(31), parte III

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Poderia ser pior, Liv pensou. Eu já o vi mais irritado que isso antes.

Rollo estava sentado do outro lado do cômodo, o mais longe possível da inglesa, completamente sério, evitando contato visual como se Lívia não estivesse ali, enquanto remoía tudo que ela tinha dito.

Liv esperou pacientemente em silêncio. Já tinham gritado e discutido o suficiente. Não queria recomeçar tudo de novo.

A inglesa sabia que o problema não era ter se encontrado com Myslein — pelo menos não o problema principal, o pior deles. Rollo não confiava nem um pouco no árabe e nas suas intenções. O problema, definitivamente, era ela ter bebido e comido de tudo que o homem lhe ofereceu.

Imprudente. Como você pôde ser tão imprudente? — Ele tinha murmurado, sem acreditar. — Confiar em Myslein? Não. Não, Liv. Eu o conheço. Se Myslein quer intervir... Não pode ser por livre e espontânea bondade do seu coração.

— Rollo... Se você ao menos me escutasse...

Mas demorou para que ele resolvesse finalmente escutá-la. Para entender que o risco tinha valido à pena, que ela e Myslein tinham provavelmente achado uma saída viável para Skiringuissal.

Iriam tirar a cidade das cinzas e do caos, a cidade que Brynja tanto amava e que tinha, de certa forma, morrido por ela.

— Você tem certeza, Liv? Tem certeza que é uma boa ideia? Não ao plano, me refiro a deixar que Myslein faça parte disso — Rollo finalmente se pronunciou, acabando com o silêncio.

Ela já estava esperando pela incredulidade da parte do viking.

— Myslein negocia pessoas como se fossem propriedade. Sabe o que penso sobre isso — Ela se levantou. — Eu não confio nele, confio nos meus instintos de que, ao menos dessa vez, o objetivo dele é o mesmo que o nosso.

— Salvar Skiringuissal — ele complementou.

— Mas vem com um preço, é claro.

— O árabe quer um lugar no Conselho — Rollo se remexeu na cadeira. A ideia não lhe agradava.

Myslein era um oportunista, e um bem inteligente. Entregar na sua mão uma posição privilegiada onde pudesse exercer o mínimo de influência que fosse, já era perigoso.

Quando chegou das terras do Oeste, não tinha nada, era um pobre condenado. Foi a sua esperteza e ganancia que o tinham feito chegar onde ele tinha chegado. Não era muito melhor que Erik.

— Talvez seja a nossa única saída — Liv caminhou até Rollo e se sentou no colo dele, passando os dedos pelos cabelos castanhos do homem. O toque suave dela pareceu acalmá-lo. — Mas você o conhece melhor que eu. Se o risco não valer a pena... Acharemos outro jeito. Talvez, você...

— Não — ele discordou, balançando a cabeça. Abraçou-a, repousando a cabeça no peito dela. — Não posso. Não nasci pra governar, Liv.

Ela sentiu um aperto no peito e tentou sufocá-lo antes que Rollo percebesse.

Duque da Normandia. Ele não fazia ideia do grande pedaço de terra que um dia seria sua responsabilidade. Se ela ao menos pudesse contar...

— Eu não confio em Myslein — Ele decretou, mas sua voz logo se suavizou. — Porém eu confio em você. Confio nos seus instintos.

Ela sorriu.

Imortais - O segredo dos deusesOnde histórias criam vida. Descubra agora