Capítulo XV - ZECA

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Estava oficialmente decidido. Iríamos apenas nós três para a missão: a Malu, o Tonho e eu. Após aquela briga toda e o pânico da Sara, ficou bem claro pra mim quem estava pronto e quem não estava para levar essa missão até o fim. Não importava as consequências, nosso objetivo era voltar com o Tavinho para casa. E era isso que iríamos fazer.

Para não levantar suspeitas nos separamos. Eu e a Malu fomos na frente – não nos separamos, pois ela precisaria da minha ajuda pra entrar – e o Tonho saiu meia hora depois de nós, já que ele conseguiria entrar lá sem maiores dificuldades.

Durante o caminho não conversamos muito. Acho que ambos estávamos apreensivos demais para qualquer tipo de conversa casual, então seguimos até uma escola que ficava a cerca de duas quadras no hospital. Era de lá que seguiríamos pelas galerias subterrâneas até o hospital, uma vez que a segurança nos portões deveria estar muito mais forte do que da última vez que passamos por eles.

A galeria era muito escura. Tanto que não era possível enxergar mais do que meio metro na nossa frente. Senti falta da Sara, que conseguiria nos guiar aqui tranquilamente com sua super visão, mas afastei esse pensamento. Ela não tivera culpa. Eu também estava me borrando de medo, afinal.

O barulho de água correndo e que alguns animais faziam ao longe me dava calafrios, mas eu tentei me manter forte.

- Eu não consigo enxergar nada – disse ela, segurando meu ombro, enquanto andava logo atrás de mim.

- Eu também não – disse – Vamos andando bem deva...

Antes que eu pudesse terminar minha frase fui sugado por um buraco enorme – que eu acho – que não deveria estar ali, e desci rolando por uma encosta cheia de pedregulhos pontiagudos. Pelos gritos, senti que a Malu caíra junto comigo.

Quando finalmente alcançamos o chão – o que levou um certo tempo – começamos a avaliar a dimensão dos estragos.

- A princípio nenhum osso quebrado – disse ela – Só alguns cortes e escoriações. E você?

Senti meu ombro latejar. Como era o ombro direito – o oposto ao do meu braço defeituoso – não consegui ter uma noção muito boa do quão deformado ele estava, mas estava doendo pra burro. Provavelmente eu tinha luxado ele.

- Está tudo bem – menti – Vamos continuar.

Era difícil ter noção de direção naquele lugar. Ainda mais depois desse tombo. Era como se estivéssemos partindo do zero. E era ainda mais difícil me concentrar no caminho com toda aquela dor. A cada passo era como se meu ombro estivesse partindo ao meio, e após alguns metros me segurando, acabei soltando um gemido depois de um passo em falso.

- O que foi? – perguntou ela

- Meu ombro – respondi finalmente – Acho que machucou na queda.

- Vamos ver isso aqui – tornou ela, puxando-me para sentar no chão.

Como não enxergávamos quase nada, ela precisou colocar a mão sobre o meu ombro. Minha camiseta tinha mangas, então, com cuidado, ela a arregaçou para poder sentir meu ferimento. Sua mão estava gelada, mas seu toque era macio e reconfortante, por mais que doesse muito.

- Está inchado – disse ela – Vamos ter que fazer uma tala para imobilizar seu braço.

- Mas como nós vamos resgatar o Tavinho desse jeito? – perguntei

- A gente dá um jeito – disse ela, rasgando um pedaço da própria camiseta.

Com cuidado, ela amarrou uma faixa larga em volta do meu braço, evitando que meu ombro doesse tanto. Então, com ela na frente, prosseguimos.

- Eu acho que estamos chegando perto – disse ela, animada – Estou ouvindo pensamentos de médicos.

- Isso é ótimo! – exclamei – Só vamos ter que dar um jeito de subir até lá.

A Segunda Geração - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora