Capítulo 48

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  Minhas mãos trêmulas acariciavam a pequena barriga de quatro meses, apesar dos quatro meses e meio ela ainda estava pequena, como se eu estivesse apenas comido demais e não carregando uma vida.

  Houve uma batida na porta e depois outra, eu podia sentir que meus olhos estavam lacrimejando e eu estava prestes a desabar em lágrimas. O espelho que estava preso entre o lavabo e a privada refletiam a minha imagem, os cabelos castanhos escuros desgranhados, a pele mais pálida do que o normal, a blusa levantada exibiam a minha barriga e minhas mãos trêmulas que estavam sobre ela.

Outra batida na porta me fez secar os olhos e abaixar a blusa, enquanto respirava fundo.

- Anna? Querida, você está bem? - A voz da minha mãe ecoou através da porta. A pergunta me pareceu idiota, como eu poderia estar bem?

  Não respondi, não fui capaz de emitir um único som, era como se minha voz tivesse se perdido assim como a minha esperança. Olhamos todos os lugares da casa, reviramos cada livro, lemos cada papel, mas nada, nenhuma pista, nenhum papel, nada que nos ligasse a carta foi encontrado.

  Outra batida na porta, mais fraca que as outras.

- Anna, o que está acontecendo? - Sua voz estava fraca.

  Eu queria responde-la, queria ser capaz de levantar e abrir a porta, mas meu corpo era incapaz de me obedecer. Eu estava ali sentada no chão do banheiro, olhando fixamente os azulejos brancos.

- Querida, vamos continuar a procurar, não podemos desistir agora. Você precisa ser forte.

  "Você precisa ser forte" essa era a frase que eu mais ouvi em toda minha vida, eu precisava ser forte quando meu pai ficou doente, eu precisava ser forte quando Margo nasceu, eu precisava ser forte quando minha mãe entrou dentro do quarto e se recusava a sair, abatida por uma depressão. Eu precisei ser forte aos quinze anos, porque precisava cuidar de uma recém nascida e de um pai doente, eu precisei ser forte quando abandonei a escola e começei a trabalhar em um bar. Eu sempre precisei ser forte, mas eu era feita de fraquezas, de lágrimas contidas , de palavras nunca ditas. Eu era uma pessoa fraca com uma máscara de fortaleza.

  Houve outra batida na porta, e dessa vez uma voz grossa e aveludada ecoou pelo ambiente.

- Anna, por favor. - Ele tinha a chave, ele poderia abrir a porta mas esperou pela minha resposta, mas não houve nenhuma.

  Um longo suspiro e logo depois um clique. Meus olhos passaram dos azulejos e se fixaram em seu rosto, que agora continha olheiras e uma aparência cansada.

  Ele não falou nada, apenas se aproximou e me envolveu com seus braços e isso foi o suficiente para que as lágrimas começassem a rolar.

  Eu queria ser forte, eu precisava ser. Mas eu me sentia tão impotente, como se eu não pudesse fazer nada para salvar a vida do meu pontinho.

  Quanta dor uma pessoa é capaz de suportar?

   Eu sofri com a doença do meu pai, sofri quando a comida se tornou escassa e os remédios caros demais. Parece que a parti dos meus quinze anos a minha vida foi uma sucessão de sofrimentos constantes. Mas nada me prepararia para aquela dor. A dor de perder um filho que eu nem conhecia mas já amava incondicionalmente, nada seria tão doloroso quanto perde-lo.

  Quanta dor uma pessoa é capaz de suportar?

   Seus braços me apertavam, e as lágrimas gradativamente cessavam.

- Desculpe, eu sei que não deveria estar agindo assim, mas...- Ele me interrompeu.

- Shhhh. Anna ouça bem, eu sei que você está sofrendo, nós dois estamos. Você não precisa ser forte o tempo todo, ninguém é. - Sorri, porque aquilo sempre foi o que eu queria ouvir. Eu precisava de menos pessoas me dizendo para não chorar porque eu precisava ser forte, e mais pessoas me abraçando e deixando que eu chorasse porque entendiam e compreendiam a minha fraqueza.

- Obrigada. - Falei sorrindo.

- Por que? - Ele perguntou confuso.

- Só obrigada.

  Ele sorriu, nós dois sorrimos. Até que sua testa franziu.

- O que foi?

  Ele parecia estar em uma luta interna, ponderando se me contava ou não. Até que depois de um longo suspiro ele pareceu ter decidido.

- Eu fui lá na casa onde estávamos. E bem, ela parecia diferente. - Procurei por seus olhos mas eles estavam opacos, vazios.

- Como diferente? - Minha voz estava falha, e uma sensação de mau agouro surgiu em meu estômago.

- Não sei explicar, mas parecia que alguém esteve lá. - Meu coração parou, minha respiração ficou presa em meus pulmões eu sentia que estava prestes a desmaiar.

- Eu preciso ir lá. - Ele me olhou assustado, balançando veemente a cabeça em negativa.

- Não, é perigoso.

- Por favor, eu preciso. Henrique, por favor. - Eu precisava ver, comprovar.

Por fim ele vez um movimento afirmativo, enquanto me ajudava a levantar.

Minha mãe batia os pés no chão e torcia a mão nervosa. Ela estava tão diferente desde a última vez que à havia visto. Seus cabelos loiros sempre perfeitamente arrumados, agora estavam sem brilhos e com um coque, que ela antes abominava completamente, as unhas sempre mediculosamente perfeitas, agora estavam sempre por fazer. Sua aparência sempre parecia esgotada. A verdade era que minha mãe era agora apenas a sombra da mulher que ela era antes.

- Ah Anna, graças a Deus você saiu. Está tudo bem? - Ela olhava meu rosto procurando algum vestígio de fraqueza.

- Estou sim, mas eu e Henrique precisamos sair. - Ela assentiu e soltou um longo suspiro.

- Caius ligou, também preciso ir. - Eu sabia o que aquilo significa, papai não estava bem.

- Vo pedir que George a leve.

  Minha mãe passou pela porta, cruzou o que antes era um jardim e seguiu até o carro.

- MÃE! - gritei antes que ela entrasse no carro. Ela se virou esperando o que eu tinha a falar.

- Amo vocês! - Ela sorriu e então se virou e foi embora.

  Henrique tinha razão, a casa estava diferente, os móveis bagunçados, os livros fora do lugar, até o cheiro parecia diferente. Segui até o quarto que agora sabia que pertenceu a Eleanor, e mais uma vez uma sensação de horror me atingiu, não consegui ficar muito tempo ali.

Logo segui para o quarto ao lado,repleto de colchas floridas. Assim que toquei a maçaneta meu coração se apertou, tentei controlar a respiração enquanto girava a maçaneta.

  Era o cômodo mais devastado da casa, a colcha estava no chão juntamente com as roupas. Os pequenos macacões, os vestidos, os meus exames, tudo jogado no chão. Olhei debaixo da cama, tentando encontrar a caixa que antes estava ali, mas não a encontrei. Porém o que vi debaixo da cama foi tão horripilante que me fez gritar. Henrique me olhou assustado e quando pegou em sua mão o objeto debaixo da cama, o soltou imediatamente, completamente apavorado. Nós dois sabíamos o que aquilo significava.

  Eles iriam nos encontrar e não demoraria muito.

Mais uma vez a sensação de mau agouro me atingiu, juntamente com uma dor no coração. E quando olhei novamente a foto da minha ultrassonografia com um punhal enviado no meio dela, fiquei zonza e logo depois não vi mais nada.

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