Capítulo 29

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Segurei na mão da minha mãe e uma lágrima caiu, quando falaram que seu estado era estável era verdade, mas que ela estava fora de perigo não. Ela estava em coma, sua pele quente e viva agora estava fria, pálida. Depositei um beijo em sua testa quando o médico entrou para avisar que meu tempo ali com ela havia acabado

— Ele vai pagar caro por isso mamãe, volta logo, preciso de você.— Fui até a sala de espera e Dom estava sentado conversando com o meu pai — atrapalho?

           — Claro que não filha — tentou sorrir mas seu rosto estava abatido demais para isso, colocou meu cabelo atrás da orelha — vai pra casa, descansa, amanhã precisamos conversar

            — Você não está pensando em tentar me fazer desistir, não é mesmo?

              — Já perdoei aquele garoto muitas vezes, mas agora você entende, é a vida da sua mãe, dessa vez não vou impedir

             — Ótimo, nem você conseguiria. Vamos? — olhei para Dom que apenas assentiu e fez um toque com meu pai, que eu abracei e fui para o carro, Dom dirigiu rápido até o morro, passou na casa da Mia para pegar o Brian e partimos para minha goma, meu baby dormia como um anjo, entramos em casa, joguei minha bolsa no sofá e subi rápido para o meu quarto, quando abri a porta Bella estava sentada na minha cama, ao me ver a mesma abriu os braços e eu corri até ela, me aninhei em seus braços e chorei, de ódio, de rancor, de dor, de tristeza, de decepção. Chorei, chorei até sentir minha alma lavada, e um pouco mais leve.

           — Até que enfim você deu um tempo na sua armadura — respirou fundo — já tomou sua decisão?

            — Não existe decisão a ser tomada

— Estou do seu lado para qualquer coisa, mas precisa agir como sempre, com calma, pensar em tudo que vai fazer, ele foi quem apertou o gatilho, mas você sabe que não é só ele por trás disso

— Essa palhaçada já foi longe demais, to cansada de pagar por erros de um passado que nem é meu. Eles pediram guerra de um jeito estupido, mas eu vou responder de um jeito sagaz.

— Eu sei que vai, estamos do teu lado para ajudar nisso também — levantou e beijou minha testa — agora eu vou lá trabalhar, aquilo ali não para

— Me espera, vou só tomar um banho

— Nada disso, hoje você vai descansar e pensar no que fazer. Lá está tudo tranquilo, mais tarde trago as planilhas dos outros morros pra tu dar uma olhada — ela saiu do quarto e eu resolvi não discutir, estava mesmo precisando descansar, e não era só meu corpo. Fui até o banheiro e coloquei a banheira para encher, tirei minha roupa e me olhei no espelho, realmente naquele momento minha armadura havia caído, o meu ponto fraco assim como meu ponto forte sempre foi minha família, e eu deveria tomar cuidado, agora meus inimigos sabiam muito bem disso. Entrei na banheira e fiquei ali por horas, relaxando, pensando, precisava de um esquema sem falhas, eu não iria falhar. Sai da banheira e fui até o closet, passei meus cremes, coloquei uma calça de moletom e um top branco, fiz um coque no cabelo e fui até a sacada, me apoiei lá e fiquei olhando para aquele morro, quantas famílias ali já perderam filhos, mães, pais e irmãos no meio dessa guerra, da minha guerra. Ouvi a porta abrir e logo dois pezinhos desesperados correrem até mim, senti aquelas mãozinhas pequenas agarrarem minhas pernas e sorri, era a minha paz. Peguei Brian no colo e enchi ele de beijos e mordidas

— Já estava na hora de acordar não é mesmo? — olhei para ele sorrindo

— Cansado mama — falou tão sério que soltei uma risada

— Ah, o senhor estava cansado? sendo assim, tudo bem então, já comeu? — ele balançou a cabeça afirmando

— Papa fez — apontou para Dom que estava apoiado na porta

— Julia pensou em levá-lo para dar uma volta, aqui no morro mesmo

— Tudo bem, vai lá filho, titia jujuba vai levar você para tomar sorvete

— Eba! — Segurou meu rosto com suas duas mãozinhas e beijou meu nariz, logo depois correu até Dom, que pegou ele no colo e saiu, continuei apoiada na sacada e vi ele saindo com Julia e LK. Eu não sei qual foi a coisa boa que fiz para merecer ele, o meu tesouro. Também não sei o que fiz de bom para merecer eles, Julia sabia que aquele momento estava sendo difícil para mim, e sabia que eu queria manter Brian fora de tudo aquilo, ela se importava, assim como se importou durante esses dois meses, ela era da família. Ouvi a porta senda aberta novamente e logo depois senti a presença de Dom ao meu lado, respirei fundo e senti seu cheiro, preciso admitir que é um cheiro único.

— Ele era muito importante, não é mesmo? — falou enquanto segurava o crucifixo que eu tinha jogado em algum lugar hoje mais cedo

— E ela? era muito importante para você, não é mesmo? — ele respirou fundo e me olhou logo depois desviou o olhar para as vielas

— A dor que eu sinto não é porque amava ela. Ser traído por alguém que jurou te amar, é uma ferida ainda maior, me sinto

— Fraco e cego — balançou a cabeça concordando — é exatamente isso que eu sinto, ele foi uma peça importante da minha vida sim, mas o único amor que eu aprendi a ter

— É o amor pela família — ele sorriu e eu concordei — isso é um ponto forte nosso

— E também um ponto fraco

— Por enquanto. Vem, trouxe comida para você — me puxou até a cama e pegou a bandeja que estava no criado, comemos e depois ele levou tudo para a cozinha, aquela foi a conversa mais longa que tivemos. Sorri ao lembrar do seu jeito indecifrável, ele tinha mistério, tinha algo que ainda não sei explicar, não ainda. Esperei Brian voltar e quando ele subiu para o quarto já havia tomado banho, ajudei o mesmo a subir na cama e "conversei" com ele até o mesmo cair no sono.

Bandida: Nascida pra guerraOnde histórias criam vida. Descubra agora