Capítulo VIII - IOLANDA

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Eu até me sentia grata por todos – especialmente o Zeca – estarem tão empenhados no resgate do Tavinho. Eu só não conseguia me sentir animada, nem esperançosa quanto a isso tudo. Todos nós já vivemos naquele lugar e já sabíamos de cor e salteado do que eles eram capazes. Por mais que eu lutasse contra esse sentimento, era impossível não pensar que eu não veria mais o meu irmão.

Eu sentia culpa também. Quantas vezes eu havia sido negligente, exigente demais ou apenas idiota com ele? Quantas vezes eu deixara de me importar com ele, e pensei somente em mim mesma, como neste episódio lamentável da briga? E quantas vezes eu sabia que ele tinha razão e mesmo assim deixei o pessoal rir dele?

Eu pensei que isso era ser uma irmã mais velha, mas eu estava enganada. Eu era só uma babaca. E eu precisava muito resgatá-lo e pedir desculpas por tudo. Eu só não sabia como fazer isso.

*

Eu estava quieta no meu canto, como eu vinha fazendo desde que descobri que ele tinha sumido. Bolar planos mirabolantes não me ajudava a ter esperança nem nada disso.

- Posso sentar com você? - perguntou o Zeca, aproximando-se de mim

Eu não queria conversar com ele, porque eu sabia que ele viria com aquele monte de baboseiras sobre o plano e como todos se arriscariam para salvar a vida do meu irmão. Ele não faz por mal, mas ele às vezes nos sufoca.

- Pode – respondi, quando na verdade eu queria enxotá-lo dali.

- Nós já estamos pensando em tudo – começou ele – Eu e o Tonho já tivemos algumas ideias que devem funcionar...

- Deve funcionar? - indaguei, perplexa, interrompendo-o – Você está falando da vida do meu irmão, e seu plano 'deve' funcionar?

- É o máximo que eu consegui até agora – desculpou-se

- Eu sei que não é sua culpa, Zeca – comecei – Mas você tem alguma ideia do que eu estou passando?

- É claro que eu tenho...

- Não. - interrompi-o novamente – Você não faz ideia! Você não tem irmãos. E por mais que diga que somos uma família, nós não somos! Ele é a única pessoa no mundo que é sangue do meu sangue. A única pessoa que sobreviveu comigo, apesar de tudo que a gente passou. Ele é o meu irmão! Mais do que você, mais do que qualquer um de vocês. - senti as lágrimas começarem a surgirem nos meus olhos.

Logo, já não conseguia mais vê-lo com precisão, pois as lágrimas deixaram minha visão borrada.

- Eu prometo que nós vamos trazê-lo de volta são e salvo, Iolanda – disse ele, me abraçando.

Não neguei seu abraço. A verdade é que eu sentia tanta falta do seu abraço, que mesmo sabendo que aquilo não era mais do que uma demonstração de pena, eu aceitei. Aceitei e chorei no ombro dele, mesmo que no fundo eu soubesse que isso só nos afastava ainda mais.

A Segunda Geração - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora