Capítulo XX -MALU

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A minha cabeça doía muito, e essa era a única certeza que eu tinha naquele momento. Lembro bem quando aquele rapaz maluco me arremessou na parede, e então tudo ficou escuro. Na verdade, eu ainda não conseguia enxergar nada, mas nitidamente tinha algo cobrindo a minha visão.

Eu estava deitada sobre uma superfície dura, e tinha os braços e as pernas amarrados. Tentei gritar, mas minha boca também estava amordaçada. Eu não sabia onde eu estava, nem onde os garotos estavam também. Será que eles também estavam na mesma situação que eu? Ou talvez pior?

Não consegui evitar um enorme sentimento de culpa. Esse plano tinha sido meu. Eu arriscara a vida de outras pessoas – pessoas que já tinham se mostrado meus amigos – para investigar um assunto de interesse próprio e que nem fazia sentido algum. Eu estava me sentindo um lixo.

Não sei quanto tempo passei ali, com meus sentimentos, mas fiquei alerta quando ouvi um barulho de porta abrindo.

- Ora, ora... o bom filho à casa torna – disse uma voz que eu reconheci, mas não lembrada da onde.

Essa pessoa tirou minha venda, e meus olhos arderam quando deram de cara com a luminária que estava bem acima de mim.

- O que você quer? – perguntei, mas como minha mordaça ainda estava ali, saiu mais como uma amontoado de sons sem sentido.

- Ah, desculpe a falta de educação – ele se aproximou de mim para tirar a mordaça.

Era o rapaz que me arremessara na parede há pouco tempo atrás.

- O que você quer? – repeti – Onde estão meus amigos?

- Seus amigos estão seguros, não se preocupe com eles – disse ele, sentando-se numa cadeira ao lado da plataforma onde eu estava.

- O que você quer? – repeti, pela terceira vez, já que ele não respondia essa droga de pergunta.

- Você é muito curiosa! – debochou ele – Eu não posso estragar a surpresa. Você precisa esperar.

Tentei puxar os braços e as pernas, mas estavam presos mesmo.

- Calma, Oito Cinco Dois. Não precisa ficar nervosa.

- Esse não é meu nome! – exclamei com raiva.

- É claro que não... - suspirou ele sarcástico.

Continuei tentando puxar meus braços e pernas, até ouvir o barulho da porta se abrindo novamente. Era o médico bonitão dessa vez.

- Que exagero! - exclamou ele, assim que me viu – Não precisava mantê-la amarrada, Quatro dois quatro.

- É que ela não estava colaborando – defendeu-se.

Sem dizer nada, o médico me desamarrou e me ajudou a sentar.

- Aposto que com esse tempo todo, você recobrou sua memória – tentou ele.

- Infelizmente não.

- Você não sabe como fico feliz em te ver – disse ele, ignorando o fato de eu não lembrar de nada – Mas eu sabia que você voltaria. Você faz parte desse seleto grupo.

- Que grupo? - indaguei – Do que você está falando?

- Não tenha pressa – disse ele – Apenas me acompanhe. Temos muito o que conversar, e esse não é um ambiente adequado.

Sem entender muito, apenas o obedeci.


A Segunda Geração - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora