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Liv sentiu o corpo inteiro estremecer até a alma quando saiu pelas portas duplas do consultório do Dr. Young, deixando-o para trás e caminhando para a rua, ainda tentando absorver tudo o que o médico dissera. Depois da bateria de exames pela qual ela passou, Liv se sentou na mesma cadeira que se sentara quando trouxe sua mãe ao Oncologista pela primeira vez e teve de ouvir que Sarah estava morrendo.
Mesmo assim, um ano e meio depois de tudo que aconteceu, ela ouviu o que o Dr. Young disse atenta e avidamente, gravando cada palavra. Sabia que mesmo se tentasse, jamais as esqueceria, assim como seria impossível esquecer o pesar sincero no olhar do médico, ao mesmo tempo que surpreso.
Eu sinto muito, Liv, ter que te dar essa notícia... Estou realmente chocado, porque você parece muito saudável apesar do raio x mostrar que o câncer está muito avançado. É raro, mas mortal. Eu aconselharia uma internação imediata de acordo com os seus exames, mas preciso ser sincero: a cirurgia te mataria... E a quimioterapia ajudaria muito pouco. De novo, eu sinto muitíssimo, Liv.
Ela guardou os ditos exames na bolsa e se recusou a derramar uma lágrima sequer. Andou a esmo pelas ruas de Londres, sem ter realmente um destino determinado. Virou a esquina e subiu a rua, andando em direção a Putney Brigde, passando pelo parque. Como sempre, Londres estava nublada, fazendo as águas do Tâmisa parecerem ainda mais escuras e especialmente tristes.
Liv se apoiou no batente na ponte e suspirou, pondo a mente para trabalhar. Ela precisava pensar no que fazer... Se é que ela poderia fazer algo quanto a um câncer silencioso que já reivindicara para si boa parte do seu pulmão, sem falar nos tumores em seu cérebro – sim, no plural mesmo. Três no total, ainda pequenos, mas logo cresceriam e tomariam a forma de uma bola de tênis.
O que Liv e a mãe fizeram quando descobriram sobre o câncer dela? Procuraram reverter a situação, fizeram todo e qualquer tratamento existente que pudesse salvá-la, e, no final, Sarah estava terrivelmente debilitada, presa a uma cama de hospital, literalmente esperando a hora da morte. Nada que tentaram adiantou. Nada.
A mãe de Liv nunca disse as palavras, mas ela nunca precisou. Liv sabia que Sarah se arrependia, preferia ter aproveitado seu pouco tempo de vida em outro lugar que não fosse um hospital cinzento e depressivo, preferia ter assistido os filmes que nunca assistiu, experimentar comidas novas, sensações novas... Era isso!
