Imortais - O segredo dos deuses

18.

    No caminho de volta para a cidade, Rollo andou em um ritmo devagar quase que inconscientemente. Não menos de cinco minutos depois começou a sentir um calor inexplicável.

Tirou a pele de cima dos ombros em um movimento brusco e abriu a própria blusa em um gesto irritado. Encarou o próprio peito e sentiu sua garganta secar, o calor aumentar. Suas cicatriz continuavam as mesmas, mas Rollo ainda podia sentir na pele a pressão leve do toque de Liv, como se ainda estivesse ali, percorrendo o caminho na sua cicatriz com a ponta do dedo.

Ele não queria admitir para si mesmo, mas aquele gesto o impactou em todos os sentidos possíveis. Ninguém nunca, jamais, tinha tocado uma das suas cicatrizes antes. E fazia muito tempo que uma mulher não se aventurava tão perto. Era desesperador pensar o quão próximo ele tinha ficado da inglesa.

Rollo balançou a cabeça e xingou a si mesmo por se quer permitir que seus pensamentos fossem por esse sentido. Ele se aprumou e ergueu a cabeça, andando mais rápido, tentando fugir da própria e traiçoeira mente. 

Estava começando a escurecer quando ele alcançou o salão, o céu do verão exibia aquela cor avermelhada misturada com lilás, enquanto nuvens estriadas se esticavam de maneira quase preguiçosa sobre Skiringuissal. A tempestade que Rollo tinha certeza de ter identificado corretamente sumira dos céus.

 O viking pôde ouvir o barulho da festa a metros de distância, assim como constatar que os homens perambulando pela cidade segurando chifres com hidromel estavam em sua maioria embriagados.

Rollo tinha perdido o começo da cerimônia, mas passou pelo arco da entrada do salão no exato momento em que um cavalo negro estava prestes a ser sacrificado. Ele parou ali e analisou o local. Uma pequena multidão se formava em volta, enquanto a batida rítmica do tambor entoava e dava um ar místico a cena. Sob a luz laranja do fogo no centro do salão, encontrava-se a Rainha, seu cabelo iluminado pelas chamas pareciam estar pegando fogo quando ela se mexia. Usava um vestido verde que delineava bem as suas curvas, especialmente o quadril. Ao redor do pescoço e pulsos ostentava joias de brilho intenso e que reluziam, fazendo da mulher um verdadeiro holofote. Com seu andar gracioso, Ebbe mantinha para si uma plateia quase hipnotizada.

 Rollo andou por entre as pessoas de cabeça baixa e parou perto de uma tapeçaria que o Conde de Skiringuissal tinha roubado de comerciantes do Oriente.

Enquanto a mulher do Rei guiava o sacrifício, Brynja estava sentada no trono, tentando não parecer cansada e impaciente, os cabelos soltos escorrendo até a cintura, preso apenas em uma mecha lateral por fio de seda vermelho. Diferente da rainha, Brynja não usava nenhum vestido bonito, apenas sua roupa de lã azul e por cima dele uma armadura simples feita de cotas de ferro. Ela tamborilava os dedos no apoio da cadeira e franzia o lábios numa linha dura de desgosto: algo claramente a incomodava tanto ao ponto da atração principal no meio do salão passar despercebido pela sua atenção.

 Rollo seguiu o olhar da amiga e encontrou Erik sentado à grande mesa, comendo, bebendo e rindo normalmente. Quando retornou o seu olhar para Brynja, a filha do Conde também o encarava, a sobrancelha erguida, como que exigindo saber onde ele estivera durante aquelas horas. Rollo apenas inclinou a cabeça e esperou que ela entendesse o recado: Conversaremos depois.

Brynja bufou e se deixou cair no recosto do seu trono. Era extremamente enfadonho não poder saber o que estava acontecendo e ficar ali para entreter a Rainha. Seria mal educado da sua parte deixá-la depois de preparar aquela festa tão rápida em homenagem ao seu pai.

 A mulher do Rei parou de entoar a canção e se aproximou do cavalo negro. Como que pressentindo seu destino, o animal bateu os cascos e andou para trás. Ebbe o segurou pelo cabresto, falando palavras que o acalmassem. Ergueu a mão e acariciou-o, depois o trouxe para perto e encostou a testa na dele, sempre usando da sua voz lenta para manter o cavalo sobre controle.