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Eu não sou idiota.
Notei a maneira como Tae tentou me provocar durante toda a noite, notei a maneira como ele pareceu tão ansioso por atenção e notei como suas ações me trouxeram reações esperadas. Eu odiava quando ele agia como se precisasse provar algo... Imaginava que os minutos dentro de um carro com ele seriam os minutos que se arrastariam em horas, que me faria repensar tudo e tentar voltar no tempo.
E os minutos se arrastam, assim como o silêncio.
Não havia questões, dúvidas e inseguranças, não havia nada, apenas o silêncio, apenas a ausência de palavras e sons. Ele apenas dirigia, apenas mantinha ambas as mãos sob o volante, apenas olhava fixamente para qualquer direção que não fosse a minha... Seu silêncio me faz querer voltar no tempo, me faz desejar com tanto fervor ser capaz de ler seus pensamentos e entender o porquê desse silêncio, entender o porquê de ele não estar questionando, duvidando e demonstrando suas inseguranças.
Seu silêncio me grita, seu silêncio me retira a compostura.
- Eu sei que você colocou pimenta na comida do Eric.
Ele não reage, apenas continua, continua e continua enquanto eu apenas quero parar.
Parar o carro e sair, caminhar para longe desse silêncio. Parar essa sensação dentro de mim, esse calor de dentro que contrasta com a atmosfera gelada que Taehyung causa.
Estamos chegando.
- Por que quis me trazer em casa se iria ficar em silêncio durante todo o caminho?
Eu reviro os olhos, respiro fundo, tento afastar a vontade de entender o que se passa em seus pensamentos, tento afastar o calor de dentro. Uma angústia, ansiedade... Medo.
Ele não responde, não reage, apenas pressiona o volante e seus olhos parecem fuzilar a estrada a sua frente, os nós de seus dedos estão brancos e a linha de sua mandíbula está firme... Ele parece tentar se controlar.
Perca, Tae, perca esse controle, eu não posso mais aturar um segundo de tanta falsa calmaria.
- Obrigada por me trazer – abro a porta e é como se o ar frio da noite fosse muito mais reconfortante. Caminho para longe e é como se meus braços que se entrelaçam ao redor do meu corpo não estivessem tentando me aquecer, eles apenas estão ávidos a procura de conforto.
Droga...
Ele se aproxima de forma tão sutil, é discreto, é silencioso, eu apenas o noto quando vejo os dedos longos pressionarem o botão do elevador, eu apenas noto sua presença quando sinto a enorme jaqueta sob meus ombros, o silêncio que o seguia.
Eu odeio esse Taeheyung, essa ausência de palavras, essa seriedade contínua que dura muito mais do que alguns minutos, dura muito mais do que algumas músicas e alguns interlúdios, odeio a maneira como ele me olha enquanto e elevador lentamente sobe, enquanto a pressão lentamente cai. Arterial, dinâmica, atmosférica.
Ele me olha e eu quero gritar.
- Você não tem nenhum direito de ficar bravo... Tem noção do quão perigoso foi isso que você fez?
Ele continua em silêncio, e realmente quero gritar, eu sinto um aperto dentro de mim, um nó que não parece se desfazer, a ansiedade.
- Eric poderia ter alergia, poderia estar num hospital agora – fito seu reflexo no espelho.
E foram essas tão simples palavras que tiveram efeito, foram essas palavras que o fizeram engolir em seco, olhar para mim pelo reflexo do espelho e desenhar um fraco e sardônico sorriso no canto dos lábios.
- Até pouco tempo atrás eu não fazia a mínima ideia sobre sua alergia.
É isso, as drogas das palavras, são essas as suas primeiras palavras.
- Você só pode tá de brincadeira...
Acredito que tenho sido um pensamento reproduzido de forma audível, ele ergue as sobrancelhas e as portas do elevador se abrem.
- Por que você é assim? – estou imóvel e posso reparar em como sua face, até então sem expressão, lentamente se transforma em algo que ainda não posso intitular, sua respiração pesada em contraste com o ar rarefeito. - Eric me conhece a muito tempo, ele é meu amigo, é claro que sabe sobre minha alergia...
- Sim, ele é seu amigo! – O tom de sua voz está mais alto, mais grave, as veias em seu pescoço tão visíveis.
- Não começa com isso... – Reviro os olhos, a mão na maçaneta, pronta para abrir a porta, pronta para fecha-la em sua cara, para correr para longe, sentindo essa droga de desespero, sentindo como se as paredes ao meu redor estivessem se fechando, como se logo todo o oxigênio fosse tão inflamável, como se as palavras de Taehyung pudessem agir como faíscas, como se esse espaço fosse inabitável.
- Não começa você com isso – ele grita, ele finalmente dá adeus ao silêncio, seus olhos tão pequenos estão arregalados, sua postura sempre tão calma se torna... Irreconhecível.
- Até quando vai continuar com essa droga de "somos amigos"?
- Você quer que eu minta? Eric é meu amigo, apenas isso, a muito tempo...
- Eu to falando de nós dois, você e eu, Wendy.
- Boa noite! – Talvez minha voz esteja soando muito mais rude, ou talvez eu não esteja conseguindo demonstrar tão bem o quanto acho essa situação desnecessária, o quanto apenas quero sair daqui. Abro a porta, mas ele me segura, segura minhas mãos, me impede de fugir.
- Me solta, isso é ridículo...
- Não, eu não solto enquanto você não admitir, enquanto não me mostrar que realmente gosta de mim, enquanto não dizer com sinceridade que Eric é apenas um amigo e que ele vai continuar apenas isso, um amigo.
- Se você não confia em mim...
Ele toma a chave de minhas mãos, abre a porta e me puxa para dentro, talvez  devesse me soltar agora que estamos parados no corredor, mas ele não solta, e sinto o ódio em seus olhos, a hesitação, sinto todos os meus ossos se liquidificarem. Eu poderia cair aqui, agora mesmo, mas ele continua a me segurar.
Eu não fazia ideia de que ele poderia me segurar com tanta firmeza.
- Não é confiança, droga, não é! – Ele grita de novo, ele segura em meu pulso, olha em meus olhos e eu apenas gostaria de sumir, seu olhar é hipnotizante, a maneira como ele me segura tão forte é como uma prisão. Ou talvez como um lar. - Eu só preciso saber que não to sendo iludido, que você não tá brincando comigo, rindo de toda minha infantilidade quando não estou por perto, rindo de mim com ele...
E então eu sinto, aquele calor dentro de mim parece finalmente encontrar uma maneira de escapar, é um aperto metafórico, abstrato que acaba se tornando tão concreto. Eu me sinto mal, eu sinto como se esse rosto tão belo jamais devesse se transformar com uma expressão tristonha, como se fosse simplesmente errado, e é errado. Ele não deve sentir isso, ele não deve se descontrolar por conta de minhas atitudes, ele não deve...
- Tae, você realmente acredita nisso?
Ele não responde.
- Eu gosto de você, droga – talvez soe como um grito, talvez seja na verdade um sussurro, mas as palavras ecoam, elas giram e circulam e vagueiam...
- Não parece – ele grita.
Um real grito, alto e estrondoso, a voz rouca sem controle, os olhos ferozes, as mãos que parecem tremer ao segurar meu pulso.
Eu me afasto.
Me afasto alguns passos, alguns centímetros. Me afasto apenas o suficiente para sentir que sua ausência é gritante, me afasto apenas para retornar rastejando, para tocar a base do seu maxilar e seguir o contorno com a ponta de meus dedos.
Me aproximo para sentir o toque do seu ombro sob a palma da minha mão, me aproximo para sentir o aroma natural em sua pele, cheirar a colônia em seu pescoço, sentir sua pele se contraindo sob meu toque, me aproximo para tocar o osso de sua clavícula com os lábios trêmulos, traçar o caminho do seu pescoço até seu maxilar, sua bochecha e então o canto de sua boca, olhar em seus olhos paralisados e então sentir o cabelo em sua nuca entre meus dedos, sua respiração quente na ponta do meu nariz e seu sorriso que lentamente, de forma tão tortuosa chega até meus lábios.
Extingue o silêncio, agora seus gestos gritam.
Intensifica o calor, agora sinto seus toques como uma tarde de verão numa praia afrodisíaca.
Ele me beija, ele toca meus ombros, toca meu rosto, corre os dedos pelo meu cabelo. Me beija e sorri.
Me beija, me beija e beija.
Me segura tão firme, tão forte, puxa minhas pernas em direção á sua cintura, toca a pele sensível e faz com que eu sinta todo o ar em meus pulmões esvaírem.
- Apenas você pode me beijar assim... – e eu beijo a ponta de seu nariz.
Sinto seu cabelo cheiroso e macio, sinto seu aroma ao meu redor, o cheiro de cardamomo, a colônia comprada em outro país, a essência natural, o cheiro de Taehyung. Intoxicante.
- Apenas você pode me sentir assim... – Beijo o canto de seus lábios. – Pode acreditar? Pode confiar?
Ele sorri.
Aquele sorriso de canto, aquele sorriso que tinha vida própria... Com esse sorriso ele me puxa para ainda mais perto, como se dois corpos ocupassem o espaço de um, me carrega em seu colo enquanto beija minhas orelhas, a risada ecoando dentro do meu cérebro, enquanto brinca com a pele do meu pescoço, aproxima uma de suas mãos até minha clavícula, traz arrepios pelo meu corpo e faz com que meus olhos se fechem, deposita um beijo em meu pescoço, um beijo que sobe até a base do meu maxilar, um beijo que parecia deixar um rastro de pólvora por onde passava, então Taehyung vinha com sua língua e tudo pegava fogo.
Seus lábios suaves descansavam sob o canto da minha boca e eu podia sentir que ele se concentrava para não rir, pois seu objetivo de me provocar estava dando certo.
- Aigoo, me beija logo! - Eu rio e nossos lábios se se chocam, me vejo ávida pelo contato com a pele dele, ávida pelas suas mãos que corriam pelos meus braços e me faziam tremer.
Ele me puxa mais e mais, se afasta um pouco, me olha tão profundamente e então desabotoa a camisa branca, tenta permanecer sério enquanto lentamente desmancha um por um dos botões, os malditos botões, são tantos, e ele não parece ser capaz de manter a expressão, o ardor e a sensualidade, a parcial atuação. Suas bochechas vermelhas contrastam com seus olhos intensos, cheios de desejo e com sua risada envergonhada. É a pessoa mais bela que meus olhos já viram, é o som mais melódico que já ouvi em toda minha vida. É minha pintura favorita, minha orquestra sinfônica, o poema que tatuarei por todo o corpo, parte por parte, dia por dia. É Taehyung.
É o cara que lentamente deixa a camisa branca e amassada cair sob o tapete felpudo, é o corpo moreno e magro, macio, tão maravilhoso, é o sorriso que me puxa, me atrai e me toca, são as mãos tão belas e fortes que deslizam pelo meu corpo e que me puxam e puxam, que me seguram em seu colo.
Entrelaço as pernas ao redor de sua cintura, fecho os olhos e sorrio.
Sorrio e sorrio.
Rio ao me inclinar para depositar um beijo em seu nariz, sinto nossos corpos se encontrarem, irem e irem, indo e voltando de encontro, vejo seus olhos lentamente se fecharem e seu sorriso malicioso se tornar tão quadrado.
- Jagi, para de me provocar...
A voz de Taehyung saí falhada, sua voz grossa e rouca soa fraca.
- Mas eu não fiz nada...
Rio com a boca em seu pescoço e ele ri com as mãos em minha cintura, fecho os olhos, seu pescoço tão maleável ia de lá para cá, de um lado para o outro até que ele o joga para trás, seus olhos fechados se arregalam no instante que o baque oco ecoa, no instante que sua cabeça atinge a parede onde suas costas repousam.
- Aí... - Ele reclama de dor e agora apenas uma de suas mãos repousa preguiçosamente sob minha cintura, pois a outra se encontra na parte traseira da cabeça, sob o local machucado.
Eu apenas observo sem reação, isso nos primeiros instantes, pois os segundos seguintes se resumem em risadas, gargalhadas.
Os próximos segundos se resumem em ambos deitados na cama olhando para o teto e rindo de suas maneiras desastradas.
- Wendy! Não ri... Tá doendo.
Ele mesmo acaba rindo em meio a voz manhosa, então beijo seus dedos, eu rio.
Beijo a palma de sua mão e rio.
Beijo seu pescoço e rio.
Ele fecha os olhos e sorri cheio de prazer, troca as posições, esquece qualquer dor e toma meus lábios nos seus.
Beija ávido, respira arfante, suspira quente.
Eu me via em desespero tentando arrancar a calça de Taehyung e ele ri de minha situação, aquela maldita risada...
O seu peso contra meu corpo, a sensação de passar os dedos pela suas costas nua... Eu sentia como se fosse explodir.
Ele traça um caminho de beijos pelo meu pescoço e um gemido manhoso escapa da minha garganta quando sinto sua ereção roçar em minha perna, quando sinto sua respiração quente e arfante em meu ouvido... Deslizo as mãos pelas costas de Taehyung, deslizo as mãos na pele aveludada enquanto ele sorri ao mordiscar minha orelha.
Mas tanta provocação sempre leva a perca de controle, e Taehyung não precisava de muito esforço para me fazer ficar descontrolada, agora se inclinava em minha direção e sorria, havia tirado as palavras de minha boca e substituído-as por suspiros, sinto minha alma se despedir, sinto a onda que me leva para longe, a gravidade que desaparece e faz com que eu flutue nessa atmosfera, que me faz fechar os olhos e me derramar com os gemidos roucos de Taehyung ecoando em meus ouvidos.
Eu me desfaço embaixo dele, e sinto seu corpo desabar sob o meu, seu corpo suado e arfante. Ele ria com a cabeça em meu ombro e eu tentava recuperar os sentidos, mas sua risada era como uma prisão que me mantinha nessa atmosfera irreal, onde eu apenas gostaria de aproveitar a sensação do corpo dele descansando sob o meu.

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