Capítulo XXIII - MALU

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Eu estava sentada na sala do médico. Engraçado que a esta altura do campeonato eu não fazia ideia do seu nome. Mas eu não ia perguntar. Ele parecia muito mais louco do que bonitão, a esta altura do campeonato.

- Bom... - começou ele, procurando alguma coisa nas gavetas – Deve estar aqui, em algum lugar.

Sua sala não era muito grande. Tinha espaço para a mesa – que estava entulhada de pilhas de papel e um computador – e uma maca. O tal garoto, estava sentado ao meu lado, brincando de girar uma moeda sem utilizar as mãos. Eu já detestava esse cara, mas é pertinente dizer que telecinese é um dom invejável.

- Aqui está – disse o médico.

Ele folheava as páginas de uma espécie de livro, até que finalmente gritou:

- Achei!

Levei um susto e quase caí da cadeira.

- Aqui está sua ficha. - dizia ele, enquanto me mostrava uma folha cheia de fotos, anotações rabiscos – Estava guardada porque há tempos não fazíamos experimentos com você.

Ele me entregou a ficha. Olhei fotos e mais fotos de mim quando criança, anotações a meu respeito, como qual era meu comportamento em determinadas situações e esse tipo de coisa. Mas para mim, era como se eu tivesse lendo coisas sobre uma terceira pessoa. Como se aquilo não fizesse o menor sentido pra mim.

- Desculpa, mas isso aqui não está ajudando em nada.

- Eu já disse. Ela não é uma de nós – falou o rapaz ao meu lado – Livre-se logo dela e dos amigos, e vamos continuar.

Amigos! Eu tinha amigos presos aqui em algum lugar. E pelo jeito que ele falou, eles ainda estavam vivos.

- Onde estão meus amigos? - perguntei ao médico.

- Eles estão a salvo. Não se preocupe com eles.

- Eu quero saber onde eles estão – insisti.

Lembrei-me então de que eu conseguiria essa informação se eu quisesse. Bastava eu ler o que ele estava pensando. Eu não fazia esse tipo de coisa com amigos, mas ele não era meu amigo coisíssima nenhuma.

- Você pensa que é muito esperta, não é mesmo? - pensou ele.

- Como é que é? - perguntei em voz alta.

- Eu sempre tive grande estima por você – começou ele – Apesar de saber que você mentiu pra mim diversas vezes. Mas, por favor, não tente me fazer de idiota.

Fiquei paralisada. Seja lá o que isso significava, estava começando a me assustar.

- Ele também é telepata, idiota! - exclamou o rapaz ao meu lado – Você não é tão especial assim.


A Segunda Geração - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora