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Ela me olha com os olhos tão atentos, do outro lado da sala seu corpo demonstra inquietude.
- Por favor, por favor, Wendie, você nem está fazendo nada importante – ela então rasteja em minha direção e com toda a calmaria do mundo afasta o laptop do meu colo, o computador que eu usava para pesquisar coisas importantes da faculdade...
Eric, do outro lado da sala, observava sem dizer uma única palavra a maneira como Sammy parecia a cada segundo mais e mais sedenta.
Ela queria finalmente conhecer meus "outros amigos", o restante do grupo, e não parecia pensar em qualquer outra alternativa que não fosse a de irmos agora, nesse instante, sem esperar qualquer segundo mesmo após eu ter repetido em incontáveis maneiras diferentes que eles são pessoas ocupadas, provavelmente estavam treinando, provavelmente não estavam em casa, estariam no estúdio ou na academia...
Eu reviro os olhos e respiro pesadamente enquanto me coloco de pé, deveria acabar logo com isso, deveria simplesmente ceder ás suas vontades antes que enlouquecesse com sua chatice persistente, poderíamos dar com a cara na porta e isso seria interessante, poder esboçar o sorriso do "eu te disse..."
- Tá bom, tá bom... Eu te levo, mas tem que ser rápido.
- Wendy, é sábado, eu sei que eles são celebridades, que treinam muito e muito, mas eu também sei que acima da condição de idols eles são seres humanos e a escravidão tem limites em algumas empresas – ela nem ao menos pestaneja enquanto me puxa do sofá, enquanto Eric se levanta ao mesmo tempo, revira os olhos da mesma forma que eu.
- Você entende que não é bem assim que funciona...
Ela entendia até mesmo melhor do que eu, seu pai era fundador de uma grande empresa dessas que escravizam jovens talentosos e ela sempre conviveu em meio a toda essa confusão e glamour, uma das razões pela qual sempre desejou tanto debutar e pela qual seu pai sempre impediu que ela tivesse uma chance.
- Você mesma disse que eles já são tão reconhecidos ao redor do mundo... – Ela dizia como se isso implicasse que eles teriam mais tempo livre, de certa forma poderia ser assim, mas mais fama também significava que eles iriam se esforçar e treinar mais e mais mesmo que tivessem mais tempo livre e mais oportunidades de viverem normalmente, ao mesmo tempo tinham menos. Menos tempo, menos privacidade... Era tão bom quanto ruim, era uma vida tão agitada.
- Não é bem assim que funciona – eu repito enquanto atravessamos a porta de casa.
Eric estava parado quieto e imóvel ao nosso lado enquanto esperávamos o elevador chegar.
- Você vem junto? – Pergunto mecanicamente.
Eu não estava brava, sabia sua resposta, mas continuava a questionar... Eu não poderia permanecer brava, chateada, irritada por muito tempo, eu simplesmente deixava pra lá, seguia em frente e deixava os sentimentos passados no passado, não sou exatamente rancorosa, mas mesmo assim não queria demonstrar qualquer empolgação, mesmo que não estivesse brava isso não significava que eu deveria agir normalmente por enquanto. Talvez ele devesse ter esse tempo de indiferença para entender que não pode simplesmente insultar pessoas que são importantes para mim sem que eu revide de alguma forma...
Ele não responde, parece muito perdido em seus pensamentos... Uso esse curto tempo para me questionar o que estaria acontecendo se Eric não tivesse sido tão idiota naquele pub, naquela noite. Provavelmente estaria se juntando a nós, ele sempre demonstrou interesse em meus interesses... Foi ele quem decidiu aprender a tocar guitarra apenas para se juntar a mim e ter mais coisas em comum, foi ele quem falhou e desistiu das aulas de piano depois que descobrimos ter o suficiente em comum.
É Eric quem permanece em silêncio enquanto espero uma resposta, poucos segundos, mas o suficiente para me fazer pensar em tantas coisas, o suficiente para Sammy o cutucar no braço e interrogar seu nome.
- Eric?
- Sim... – Ele responde distante.
- Você vem junto? – Sammy repete a pergunta.
- Não, eu preciso resolver umas coisas... – Ele continuava distante, sua mente provavelmente vagueava com assuntos da faculdade.
Esse seria seu penúltimo ano, e ele sempre foi tão dedicado em sua área que me questiono se agora estaria tendo problemas.
- A gente se vê mais tarde... – Ele sorri e segue para fora do elevador quando as portas se abrem.
- Até mais...
Ergo uma das sobrancelhas em direção a Sammy, ela entende a questão que paira.
- Não deve ser nada preocupante, você sabe como ele sempre levou os estudos tão a sério – ela responde minha pergunta muda, mas o sorriso em seus lábios é questionável.

V+ictoryOnde histórias criam vida. Descubra agora