Ouroboros | Taekook

3. Visitante

Como prometido ontem, o garoto apareceu em seu quarto em exatas sete da noite. Taehyung notou que além do brilho em seus olhos - diferente da primeira vez em que o viu no dia em que chegaste - ele não usava roupas pretas, diferente de ontem quando o viu no corredor - duas vezes ao mesmo tempo.

Sentou na beirada de sua cama e o encarou por alguns segundos, constrangido, Tae se encolheu um pouco. Estranhamente, tudo que via naquele olhar era pena.

- Ainda não sei seu nome. - Tae quebra o silêncio. - Cansei de pensar em você como o garoto de cabelos e olhos negros.

- Eu me chamo Jungkook - Tae notou uma suavidade em seus movimentos, ele parecia não se preocupar com eles. - Não precisa me dizer o seu, eu já sei.

Tae pensou em perguntar como ele sabia, mas não o fez, a família dele o trouxe para essa mansão, ele provavelmente sabia, isso era um fato.

- Por que eu estou aqui? Quem são vocês? - Tae pergunta com certo receio, mesmo tendo a sensação de que poderia confiar no garoto em sua frente.

- Você está aqui por uma dívida que seus pais tinham com os meus, somos uma família poderosa, meus pais encobriram o assassinato de seus pais e você é tudo que eles deixaram para quitar a dívida. - Jungkook olha para baixo, como se estivesse envergonhado. - Seus pais deviam uma quantia de dinheiro enorme aos meus.

- E ninguém está procurando por mim? Eu tenho tios, primos... - Ele parou, pensou se algo tivesse acontecido com eles.

- Para o resto do mundo você também está morto. - Tae sente como se estivesse caindo de um precipício onde ninguém pudesse segura-lo. - Agora você será o brinquedinho favorito dele...

- Brinquedo? De quem? - Suas mãos tremem, o que ele queria dizer com aquilo.

- Taehyung, as vezes pode parecer que eu estou aqui, mas eu não estou. - Seus olhos se fecham. - Não se preocupe, ele não vai te machucar. - E os abre novamente.

- Eu não quero ficar aqui, eu quero ir para casa. - Lágrimas saem dos olhos de Tae, seus olhos estavam vermelhos de tanto serem esfregados.

- Quando ele se cansar de você, poderá ir para casa. - Ele aperta as mãos em punho. - Desculpe, não consegui convencer meus pais.

- Como eles conseguem ser tão frios e perversos? - Tae sente um calafrio, pensa em seus irmãos correndo pelo jardim, pegando flores rosas e roxas e lhe entregando, sorrindo.

- Ele é muito pior. - Jungkook esfrega o rosto com sua mãos pálidas.

- Ele? Pare de falar como se ele fosse algo inimaginável, me diga quem ele é! - Tae agarra seu casaco largo e branco e roça seus dedos por ele, aquilo acalmava seus nervos.

- As roupas que ele lhe deu te caíram bem. - Jungkook diz observando a mão de Tae roçar em sua camisa.

- Cadê o meu jantar? - Tae pergunta, só agora tinha percebido que ele aparecera no lugar da empregada.

- Eu atrasei Dorotea um pouco, ela deve estar chegando. - Os dois se olham apenas por um instante até Jung desviar o olhar. - Tenho que ir. - Ele se levanta e sai pela porta sem olhar para trás.

Ao ficar sozinho, Tae nota que mesmo em perfeito estado, o quarto já teria pertencido a outra pessoa. A porta do closet estava desgastada e sua cama aparentava ter alguns anos. Ele sente que precisa saber mais sobre ele e começa a bisbilhotar o closet em busca de algo mais que roupas, remexe dentro da cabeceira, verifica a parede em busca de algum esconderijo e finalmente olha embaixo de sua cama. Uma caixinha dourada estava escondida na escuridão, cuidadosamente para que ninguém que fosse limpar á visse. Ele estica o braço para pega-la e depois se levanta e senta na cama olhando fixamente para os detalhes da pequena caixinha.

Ele nunca fora curioso, mas aquilo despertou algo dentro dele e ao abrir a caixa se deparou com uma carta de papel amarelado dobrada cuidadosamente.

Chegou a hora de ler.