Capítulo 58

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  As folhas começavam a se desprender das árvores, era o início de setembro, marcado pelo outono, a estação preferida do meu pai. Ele sempre dizia que era como um novo começo, enquanto as folhas caíam dá árvore para se tornarem ainda mais vistosas, nós também deveríamos nos desprender de tudo aquilo que nos torna "feios" e embelezar o nosso coração, ser pessoas melhores.

"O outono vem para nos lembrar que devemos nos desprender das coisas sem importância, e embelezar nossa alma. Porque é nela querida que se esconde a verdadeira beleza"

  Toquei meu ventre por cima do vestido rosa, agora estava no final da trigésima oitava semana, haviam se passado três meses que estávamos na casa de Miguel. Foram os meses mais longos da minha vida, apesar de alguns momentos felizes eles foram esquecidos quando percebemos que o tempo estava passando e não tínhamos nada, a não ser uma maldita frase. Henrique leu todos os livros que poderia ler, procurou em cada canto que poderia procurar mas não encontramos nada. Suspirei me virando para Henrique, ele estava deitado, as mãos próximas ao rosto, o joelho dobrado em uma posição que parecia desconfortável, ele agora possuía olheiras e seus olhos sempre estavam vermelhos e inchados.

Ontem ele decidiu que visitaria o palácio, falaria com seu pai para ver se conseguia achar alguma coisa, por mais que eu dize-se que aquilo não parecia uma boa ideia, que era arriscado de mais, ele estava irreversível em sua decisão. E agora eu estava acordada as cinco da manhã com meus pelos da nuca eriçados e um frio que subia por minha espinha, além da sensação insuportável que parecia queimar meu peito.

  Senti o bebê se mexer, dês de ontem  ela estava muito agitada e hoje parecia pior. Toquei meu ventre e o acariciei em movimentos circulares, comecei a sussurrar uma música que meu pai cantava todo outono:

" Se é sempre outono o rir das primaveras
  Castelos, um a um, deixa- os cair...
  Que a vida é um constante derruir
  De palácios do Reino das Quimeras!

  E deixa sobre as ruínas crescer Heras.
   Deixa-los beijar as pedras e florir!
   Que a vida é um contínuo destruir
   De palácios do Reino de Quimeras!

    Deixa tombar meus rútilos castelos!
    Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
      Mais altos do que as águias pelo ar! "

  O bebê aos poucos se acalmou, sorri ao imaginar como seria a minha menininha, agora faltava pouco, pelo que aprendi a partir das trigésima oitava semana o bebê poderia nascer a qualquer momento.

   Será que ela teria os olhos do pai? E o cabelo? Como seria seu nariz? Ou sua boca?

- Já está acordada? - A voz aveludada soou pelo quarto.

- Não consegui dormir, como poderia? - Ele tocou meus ombros e me virou, encarei seus olhos.

- Sei que está preocupada, mas precisamos ter fé, vamos dar um jeito. - Desviou os olhos e mirei o chão, minhas mãos tremiam quando pousaram em minha barriga. Como eu poderia ter fé? Como poderia ainda restar alguma quando sentia a vida de minha menina se esvaiar de minhas mãos.

- Você acredita nas suas próprias palavras? Ou só está falando isso para me confortar? - Dessa vez foi a sua vez de desviar o olhar, ele não me respondeu apenas torceu as mãos uma nas outras, o olhar fixo em um ponto na parede. - Já tenho a minha resposta.

    Seus olhos cheios de pesar se fixaram nos meus.

- Eu tenho medo de perde-la, medo de perder vocês duas, eu...- Sua voz morreu, e lágrimas começaram a cair sobre seu rosto, senti o meu próprio rosto ficar molhado.

Grávida de um príncipe Onde histórias criam vida. Descubra agora