Capítulo 18 - Mc Livinho

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Quando Clarisse me ligou dizendo que Laís ia fazer uma cirurgia, pois estava com leucemia, eu fiquei me perguntando o que seria de mim sem ela.
Estava a caminho de um show quando vi meu celular tocando.
- Oi Clarisse - digo.
Meu primeiro pensamento foi que Laís mandou ela me ligar. Já fazia três meses que nós não nos via, e as poucas vezes que eu e ela nos falavamos, Laís estava muito estranha. Não falava muito e quando falava sua voz era de uma pessoa cansada.
- Oi Oliver - Clarisse responde sem ânimo.
Quando ela disse Oliver eu já pensei o contrário. "Aconteceu alguma coisa". Clarisse não me ofender, nem mesmo ser grossa, isso não se vê todo dia.
- O que foi Clarisse ? - Pergunto preocupado.
- Bem, não queria te da essa notícia agora, mas... - Clarisse suspira e começa a chorar - Laís vai fazer uma cirurgia, ela descobriu que tá com câncer. Oliver, minha amiga tá com os dias contados.
Não pensei duas vezes. Mandei o motorista ir para o aeroporto. Preciso vê Laís, isso não podia está acontecendo! Não com a minha Laís.
- Clarisse, me explique isso direito, quando ela descobriu ? - Pergunto eufórico.
- A três meses atrás - ela sussurra, ela soluçava - Seu exame de sangue deu irregular e ela teve que voltar para fazer um exame mais complexo. Foi então que os médicos detectaram leucemia.
- O que é exatamente esse câncer ?
- A leucimia é uma doença dos glóbulos brancos, geralmente de origem desconhecida - ela explica - Normalmente é curado com a quimioterapia. Já no caso de Laís, os médicos optaram para a quimio e transplante de medula óssea.
- Ela vai ficar bem - afirmo, não sei se tentava confortar Clarisse ou a mim mesmo. Acho que os dois.
- Não crie expectativas - Clarisse diz - O câncer de Laís está muito avançado, o máximo que ela pode ter é dois anos de vida.
- O que vou fazer sem a minha morena ? - Começo a chorar.
Depois que Clarisse desligou eu expliquei a Juninho o porquê de não ir pro show. Peguei voo pra Salvador.
Assim que cheguei no hospital, procurei por Mário, Clarisse ou qualquer pessoal relacionada a Laís.
Quando finalmente encontrei o pessoal, tentei me informar da situação dela. Fiquei sentado horas e horas, esperando por alguma notícia. A mãe de Laís não parava de chorar, eu queria também, mas não podia me da esse luxo. Ela não merecia isso! Ela merece ser feliz, não está numa sala de cirurgia.
Eu não me aguentava, disfarcei um pouco e sair pelo corredor do hospital. Entrei numa sala de médicos e peguei uma roupa para mim. Andei por um corredor e vi que em uma sala próxima Laís estava lá.
Entrei de massinho e vi eles fazerem a cirurgia. Nada bonito, era assustador. Eu a via, dormindo tão profundamente, como se já tivesse morta. Esse pensamento me fez chorar.
Estúpido! Não pense assim.
Laís vai viver!
Quando Laís acordou eu estava lá. Fui até ela e conversei, não se passaram muito tempo desde que eu estava ali. Laís precisava descansar, então sair para comer algo. Pecebi o quanto estava com fome.
Sair do hospital e caminhei até uma lanchonete. Algumas pessoas paravam e pediam para tirar foto comigo, mas sinceramente eu não estou no clima. Muitos reclamaram.
- Pensei que fosse humilde - uma garota gritou.
- Tomar no cú! A mulher que eu amo está na sala de uma UTI e os médicos dizem que ela só tem no máximo dois anos de vida...VOCÊ AINDA ACHA QUE EU TENHO OBRIGAÇÃO DE TIRAR FOTO COM VOCÊ ? - Cuspi as palavras na cara da menina.
Porra, vai se fuder todo mundo! Entrei no meu facebook e tentei explicar o porquê não fui fazer o show, e as pessoas me julgavam. Pelo amor de Deus! Eu sou um humano. Eu tenho sentimentos, sinto a dor de está preste a perder alguém. E uma garotinha vem dizer que EU não sou humilde. Foda-se!
Entrei na lanchonete e pedi algo para comer. Merda! Tava puto com minha vida. Queria bater em alguém, ou em mim mesmo.
Uma mulher não parava de mim olhar, e isso estava me incomodando.
- Perdeu alguma coisa em mim ? - Pergunto para a mulher.
Ela deu risada.
- Nunca pensei que fosse viver para vê o Mc Livinho aqui ? - Ela diz - Ainda mais descontrolado.
Olhei para a mulher incrédulo.
- Não estou descontrolado, na verdade nunca estive tão calmo na minha vida - minto.
- Sério ? - Ela me olha, seu olhar era de diversão - Não é o que parece.
- A senhora não sabe nada de mim - digo.
- Não sei mesmo não - a mulher dá de ombros - Mas para um cantor como você cancelar um show só para vim pra outro estado vê uma garota que em si nem é sua namorada, faz com que eu fique curiosa para saber sobre esse rapaz.
- Como sabe tanta coisa ? - Pergunto agora curioso com ela - Não que a senhora seja velha, mas normalmente quem sabe mais sobre mim é minhas fãs jovens.
- Ah, minha filha é louca por você - ela rir.
- Eu amo Laís -falo pondo minha mão na cabeça. - Como eu amo essa morena.
- Ah, o amor. Não falha, não busca seus próprios interesses, não é ciumento, o amor é longânime, o amor nunca acaba - a mulher fala, seus olhos parecem longe, mas logo ela volta a olhar de verdade para mim é continua: - Laís, é de fato uma ótima menina.
- Você a conhece ? - Pergunto surpreso.
- Sim, eu trablho no hospital, e já faz três meses que ela vem aqui para a quimo. - Ela responde - Laís sempre foi forte, quando os médicos disseram para ela cortar o cabelo, ela não pensou duas vezes. Sua mãe sempre chora, mas ela tá lá, firme e forte.
- Se eu soubesse que ela estava doente, teria vindo antes ficar com ela - digo.
- Era difícil para ela vê sua mãe sofrer, suas amigas e seus familiares, acha que seria mais fácil para ela vê você também sofrer ?
- Não importa! - Eu digo - Não é ela que decide isso, tenho total certeza que se estivesse ao seu lado desde o começo ela se esqueceria que tava doente.
- Bem que minha filha falou que você é muito convencido - ela rir.
- Eu sou mesmo - dou um leve sorriso, vendo que é a primeira vez desde que cheguei.
- Oliver, agora você está aqui, faça então com que valha a pena - ela agora diz me olhando séria - Nunca vi ninguém lidar com a morte como ela lida. Brigar, ou não ter auto domínio sobre si não vai ajudar ela.
Ela se levantou e foi embora. Fiquei ali durante um tempo, pensando no quanto tudo isso mechia comigo. Nunca sentir isso antes, o fato de está paixonado por alguém de verdade, de ter medo de perde-lá me deixa descontrolado.
Me lembrei que Laís certa vez disse que amava ir ao Elevador Lacerda, lá ela conseguia pensar e raciocinar. Foi o que eu fiz, peguei um táxi e o mandei me levar até o Elevador.
Quando chegamos eu olhei a linda vista. Me lembrei dela, e isso me fez derramar lágrimas. Mas não me permite parar, procurei os muitos momentos que eu tive com Laís e pensei neles até não ter mais o que pensar.
Como alguém consegui superar isso ? A perda de alguém ? Nem a perdi, mas já sinto uma dor. Minhas lágrimas escorreram pelo meu rosto, e para piorar uma linda música de Codplay começou a etoar. Parevia música e fundo de filme quando tá tendo cena triste.
Desabei no chão e chorei, mas chorei muito. Todos os medos, angústias, dúvidas e sofrimento que eu guardava, coloquei para fora naquele momento. Me sentia mais leve quando finalemente passou meu colapso.
Continuei no chão. Agora, fixava meus olhos em um casal com seu filho.
Laís vai viver, ela vai ficar ótima, eu e ela vamos nos casar. Vamos ter vários filhos! Esse câncer não é mais que nosso amor.

Crazy Life - Mc LivinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora