Ela correu porque sentiu que deveria.Foi um instinto sombrio que veio do fundo das suas entranhas. Uma parte dela entendia que o deus do trovão seria capaz de tudo, e essa mesma parte também pressentia que ele não a pouparia, se fosse necessário.
Era uma sensação estranha, saber exatamente do que ele era capaz, sem nunca se quer tê-lo conhecido de verdade. Mas o que Thor poderia querer dela?
Por situações passadas, Liv sabia que quando um deus vem até você, certamente ele precisa de algo. Agora ela entendia todo o receio de Celíope em se envolver com os deuses — esses encontros com as divindades sempre lhes custavam alguma coisa precioso.
Ela não quis nem ao menos começar a imaginar o que Thor a custaria.
E Liv sabia que não poderia fugir do deus para sempre, mas se contentou em pelo menos atraí-lo para longe de Kal e para longe da batalha, onde as distrações eram maiores.
O campo de batalha não era a melhor das paisagens, e Liv não se permitiu analisá-lo muito enquanto corria e desviava dos corpos. E eram tantos corpos, tanto sangue, tantos rostos vazios e sem vida encarando-a... Olhou para trás, e Thor ainda seguia seu encalço.
Ele não parecia preocupado, como se soubesse tanto quanto ela que a alcançaria. Fugir era inútil. A mulher engoliu o desespero e desapareceu floresta à dentro.
Na verdade, o que Liv mais temia era ficar tão enfeitiçada na presença dele que não conseguisse trazer Rollo de volta, ou ao menos se lembrar de que precisava fazer isso. Ela ainda estava cansada, doente e ferida, não tinha força psicológica ou física para resistir ao deus do trovão se fosse necessário. Se ele tinha vencido Rollo, e tomado o controle de seu corpo, não havia garantia nenhuma que não faria o mesmo com ela.
Liv foi cortando o caminho entre a floresta sinuosa, seguindo o curso do rio, até esse acabar em uma grande queda-d'água, rodeada de árvores, flores silvestres e uma grama verde que brilhava ao sol. O lugar era lindo, como se o inverno não tivesse chegado ali ainda. Quase impossível de se imaginar que apenas alguns metros mais à frente uma batalha violenta acontecia.
Liv respirou fundo, procurando absorver um pouco da calmaria do lugar para si mesma. Iria precisar de sangue frio para aquele encontro.
Poucos segundos depois de parar ao sol, ela ouviu os passos dele atrás de si. A presença do deus fez seu estômago contorcer de medo, mas foi impossível não virar na sua direção para olhá-lo.
Era irresistível.
Thor deu um passo para fora da sombra da floresta, observando-a feito uma águia.
Inicialmente, ele não se aproximou, como se tivesse medo de assustá-la. Esperou por alguma reação da mulher, mas Liv permaneceu parada, o coração latejando na cabeça.
Não pretendia mais fugir.
O momento pareceu durar uma eternidade, e a expressão no rosto dele — no rosto de Rollo — era indecifrável. Seus olhos eram a única coisa fácil de se ler do conjunto: eram olhos de um caçador, e mesmo assim ela não sabia ao certo o que esperar dele.
— Eu aguardei tanto tempo por este momento. Estava ansioso para conhecê-la — disse ele, e sua voz causou um arrepio violento na pele de Liv.
A voz era gutural e lacônica, mas poderosa.
O medo de Liv instantaneamente desapareceu. Seus pés se moveram por conta própria, e ela andou na direção dele quase sem perceber, completamente fascinada, tomada por aquele reconhecimento raro e atordoante que ofuscava qualquer receio que ela tinha em relação à Thor, e fazia sua pele inteira formigar. A sensação só intensificou quando apenas um passo de distância os separavam.
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Imortais - O segredo dos deuses
FantasyPLÁGIO É CRIME - Todos os direitos reservados a Maria Augusta Andrade © Não autorizo qualquer reprodução ou uso do conteúdo desse livro. Tentativas de plágio serão denunciadas, como já foram antes. ❝ A tragédia e a morte são duas amigas que andam j...