Capítulo 13

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Ao contrário do dia anterior, aquela manhã se fez nublada, cinzenta e uma garoa fina umedecia tudo. Alice levantou cedo e aguardava, bem ansiosa, a chegada de Marcos á cozinha para o desjejum, a fim de poder contar para o marido as novidades.

Quando o viu, seus olhos brilharam. Ali estava a oportunidade tão esperada.

- Você viu a que horas a sua irmã chegou?

-  Não.  Respondeu Marcos sem preocupação.

-  Eram quase quatro horas da manhã! 

- Que estranho.  Admirou-se ele sem expressar espanto. Depois concluiu:

- Raquel não é disso.

- "Não é disso", na sua frente.

- O que você quer dizer com isso, Alice? perguntou o marido,mais sério e atento, encarando-a.

- Um cara veio trazê-la de carro e ainda ficaram um bom tempo noportсo conversando.

- Você acha isso normal?

- Acho.

- Ora, Marcos, não seja idiota! Seria normal para outra moça, não para sua irmã. 

- Por que não? Raquel tem o direito de ser feliz. Tomara que ela encontre alguém que a queira bem, que a respeite e ame. Você tem algo contra isso?

Com um sorriso irônico e na voz um tom de desdém, Alice respondeu:

- Não tenho nada contra. Muito pelo contrário. Só que, todo aquele drama, todo aquele medo e os traumas pelos quais ela diz ter sofrido, sumiram, assim, de repente? Eu não sou boba, Marcos. Eu te avisei que a Raquel mentiu para nós e nos usou. Você foi o único que acreditou naquela história absurda e até se indispôs com toda a sua família. Levou a para tratamentos, pagou terapias, médicos...

Interrompendo-a, Marcos interferiu demonstrando nítida insatisfação:

- Aonde você quer chegar, Alice?

Olhando firme em seus olhos, sem pestanejar, Alice falou:

- Não sou boba, Marcos. Toda aquela história, todo aquele medo foi mentira.

- Raquel nos enganou para nos usar. Ela não teria onde ficar nem apoio de mais ninguém. Hoje isso ficou óbvio, pois, naquela época, sem ter onde viver nem onde morar, ela teria que fazê-lo acreditar naquele absurdo, por isso encenou todo aquele drama e trauma. Como justificar,hoje, ela chegar em casa aquela hora e acompanhada por alguém que não sabemos quem é? Seus traumas sumiram, assim, de repente?!

- Chega, Alice

-  Não, Marcos, não chega.

- A prova está aqui, no que aconteceu hoje. Ninguém faz algo com naturalidade se não está acostumado. Escuta o que eu estou falando. A Raquel vai aprontar, não vai assumir a responsabilidade e vai largar aqui em nossas mãos, como já...

- Como já o quê, Alice? 

- Ora Marcos!

- Como já fez por aí. Você sabe.

Em defesa da irmã, ele se levantou, aproximou-se de Alice e, com voz pausada, falou manso, contendo seu nervosismo, que podia ser notado:

- Não quero que fale nesse assunto novamente. Eu a proíbo.

- Tá pensando que sua irmã é santa?

- Fique quieta, Alice! 

- O que foi? perguntou Raquel, que surpreendeu o casal em discussão.

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