Brynja pensou em muitas maneiras de se despedir do seu pai, mas nenhuma delas lhe pareceu realmente apropriada ou digna do homem que ele fora. Além disso, nenhuma palavra que dissesse seria capaz de transpor a dor maçante que assolava o seu peito. Ela mesma não conseguia explicar como conseguia respirar tranquilamente quando sentia-se arder em chamas por dentro.A cerimônia fúnebre era apenas um borrão em sua mente agora que tinha acabado, e ver o Conde finalmente descansar em cinzas a fez suspirar aliviada. Ela escolhera o lugar perfeito para enterrar o pó que sobrara na pira funerária.
Ficava na colina mais próxima da cidade, de onde ele poderia vê-la para sempre, observar Skiringuissal progredir e zelar por seu povo. A pedra redonda enterrada na terra marcava o local como o lugar de descanso do Conde. Ela ficou ali, parada, até sentir as pernas dormentes, adiando sua ida para a próxima cerimônia.
Não queria deixá-lo ainda, não se sentia preparada. O Conde e ela sempre foram bons em longos silêncios que nunca se tornavam constrangedores, e se Brynja fechasse os olhos, poderia imaginar que estavam em um desses momentos agora, poderia fingir que seu pai estava ali novamente.
Brynja saboreou cada instante daquele último momento com o Conde. Suas irmãs já tinham ido embora há muito, todas com olhos inchados de tanto chorar e as cabeças baixas. Não era justo que perdessem os pais tão novas, simplesmente não era justo. E isso a deixava frustrada, desejava concentrar sua raiva em alguém que pudesse culpar, mas a quem culparia, aos deuses? Não se sentia tentada a desafiá-los, apesar do sentimento de injustiça acumulado em seu peito lhe dar vontade de esbravejar aos céus.
Sabendo que aquela era uma luta perdida, Brynja suspirou e mirou o céu azul sem nuvens. O vento era frio, apesar do ar estar decididamente mais quente, pelo menos durante o dia. Uma mudança sutil, mas já era alguma coisa.
Ela voltou-se para a cidade, parecendo tão pacífica e quieta ao longe. Riu sem humor, pois só os deuses sabiam que Skiringuissal se encontrava tudo menos pacífica. E jamais estaria, não com a Rainha ainda rondando o salão, o julgamento de Erik se aproximando e a cerimônia que faria de Brynja a legítima líder da cidade prestes a acontecer. Tudo que ela precisava fazer é descer a colina, porque tinha certeza que, pelo movimento na entrada do salão, todos já estavam prontos e esperando por ela.
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Imortais - O segredo dos deuses
FantasyPLÁGIO É CRIME - Todos os direitos reservados a Maria Augusta Andrade © Não autorizo qualquer reprodução ou uso do conteúdo desse livro. Tentativas de plágio serão denunciadas, como já foram antes. ❝ A tragédia e a morte são duas amigas que andam j...