A Segunda Geração - Livro 1

Capítulo XXXI - MALU

- O que isso quer dizer? - perguntou o Quatro dois quatro.

- Quer dizer que vocês não ganharam seus dons através de experimentos, como os outros – explicou – Vocês herdaram isso dos seus pais.

- Isso não faz o menor sentido! - disse – O Zeca me disse que nós crescemos no orfanato.

- E o que aconteceu antes do orfanato? - indagou-me ele – Você sabe?

- Na verdade não... - disse, chocada – Ele não lembra do que aconteceu antes disso.

- É uma história longa e cheia de desencontros – explicou ele, convidando-me a sentar na minha cadeira novamente – Eu imagino que você queira saber mais sobre o seu passado.

Era o que eu mais queria. Saber quem eu era de verdade, de onde eu vim e esse tipo de coisa. O Zeca não podia me ajudar nesse quesito. Será que eu deveria acreditar no médico?

Sem ter certeza de mais nada, sentei novamente, esperando que ele começasse a contar sua história.

- Tudo começou há vinte anos, quando os experimentos com humanos começaram. - começou ele – Nosso experimento era pequeno, tínhamos cerca de vinte voluntários, todos jovens, entre vinte e vinte e cinco anos. Todos eles moravam aqui no hospital e abdicaram de suas vidas para se doarem inteiros em prol da humanidade.

Se nossos experimentos dessem certo, nós estaríamos ampliando os sentidos humanos a níveis nunca imaginados! Isso seria um marco na história da humanidade e nós estávamos trabalhando nisso com todas as nossas fibras. Algumas cobaias acabaram morrendo no meio do caminho, mas era um preço a se pagar pelo bem da humanidade.

Tudo foi previsto nesse experimento: dados, cálculos, recursos... tudo estava dentro dos conformes. Mas como nada é perfeito, esquecemos que estávamos trabalhando com humanos, que são repletos de fraquezas. E foi aí que o nosso plano começou a afundar.

Um pouco antes do fim do experimento, descobrimos que um dos médicos estava tendo um relacionamento com uma das cobaias, o que era terminantemente proibido. Logo, descobrimos que havia mais casos entre as próprias cobaias, e quando nos demos conta, três delas estavam grávidas.

Fizemos os exames necessários e essas três mulheres estavam grávidas de crianças geneticamente modificadas, o que resultava num total de quatro crianças, já que uma delas estava grávida de gêmeos.

Após uma longa conversa, decidimos que não era seguro que essas mulheres levassem suas gravidezes adiante, mas já era tarde demais. Elas já tinham fugido e já estavam bem longe.

Nunca mais soubemos nada a respeito delas. Mas tínhamos uma única certeza: essas crianças tinham nascido. E essas crianças tinham que voltar para o hospital, para que pudéssemos fazer os testes necessários. Só assim saberíamos se nossos experimentos tiveram êxito ou não.

Alguns anos após o ocorrido, soubemos que essas cobaias tinham morrido devido a complicações neurológicas. Provavelmente, decorrentes dos experimentos. E então tivemos uma luz no fim do túnel. Todas as nossas cobaias não tinham laços familiares com ninguém. Esse era um dos pré-requisitos para ingressar no programa. A criança tinha que estar em um dos orfanatos.

Juntamos o útil ao agradável. Estávamos a procura dessas crianças e precisávamos de mais cobaias. Resolvemos negociar com o governo, para que todas as crianças dos orfanatos viessem para cá, e como o governo não tinha a menor condição de cuidar delas, acabamos fazendo um grande favor a todos vocês.

- E como você pode ter tanta certeza que essas crianças somos nós? - indagou o Quatro dois quatro

- E as outras crianças? - perguntei – Onde está ela?

- Durante os testes feitos em vocês, nesses anos em que passaram aqui, não foi nada difícil notar que vocês dois eram muito mais evoluídos que os demais. Não me resta a menor dúvida. Vocês são a segunda geração. - explicou – Quanto as outras crianças, uma delas está morta. A outra, ainda estamos a procura dela. E é por isso que eu conto com a ajuda de vocês.