+37 | Taehyung

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- Quem é você?
Ele me fita de cima abaixo, joga minha pergunta contra mim, ênfase nas palavras.
Eu já o odeio.
- Cadê a Wendy? - Ignoro sua pergunta.
Reviro os olhos enquanto ele parece pensar qual resposta deve me fornecer.
- Ela saiu...
- E quem é você? - Repito sem paciência.
- Meu nome é Eric!
Ele abre mais a porta e caminha até a sala, dando de ombros conforme o sigo, conforme fecho a porta e o sigo até a sala que continha lençóis e travesseiros sob o chão e sofá...
Oh! Então ele estava dormindo no sofá...
- Ainda não me disse quem você é - diz o tal Eric enquanto se joga no sofá.
Eu detesto a maneira como ele parece á vontade, detesto a maneira como reconheço seu sotaque e a terrível maneira como fala meu idioma.
Quem é essa cara?
- Taehyung... Kim Taehyung.
- E o que você quer com a Wendy? - Ele demora um longo tempo para formar a pergunta, o que me faz compreender que realmente ainda estava aprendendo o idioma, mas sua pergunta também me faz respirar fundo e fechar os olhos.
- Seu coreano é terrível.
- Como pode ver... - Ele gesticula os olhos, - não sou nativo.
Tanto faz...
- Wendy não é nativa e seu coreano é impecável, talvez ainda melhor do que o meu - me pego murmurando o que me veem a mente, o sorriso tentando preencher os lábios sérios.
- O que você quer com a Wendy? - Ele pergunta novamente, o tom irritadiço.
Me sento no braço do sofá, observando enquanto ele me observa, olhos letais, olhos arrogantes.
- Não te interessa...
Eu nem ao menos sinto o ar ficando rarefeito, a maneira como ele falava, a droga de seu sotaque e arrogância que transbordava, eu me via influenciado, me sentia irritado... Geralmente não usaria um tom tão condescendente, geralmente optaria pelas boas maneiras, mas havia algo nele, algo em seu pálido peito nu e na maneira como parecia indiferente á minha condescendência...
Eu o odeio.
Apenas gostaria de ter um telefone em mãos agora, de poder ligar para Wendy e questionar quem é esse Eric, esse britânico idiota...
- Ela não deve demorar.
- Onde ela foi?
- Acho que recuperar o celular na casa de um tal de Ba... Alguma coisa, eu não me lembro...
- Beakhyun - sinto as sobrancelhas erguerem... - Então é por isso que ela não atendeu as ligações...
Não percebo que estou recitando os pensamentos em voz alta até que ele torne a me perguntar.
- O que você quer com ela? - Ele parece ávido por uma resposta.
- Eric... Certo? Posso notar seu sotaque, Inglaterra, mas ainda não entendi o que você tá fazendo aqui.
- Eu ainda não entendi o que você está fazendo aqui... - Ele começa a dizer, mas antes que eu possa perder a paciência por completo a porta é aberta, uma jovem loira e alta adentra o cômodo com algumas sacolas e um sorriso, eu me levanto de súbito, e conforme ela ri de alguma piada, posso identificar outro som, outra risada, e então outro corpo adentrando o espaço que agora parecia minúsculo.
Wendy.
Ela para de rir no mesmo instante em que me vê.
- Tae? - Questiona com as sobrancelhas erguidas.
- Até que enfim! Eu to morrendo de fome... - Eric clama com as mãos para o alto e se levanta em direção ás sacolas com comida.
- Esse cara apareceu aí do nada e tá falando que precisa falar com você! - Ele diz com um pedaço de frango na boca.
Eu me sentia avulso, como se não pertencesse aqui, e logo Wendy se apressou em seguir as formalização, nos apresentar.
- Tae, essa é a Sammy, minha prima e esse é o Eric, um amigo - ela responde com naturalidade conforme gesticula ambos os jovens em minha frente.
- E esse é o Taehyung, meu amigo - ela sorri ao pronunciar a sentença com ainda mais naturalidade, mas mesmo que suas palavras sejam tão naturais, tão sinceras... Eu não esperava que tivessem tanto impacto em mim.
- Prazer conhecê-los, mas eu tenho que ir.
- E não quer comer com a gente? - A jovem loira, Sammy, sorria radiante enquanto gesticulava para toda a comida que elas haviam comprado, eu imaginava que Wendy realmente era do tipo que teria que correr até o mercado para fazer compras, já que sua geladeira na maioria das vezes ocupava vento.
Eu tenho que recusar o pedido, tenho que contar uma mentira, pois mesmo que o sorriso dela seja simpático e eu sinta que essa seja uma pessoa com a qual eu poderia facilmente me relacionar, apenas não poderia sentir o mesmo pelo rapaz que continuava sem uma camiseta enquanto comia frango, qualé... Os britânicos não deveriam ser tímidos? Quando ele vai vestir uma droga de camiseta?
Eu não sabia a resposta, eu não sabia nada que não fosse o fato de que estar perto desse amigo de Wendy, me fazia pensar no fato de que eu também sou seu amigo... Então eu minto.
- Tenho ensaio, - faço questão de estampar meu melhor sorriso, de atuar da melhor forma possível, - na verdade já estou atrasado, então vou indo, mas foi prazer conhecê-los.
Eu continuo a sorrir enquanto me mostro o caminho da porta, enquanto arrasto dramaticamente os pés para lá, forçando o maior sorriso da minha vida.
"Pra que tanto drama, Taehyung?"
Eu continuava a me questionar, continuava a me sentir tão idiota enquanto pressionava as droga dos botões do elevador.
- Ei... O que você precisava me dizer? - Wendy pergunta, a mão em meu ombro, havia me seguido, mas meus pensamentos tão altos abafaram o som de seus passos.
- Nada importante, pode ficar pra depois... Amiga! - Digo com a voz cálida, me arrependendo no mesmo instante, me arrependendo no instante em que decido usar a palavra "amiga"... Será que ela sentiu a mesma coisa quando a usou para me apresentar?
"Taehyung, idiota, idiota! Por que tem que ser tão infantil?"
- Tae... - Ela começa a dizer.
- Tudo bem, tudo bem... Eu entendo, realmente... Tá tudo bem, eu preciso ir.
Sinceridade escapando pelos meus lábios conforme ela me fitava, seus olhos não mostravam qualquer sinal de vida, qualquer emoção, suas palavras estavam fracas e eu me arrependia ainda mais.
Realmente estava tudo bem, eu não sabia por quanto tempo estaria, mas estava tudo bem.
- Eu te ligo depois... - Digo tolamente conforme as portas do elevador se fecham, ela sorri daquela maneira que me fazia sempre acreditar que estava tudo bem...
Está tudo bem, por que não estaria?


V+ictoryOnde histórias criam vida. Descubra agora