Capítulo XVIII - TONHO

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Depois de presenciar as cenas mais surreais da minha vida – uma garota trocando de roupa na minha frente, parecendo não estar nem aí, e o Zeca sofrendo o maior constrangimento da vida dele – e ter rido tanto, que minha barriga ainda doía, era difícil manter a seriedade que meu papel exigia.

Mas me mantive forte e percorri, com cara de poucos amigos, aqueles corredores que me davam calafrios. O Zeca e Malu vinham logo atrás de mim, como se fossem internos mesmo. Era dessa maneira que andávamos para lá e para cá quando ainda não sabíamos toda a verdade. Sempre em fila indiana, atrás de algum enfermeiro.

O objetivo era seguir caminho até a segurança máxima, onde encontraríamos o Tavinho e sairíamos daqui o mais rápido possível.

Passamos por diversos funcionários durante o percurso. Médicos, enfermeiros, faxineiros, todo tipo de gente. E cada vez que um deles cruzava o nosso caminho, eu sentia um pavor cada vez maior, temendo que algum deles notasse que eu não era a verdadeira enfermeira F. Mas para minha sorte, parece que ninguém notou a diferença.

Não foi nada difícil chegar a segurança máxima. O difícil mesmo, foi descobrir em qual das celas estava o Tavinho, já que os corredores eram enormes e a Malu não conseguia contato com ele.

Depois de nos certificar de que não havia ninguém nos corredores, resolvemos nos separar e olhar cada abertura das portas, para encontrarmos o Tavinho.

Algumas celas estavam vazias, outras tinham crianças e adolescentes trancafiados, mas nenhum deles era o Tavinho. Conforme o números de celas a ser verificada foi diminuindo, minha apreensão ia aumentando. Até que finalmente acabei meu corredor, e nem sinal dele.

- Alguma novidade? - perguntou a Malu, aproximando-se

- Nada – respondi.

Antes que pudéssemos pensar em qualquer coisa, ouvimos o Zeca gritando do outro corredor. Sem pensar muito, corremos até lá e o encontramos jogado no chão, com uma baita expressão de dor.

No fim do corredor encontrava-se um rapaz. Devia ter mais ou menos a nossa idade, com os cabelos raspados, como todos os demais internos. Mas ao contrário dos outros, ele parecia estar se divertindo.

- Você está bem? - perguntou a Malu, indo em direção ao Zeca e ignorando o tal rapaz.

Com um movimento de braços, o garoto disse:

- Vocês realmente pensaram que iam entrar e sair daqui ilesos?!

E sem mais nem menos, a Malu foi arremessada na parede, a poucos metros de onde o Zeca estava, dando-me uma noção do que acontecera com ele.

- Quem é você? - indaguei surpreso.

- Vocês são mais burros do que eu imaginei! – riu ele.

Acabei sendo arremessado também. E a última lembrança que eu tenho é de ter levado uma baita pancada na cabeça.


A Segunda Geração - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora