A Segunda Geração - Livro 1

Capítulo XXXVII - MALU

Voltei para o quarto sem a menor intenção de esconder o que eu acabara de fazer. Deve ser por isso que nunca fui questionada a respeito disso.

Deitei na minha cama sentindo um aperto no peito tão grande, que chegava a doer. Apesar de ficar repetindo pra mim mesma que eu fizera um favor enorme pra eles, já que eles estavam muito melhor sem mim, eu sentia como se eu tivesse cometido o maior erro da minha vida. E essa culpa estava me remoendo.

Não preguei o olho o restante da noite, e quando vieram me chamar eu já estava pronta para o que quer que eu fosse fazer naquele dia.

Passei a manhã inteira na sala dele, com a mesma empolgação de uma ameba. Talvez até menos. Mas eu era a única apática naquele lugar, já que o médico estava tão eufórico que eu pensei que fosse explodir a qualquer instante.

- Antes de tudo, vamos testar sua capacidade telepática – explicava ele, piscando-se todo – É ela que vai nos indicar onde essa terceira criança está.

Não respondi nada. Eu não estava nem aí para terceira criança nenhuma. Nem no clima para discutir sobre as falhas do seu plano, nem para concordar com ele. Apenas balancei a cabeça, mas ele não pareceu notar que eu não estava em um dia bom.

Depois de horas naquele lugar, eu já não acompanhava mais o que ele dizia. O Quatro dois quatro também não, mas apenas porque ele estava entediado demais para isso. Na verdade, ele parecia não se importar com nada, nem com ninguém, e eu meio que invejava essa capacidade. Se eu fosse como ele, não estaria me sentindo o grande lixo que eu me sentia naquele momento.

- O que você acha? - indagou o médico eufórico.

Eu não tinha prestado a menor atenção no que ele dissera, mas respondi mesmo assim:

- Acho que é uma boa ideia – disse, fingindo entusiasmo.

O Quatro dois quatro apenas deu de ombros. E então o médico continuou com sua ladainha sem fim.

Aquele seria um dia bem longo.