra, permanecendo a maior parte do tempo em silêncio.
No momento em que ficava séria, uma tristeza indefinida podia ser notada em seu olhar, mas a todo custo Raquel tentava disfarçar.Sem deixar que os demais percebessem, Alexandre a expiava. Muito observador, ele se deixava atrair pela quietude, um tanto misteriosa e natural, que Raquel trazia em si.
Em dado momento, ele, já incomodado com a ausência de participação de Raquel naquela conversa, decidiu provocá-la.
- E você, Raquel? O que tem pra nos contar?
Imediatamente todos pararam e voltaram a atenção para a moça que, timidamente, pela súbita questão, pareceu quase se encolher emudecida por alguns instantes, mas que, por fim, falou:
-Bem...- Dissimulando com um sorriso, completou: - Não tenho nada pra contar.
Alexandre e Vagner fixaram-se em Raquel observando seu meigo encabulamento.
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UM MOTIVO PARA VIVER
Espiritual..."A familía autoriza a doação?"i O que fazer diante desta situação? No que nos baseamos para tomar tal decisão? Quais as consequências? É certo? É errado doar orgãos? O que nos diz a espiritualidade? Filhos adotivos? Qual a diferença entre filhos...