Capítulo XIX - ZECA

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Meu ombro latejava. Essa era a única certeza que eu tinha, enquanto recobrava a consciência. Notei que eu estava dentro de uma daquelas celas que eu vasculhara há alguns minutos atrás, junto com o Tonho e o Tavinho.

- Ainda bem que você acordou! – exclamou o Tavinho aliviado.

- Onde está a Malu? – perguntei, tentando sentar.

Meu ombro agora estava bem mais inchado que antes, e doía tanto que era difícil pensar em outras coisas.

- Não sabemos – respondeu o Tonho – Quando eu acordei já estava aqui dentro.

Tentei atravessar as paredes, mas eu sabia que era inútil. Desde que eu fugira daqui, eles tomaram certas precauções.

- Eu avisei pra não virem! – exclamou o Tavinho zangado – Eles sabiam que vocês estavam aqui o tempo todo!

- E o que você queria que a gente fizesse? – tornei – Ficasse lá esperando o belo dia em que você conseguisse escapar?

- Eu tinha um plano, sabia? – esbravejou ele, mais zangado do que eu já o vira em toda minha vida – Eu não sou um inútil completo como vocês pensam!

O Tonho não se meteu na nossa discussão. Ele estava mais preocupado em achar uma falha na segurança, ou um caminho para escapar. Mesmo sabendo que não havia fuga naquele lugar. Assim como eu, ele já estivera aqui antes.

Depois de um tempo, ele começou a bater na porta, o que fez com que eu e o Tavinho parássemos nossa pequena briga para ficar observando ele destruir os próprios punhos naquela porta que nunca cederia.

- O que você está fazendo? – perguntei.

- A gente precisa sair daqui, Zeca! – exclamou ele.

- Você sabe que essa porta nunca vai ceder, não sabe? – perguntou o Tavinho.

- Pelo menos eu estou tentando fazer alguma coisa! – gritou ele – Eu preciso sair daqui!

Depois de mais uns dez socos – e sua mão acabar sangrando – ele finalmente desistiu e sentou-se no chão.

- O que vai ser da Helô? – indagou ele, ainda encarando a porta.

Não respondi. Eu não sabia o que dizer, afinal falar que os outros cuidariam dela não resolveria nada. Eu sabia o que ele estava sentindo. Por mais que a Malu não fosse minha irmã, eu também não conseguia tirar ela da cabeça.

Ficamos ali, os três parados, olhando pra parede, admirando nossos fracassos.


A Segunda Geração - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora