Capítulo VII - TAVINHO

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Existem duas grandes desvantagens em ser uma criança em um grupo de adolescentes. A primeira delas é que eu sempre estou errado. A segunda, é que sou o alvo mais fácil. E é por isso que toda essa história de sequestro sobrou pra mim.

Depois daquela briga besta que a minha irmã arranjou por causa da Malu, o grupo resolveu tomar partido e se dividir. E como eu fui o único que achou essa ideia uma tremenda idiotice, todo mundo fez o que fazem de melhor: acharam que eu estava errado – só para provar o que eu disse logo acima.

Eu sabia que ia ser mais um dia chato. Então tratei logo de sair de perto deles e fui procurar companhias mais agradáveis. Encontrei um sapo, mas já aprendi por experiências passadas que sapos não podem ser considerados companhias agradáveis – são mentirosos e charlatões.

Topei sem querer com um casal de lesmas, muito simpáticas e inteligentíssimas. Elas se queixavam sobre o quanto as mudanças climáticas influenciaram a longevidade das lesmas.

- Vocês notaram isso? - perguntei, interessado no assunto

As lesmas permaneceram paradas, provavelmente devo tê-las assustado. Já estou acostumado com isso, já que não é sempre que se encontra uma pessoa que fale com animais.

- Desculpe a intromissão – disse, sem graça – Não queria assustá-los.

- Você entende o que dizemos? - indagou a lesma maior – De verdade?

- Entendo sim – respondi.

E então me abaixei para poder conversar com elas mais de perto. Permanecemos bastante tempo em uma conversa agradabilíssima, mas então uma delas chamou a minha atenção.

- Você conhece aquele cara ali atrás? - indagou uma delas, a certa altura da conversa.

Disfarçadamente olhei para ele. Era um homem grande e forte e tinha marcas por todo o rosto. Não era um homem fácil de se esquecer. Eu tinha certeza que nunca o tinha visto na vida.

- Não – respondi

- Ele está te encarando há um tempão – contou-me – Tome cuidado com ele.

Olhei para ele mais uma vez. Ele usava um jaleco, mas não tinha cara de médico. E estava acompanhado por mais dois caras, que se pareciam com ele, exceto pelas marcas no rosto.

Eles já tinham se dado conta que eu sacara que eles estavam me observando, então meu alerta acendeu.

- Se eu fosse você, eu voltava pra casa – disse uma das lesmas.

- Não dá – sussurrei – Minha irmã e meus amigos estão lá. Não quero que esses caras os descubram.

Eu nunca fui o mais ágil do grupo, mas no quesito esperteza, eu era diferenciado. E não estou me gabando, só constatando um fato.

Eu sabia que se eu simplesmente sumisse, eles demorariam muito para descobrir que eu estava encrencado, por isso, tirei meus óculos e pedi as lesmas que o levassem para dentro.

Por mais que elas demorassem para fazer a entrega, seria mais rápido do que se eles descobrissem sozinhos, já que eu costumava passar o dia inteiro fora, ainda mais, depois de toda essa briga idiota.

Sem óculos eu seria um alvo fácil. Mas com eles, eu não seria muito melhor. Por isso, saí correndo sem pensar no amanhã, tentando levá-los o mais longe possível do grupo.

Acabei entrando em uma construção abandonada que ficava um pouco longe dali. Consegui me esconder deles por cerca de dez minutos e então eles me pegaram, quando trouxeram reforço.

A Segunda Geração - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora