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    Era primavera, e apesar de estar bem agasalhada, ela podia sentir o vento gelado que circundava a floresta contra seu rosto, bagunçando seu cabelo e fazendo-a estremecer. Liv não tinha ao menos se acostumado com o clima da Noruega, definitivamente ainda não estava preparada para o clima da Suécia.

 Ela parou de andar por um breve momento e olhou para cima, mirando as copas das finas e altas árvores que a circundavam. Era lindo e até mesmo relaxante se você pudesse simplesmente concentrar-se nelas, no farfalhar das folhas, no zumbido das conversas distantes... A sensação era quase mágica. Uma floresta praticamente intocada pelo homem, uma mata virgem. Da época que Liv veio isso era tão raro, a natureza não parecia quase como uma presença onipresente como parecia ali. Mesmo assim, ela preferiria mil vezes estar em seu século.

Liv apertou o casaco contra o próprio corpo e seguiu Rollo pela trilha até a sua tenda, já estava ficando para trás parada no meio da floresta e devaneando. O nórdico andava na frente, sem se importar se a inglesa estava seguindo-o ou não. Ele soltou-a e deixou-a andar sozinha assim que se afastaram o suficiente da tenda do Rei, depois saiu andando sem dizer mais uma palavra.


É claro, ela pensou, se eu tentar fugir Rollo simplesmente vai me acertar com algo na cabeça e me incapacitar. Nem vale a pena tentar.

Sentindo-se injustiçada e com raiva de Loki por ter tirado aquele raio do seu caminho original e por tê-lo feito acertá-la, ela seguiu Rollo pisando duro e praguejando internamente.
Maldito Loki, deus trapaceiro, maldito futuro Duque da Normandia, maldito Rei, maldito Conde... Malditos todos eles!

 – Você sabe quais são as suas obrigações agora, não sabe? – Rollo perguntou à sua escrava ao passar pela fenda em V invertido que formava a entrada de sua tenda. Ele se sentia muito mais confortável ali – onde tinha privacidade –, do que lá fora, sendo refém dos olhos curiosos e das bocas venenosas.

Rollo amava o seu povo, é claro, mas eles podiam ser tão traiçoeiros quanto uma cobra se assim quisessem. Vingança era tradição, vingança contra um inglês era melhor ainda, virava uma satisfação.

 Apesar de Brynja ter razão sobre Liv ser só uma mulher inocente, não era assim que ele e os outros a viam. Existia muito ressentimento entre os nórdicos e ingleses, muitos parentes perdidos, sangue derramado... Era difícil superar o trauma, a dor da perda, era difícil conviver com o buraco no peito, a culpa, as memórias boas e ruins, a saudade dos seus entes queridos que morreram batalhando em solo inglês. Rollo não poderia culpar ninguém por se ressentir com a presença de Lívia, mas não poderia ser um hipócrita e isentar seu povo de toda a culpa. A princípio, os reinos da Inglaterra estavam apenas se defendendo das invasões dos "homens do norte", protegendo suas riquezas e suas próprias vidas.

A verdadeira guerra começou bem depois. E foi quando o pai de Rollo – que era apenas um simples agricultor com sua pequena fazenda, e, mesmo assim acompanhou Jarl Argus na viagem, como muitos outros –, morreu pela lâmina de um príncipe anglo-saxão.

 Foi ideia de Brynja voltar à Inglaterra, cinco anos atrás, depois de quase uma década sem ninguém em Skiringssal sugerisse isso. Jarl Argus tinha liderado a última pilhagem, mas depois da batalha onde o pai de Rollo e muitos outros morreram, ele se fechou para o assunto. Perder tantos homens e deixar tantos filhos órfãos e esposas viúvas o afetou profundamente. Brynja precisou ser muito astuta e inteligente para convencer o pai a deixá-la ir, assim como precisou de um bom discurso para convencer os guerreiros a lutar pela sua causa. Ela era uma líder perfeita, e conseguiu reunir mais de quinhentos homens para acompanhá-la.

Imortais - O segredo dos deusesOnde histórias criam vida. Descubra agora