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- Você parece distante... – Sammy comenta, e talvez eu realmente estivesse distante enquanto eles bebericavam seus drinks.
Estávamos em Hongdae, mas era como se minha mente continuasse em meu apartamento, como se permanecesse revivendo os acontecimentos de algumas horas atrás, quando Taehyung estava sem camiseta deitado em minha cama, quando eu sentia a necessidade de tirar fotos de cada ângulo dele, era como se sua postura e beleza descomunal gritassem, era impossível não fotografar.
E eu o fiz, fotografei suas mãos, seus pés, seu pescoço e as pintas que completavam sua pele morena como estrelas numa noite de céu limpo. Fotografei com uma câmera e com meus olhos, não seria capaz de remover a imagem dos meus pensamentos.
- Desculpa, eu só estava pensando...
- Pensando no que? – Eric questiona.
- Pensando em quem? – Sammy corrige.
- Não interessa – sorrio, - o que vocês estavam falando?
Estávamos em um pub bastante cheio, a música ecoava num bom tom e as pessoas conversavam e bebiam... Era um local muito cheio, mas surpreendentemente também era confortável.
- Vocês estavam por aqui na noite passada, como foi o jantar? – Sammy pergunta.
Ela apenas gostaria de saber o que havia acontecido, não havíamos nos falado desde então, eu poderia lhe contar que havia sido de certa forma um grande desastre, mas a risada de Eric demonstra que ele prefere contar com suas próprias palavras.
Eu poderia focar em sua expressão satisfeita enquanto se preparava para falar, enquanto ponderava de qual maneira seria mais interessante abordar o assunto, mas eu também poderia ignora-lo e focar na música suave que se iniciava, o som do piano, a melodia tão aconchegante, eu a reconhecia...
São eles.
Eu sorrio e sem dar atenção a esse Eric empolgado, os interrompo para compartilhar algo que era muito mais interessante.
- São eles, tá ouvindo? – Eu sorrio ao me referir a música que tocava ao nosso redor, faço com que me olhem com curiosidade e sobrancelhas erguidas.
Era uma ótima canção, e eu a reconhecia da vez em que Tae estava me mostrando alguns de seus trabalhos.
- Taehyung ajudou a produzir essa...
Sammy abre a boca em surpresa, parecia entretida, parecia realmente gostar da música.
- Ele é rapper? – Eric pergunta admirado.
Me faz rir diante dessa ideia, Taehyung rapper, definitivamente não.
- Bem que ele queria – rio, mas prossigo com as palavras, - ele canta... A parte dele tá chegando.
Espero que o primeiro refrão ecoe e então o "aponto", deixo claro com um sorriso que a voz rouca que ecoava era a dele.
- Uau! – Sammy está impressionada, seu sorriso satisfeito me traz ainda mais orgulho.
Ela já o ouviu cantando, mas naquela vez havia sido uma brincadeira, uma diversão, agora ouvia a maneira como ele cantava tão apaixonadamente, com toda a sua alma.
- Pelo menos isso ele faz bem – Eric ri, eu já entendia o que ele queria dizer com isso.
Parecia realmente interessado em continuar com o assunto da noite anterior.
- O que quer dizer com isso? – Sammy bebe um gole, pergunta com curiosidade.
- Estávamos falando sobre o jantar da noite passada, esse Taehyung é realmente... Hm, qual a palavra que estou procurando?
Eu sabia qual era a palavra que ele estava procurando, sabia onde queria chegar com isso e ele parece ler meus pensamentos, se vira em minha direção, a afirmação era pessoal.
- Ele pode saber cantar, Dy, mas realmente não é um bom cozinheiro... E nem um pouco seguro de si.
Então Eric também havia notado que a culpa da pimenta era de Taehyung, não me surpreendia, era realmente óbvio, e eu ainda achava algo tão infantil, mas ver Eric apontando dessa forma...
- Alguém me explica o que está acontecendo! – Sammy exige, ávida por mais informação.
- Samantha, minha cara, ele tentou me envenenar – ele profere tentando não rir.
- Não exagera...
- Que? – Sammy estava rindo.
- Tae colocou pimenta na comida do Eric – respondo com tédio na voz.
- Muita pimenta – ele completa.
- O que? – Ela repete, grita, os olhos arregalados, a expressão surpresa, rindo tanto que precisava se apoiar na mesa.
- Então ele admitiu? – Eric sorria, se dirigia a mim, me fazia revirar os olhos ao ignora-lo.
- Ele realmente é ousado... – Sammy continuava a rir, e eu poderia lhe imaginar numa situação muito parecida, ela seria esse tipo de pessoa que coloca muito mais pimenta do que o necessário na comida de alguém.
- Ele é ciumento, infantil – Eric cospe as palavras. – Passou a noite toda tentando fazer ciúmes na Wendy, e eu me surpreendo de ainda estarem juntos, de Wendy estar perdendo tempo com alguém tão diferente dela, tão bobo, infantil...
Ele poderia continuar com sua falação sem fim, mas eu não perderia mais nenhum segundo ouvindo-o falar de Taehyung com tanta hostilidade, suas palavras me faziam querer jogar em sua cara o copo com toda essa cerveja que ele estava bebendo, por sentir saudade dos pubs da Inglaterra enquanto reclamava que não era a mesma coisa, eu queria gritar que se ele queria tanto um pub inglês e uma cerveja irlandesa que pegasse um avião e sumisse daqui.
Apenas me levanto, apanho minha jaqueta e deixo o dinheiro sobre a mesa de madeira.
- Eu te ligo mais tarde... – Sammy grita enquanto me afasto da mesa e caminho entre as pessoas, ela não se dá ao trabalho de questionar ou de tentar me impedir.
Ela me conhece bem o suficiente.
Suficiente para saber que estou pegando o metrô, que estou procurando a música e os meus fones de ouvido, sorrindo enquanto demoro para chegar em casa... Eu poderia andar, poderia caminhar o trajeto até casa, mas pegar o metrô e fazer um percurso mais longo do que o necessário parecia ser algo necessário.
Ter tempo para escutar a mesma música repetidamente talvez não fosse a escolha inteligente. A letra da canção poderia me representar, a letra da canção ficaria em meus pensamentos durante o restante da noite e toda a manhã do dia seguinte... Me faz pensar que tenho visto Taehyung com tanta frequência nos últimos dias, mais do que o normal e ainda mais se levasse em conta o fato de que ele realmente é muito ocupado com seu trabalho.
Temo pelos dias seguintes, sinto como se ao me acostumar com tanto dele fosse ser muito mais difícil de ficar longe quando não fosse opcional ter ele por perto. Egoísta, mas real, verdadeiro.
Estou com medo de ficar longe dele, estou com medo de ter muito dele...
Eu durmo com um sorriso no rosto, penso no agora, penso nas horas seguintes, ele logo estaria ao meu lado e todos esses pensamentos e preocupações seriam varridos, todas as besteiras tão verdadeiras que Eric disse seriam banais e irrelevantes.
Eu acordo com as mesmas preocupações direcionadas para ocasiões diferentes. Em poucas horas o terei ao meu lado, e em poucas horas teremos o "terceiro oficial"... Esse pensamento me faz rir, eu ainda não fazia ideia do que iriamos fazer, mas preciso tirar tudo isso da cabeça e novamente rio pela nostalgia que me invade ao pegar um livro e me sentar entre as almofadas do sofá.
Procurar distração em um livro?
Taehyung continuava em meus pensamentos, me faz questionar se algum dia serei capaz de ler um livro sem ter meus pensamentos preenchidos pelo som de sua risada, a visão de seu sorriso...
Alguém está batendo na porta, alguém dispersa meus pensamentos por alguns instantes, os pensamentos de que em poucas horas ele estaria batendo naquela mesma porta, animado com a ideia tão boba, mas que poderia fazer meu coração disparar tão facilmente.
- Abre logo a porta! – Sammy grita, a voz abafada do outro lado da porta.
Eu rio ao abrir a porta e ambos os corpos apressados adentram sem qualquer cerimônia. Sammy e Eric carregavam sacolas de supermercado e olhares ansiosos.
- Você não atendeu minhas ligações! – Ela acusa e deixa as sacolas sob o balcão da cozinha.
O celular estava no quarto e eu estava vagando pela casa, assim como meus pensamentos, mas ergo o livro em minhas mãos, o uso como álibi. Ela sorri inexpressiva e inicia seu interrogatório enquanto Eric se aconchega em um dos cantos do sofá.
- Você chegou bem ontem a noite?
- Sim...
- Você comeu?
- Ainda não...
- Por mais que seu comportamento muitas vezes não se assemelhe com o nosso, você é um ser humano, e sabe que um ser humano precisa se alimentar, certo?
Eu rio com sarcasmo diante de sua piada de longa data de que meu comportamento muitas vezes passava longe do tradicional dos terráqueos, rio de sua preocupação habitual.
- Sim, mãe...
- Sim, eu realmente prometi a sua mãe que iria cuidar de você, eu sempre cuido, então leia seu livro em silêncio enquanto preparo algo pra comermos.
Ela se dirige a cozinha com suas ordens e me deixa sorrindo com nostalgia no sofá da sala enquanto Eric observava a tudo com um sorriso de canto.
Eu o ignoro e foco nas lembranças, no agora que me atrai para anos atrás.
Sammy fez compras, encheu minha geladeira e estava se certificando de cozinhar algo... Comida italiana provavelmente, era uma cozinheira razoável, mas brilhava quando o assunto era massas e molhos, eu podia ouvir meu estômago acordar e roncar nervoso de imaginar o que ela estaria providenciando.
Ela realmente sempre cuidou de mim, isso me faz sorrir enquanto continuo a fazer o mesmo de antes. Fingir que estou lendo.
Eric continuava em silêncio do outro lado do sofá, e eu pretendia continuar a agir indiferente, como se ele não estivesse ali. É meu amigo e eu o amo, mas não seria a primeira vez que me faz desejar que estivesse do outro lado do mundo, não seria a primeira vez que me deixa tão irritada a ponto de ser infantil e fingir que não o escuto chamando meu nome.
Talvez eu estivesse errada por tratar tão friamente uma pessoa que sempre me acolheu calorosamente e ajudou quando eu mesma não imaginava que precisava de ajuda, mas não posso evitar, suas palavras e ações tem esse efeito. Sempre tiveram.
- O que você tá lendo? – Ele se aproxima casualmente.
- Um livro – respondo tão friamente.
- Nada novo, certo?
- Certo – e estava certo, era assim, não era novo, não era estranho. Não seria a primeira vez que eu sentia como se sua presença fosse a coisa mais irritante, não seria a primeira vez que ele tentaria agir como se nada tivesse acontecido.
- Você vai continuar a me ignorar?
- Faz parte da tradição – e realmente fazia, esse pensamento me faz sorrir.
- Falo sério...
Ele fecha meu livro, o coloca sobre a mesa de centro, me olha nos olhos e espera uma atitude.
- Quanto tempo você pretende ficar? – Eu deixo a sinceridade invadir minhas palavras.
- Até ter certeza de que você está bem – ele responde tão naturalmente como se já soubesse qual seria minha reação, nem ao menos eu saberia qual foi minha reação.
- Eu to ótima – rio.
Acho que franzi as sobrancelhas como se estivesse alheia a sua afirmação, desentendida da verdade... Eu não estava. Fito minhas pantufas que repousam no tapete felpudo.
A pergunta desliza para fora de seus lábios, a pergunta que faz com meus pensamentos congelem.
- Você tem tido pesadelos ultimamente?
Me lembro do sonho de algumas noites atrás, me lembro de todos os outros pesadelos de meses e de anos atrás, me lembro de como os odeio, lembro de como Eric sempre me ajudou e sorrio ao pensar que agora era como se realmente não houvesse necessidade de ajuda.
- Não, nenhum pesadelo – minto com um sorriso.
- Isso é ótimo – ele olha em meus olhos e noto a maneira como suas sobrancelhas franzem ao dizer isso.
- Eu disse que estou ótima.
Ele me olhava e era como se me estudasse, poderia saber que estou mentindo, e eu poderia mudar de ideia e lhe contar a respeito do último pesadelo, poderia descrever cada detalhe e sentir o terror percorrer minha corrente sanguínea como se estivesse acontecendo agora, mas não há necessidade, pois a voz radiante de Sammy afasta qualquer sombra que estivesse a espreita, acho que ela realmente é minha salvadora.
- Será que vou precisar implorar ajuda? – Ele pergunta quase ofendida.
Eu sorrio, sinto a naturalidade voltando.
- Pensei que tivesse me mandado ler.
- É... Você já leu o suficiente, vem mexer o molho.
Eu me levanto com um sorriso e Eric se levanta com todo o peso do mundo em suas costas.
- Eu não vou lavar a louça – ele começa a reclamar.
- Eric, você lava a louça... – Ela ri e lhe entrega um avental.
Ele reclama, mas obedece.
- Ei, o que você vai fazer mais tarde? – Sammy parecia interessada em ler meus pensamentos, em retirar qualquer informação que considerasse relevante. Era como se ela se alimentasse de fofocas, talvez fosse o que fazia seu cabelo ser tão brilhante e sedoso.
- Eu tenho um encontro.
- Um o que? – Sammy e Eric exasperam ao mesmo tempo.
- Um encontro – repito enquanto mexo o molho vermelho e cheiroso.
- Onde?
- Eu não pensei muito nisso ainda, mas acho que vai ser aqui mesmo, talvez um filme...
Eu realmente havia pensado, mas era como se nada surgisse em meus pensamentos, nada parecia ser bom o suficiente, e parecia ser ainda mais difícil desde que Tae enfatizou que deveria ser surpreendido. Talvez eu não pudesse surpreender ele, apenas estava ansiosa pela sua companhia, não realmente me importava o local ou a ocasião.
- Um filme? – Sammy pergunta indignada.
- Sim.
- Qual é, Dy, até eu sei que um filme é algo sem graça – Eric apenas parecia necessitado de atenção e de tratamento caloroso, não era como se ele realmente se importasse, provavelmente iria achar que um filme era mais do que Taehyung merecia, talvez devêssemos assistir animações, seria adequado de acordo com seu ponto de vista.
- Você vai trocar uma noite cheia de aventuras comigo por um filme e talvez uma garrafa de vinho? – Sammy forma a pergunta cuidadosamente e eu não preciso pensar muito para responder.
- Sim!
Era a repetição da palavra que ecoava como um disco arranhado, mas nenhum sim jamais soou tão resoluto, havia riso em meus lábios e certeza em minha palavra.

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