A Segunda Geração - Livro 1

Capítulo X - JOCA

Eu posso não ser do tipo que fala muito, mas isso não significa que eu não observe tudo que acontece ao meu redor. Na verdade, acho que ninguém nesse grupo saberia descrevê-lo melhor do que eu – sem querer me gabar, é claro.

Sei, por exemplo, que a Iolanda gosta do Zeca muito mais do que ele gosta dela. Sei também que o Zeca é tão inseguro, que fica com essa lenga-lenga de querer ser líder só pra ninguém notar isso. Sei ainda que a Sara arrasta o maior bonde pelo Tonho, mas acho que isso todo mundo já deve ter percebido. Sei também que a Iolanda está se sentindo culpada por sempre ter deixado o irmão em segundo plano. Na verdade, quase todos sempre fizeram isso, mas ela, como irmã, sente mais culpa do que nós. Na verdade mesmo, eu não sinto qualquer culpa a respeito disso! E sei também que o Tião a defende com unhas e dentes porque sente alguma coisa por ela. Talvez ele não saiba ainda, mas eu sei.

Eu poderia descrever qualquer um deles com tanta facilidade quanto eu poderia dizer o meu nome. Todos com exceção de uma pessoa: a Malu. Até agora, por mais que eu observe, não consigo ter uma ideia formada sobre o que ela é, faz ou quer. Ela é apenas indecifrável. E por mais que o Zeca lamba o chão que ela pise, nem ele mesmo sabe qual é a real sobre ela.

É por esse motivo que todos não sabiam exatamente se acreditavam na ideia absurda da Malu.

- Você está brincando? - perguntou o Tião.

- Eu tenho cara de quem está brincando? - tornou ela séria.

Todos ficaram se olhando, como se não tivessem certeza se ela estava falando sério ou não.

- É que essa sua ideia é meio arriscada. - comentou o Zeca, coçando a cabeça.

- E eu aposto que vocês têm uma ideia melhor – debochou ela.

- Na verdade não temos – respondeu a Sara.

Todos ainda pareciam desconfiados, porque era um plano esquisito, para dizer o mínimo.

- É verdade! - exclamou a Sara, insistindo no assunto – Nós realmente não temos um plano melhor.

- E quem vai se arriscar a esse ponto? - perguntou o Tonho

- Eu vou – respondeu a Malu.

- Ah tá! - exclamou o Tião, incrédulo – Você quer que eu acredite que você vai se arriscar pra salvar uma pessoa que você nem conhece direito?

- Até onde eu sei vocês fizeram o mesmo por mim – respondeu ela – Nada mais justo do que retribuir o favor.

Ninguém disse mais nada. E por mais que ela tivesse razão, ninguém botou muita fé nessa história.