O Primeiro Passo

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Eu estava sobre o corpo dela. Nossos corpos estavam vazando pelo sofá e eu estava praticamente nua. Eu revirei os olhos, odiava quando aquilo acontecia. Eu me sentia a pior pessoa do mundo quando tinha sonhos com ela.

Pus-me de pé e com um baque eu fui atingida pela verdade: Não era um sonho. Eu havia dormido com Lena, eu havia beijado a Lena, nós havíamos até feito aquilo. Depois de dois anos, dois anos de amizade. Eu me senti estranha, não é que aquilo não batia com o que eu queria. É só que, é só que... Eu não sabia. Eu não sabia o que era, eu não fazia a mínima ideia.

Eu procurei minhas roupas pelo escritório. Encontrei minha calcinha e tive um flashback imenso da noite passada, um calafrio subiu pela minha barriga e me deixou exaltada. Não foi bom, foi maravilhoso. E ainda assim parecia errado, parecia mais errado ainda.

Saí o mais rápido possível de lá e tranquei a porta para que ninguém a incomodasse. Quando girei nos calcanhares para andar pelo corredor, dei de cara com a secretária dela. Provavelmente não a minha maior fã - eu admito ter culpa por termos começado com o pé esquerdo.

Ela sorriu pra mim, um sorriso muito diferente dos contrariados que ela me soltava diariamente.

-Bom dia, Senhorita Danvers. – ela disse com um tom estranho.

-Algum problema? - eu perguntei ajeitando meus óculos.

-Acho que não. Com certeza não na noite. Foi boa, né?

Eu ergui minhas sobrancelhas, extremamente confusa, principalmente ofendida e passei por ela á passos largos em direção ao elevador.

-Eu sempre soube. São os óculos, te deixa igualzinha as moças da internet.

Eu retirei meus óculos furiosamente e então me lembrei para o que eles serviam afinal. E os coloquei novamente. Eu estava extremamente zangada com aquela menina, queria bater nela, mas provavelmente não conseguiria.


Enquanto eu voltava pra casa, recebi uma ligação da Alex. Cruzei os dedos para que fosse algo no DOE, precisava urgentemente fazer alguma coisa que fizesse sentido. Mas o que ela queria era me encontrar no café para conversamos, havíamos perdido a noite do sorvete porque ela estava com a Maggie e... Bom, ela estava com a Maggie.

Eu passei pela porta do café e logo a avistei em uma mesa no canto. Sentei-me rapidamente ao lado dela e pedi um frapuccino.

-Bom dia. – ela disse radiante.

Eu revirei os olhos, pela primeira vez o bom do humor da Alex depois de uma longa noite com a Maggie me trouxe mais que nojo e prisão de imaginação. Ajudou-me a lembrar que eu também havia feito a mesma coisa naquela noite, o que não era... Comum, digamos assim.

-Bom dia.

-O que houve? - ela perguntou me encarando.

Eu deitei minha cabeça na mesa, extremamente confusa. Eu não queria contar pra ela o que eu havia feito, eu sabia como ela iria reagir. Ela e o Barry teriam a mesma reação, mas eu contaria para o Barry porque ele está á uma vibração de Terra longe de nós.

-Eu fiz algo que eu não deveria.

-Isso acontece... Sempre. – ela disse passando a mão no meu cabelo. Eu levantei a minha cabeça a encarando incrédula. – Okay, foi mal. Insensível da minha parte. O que você fez tem a ver com...?

-A parte amorosa da vida. – eu disse lentamente. Ela assentiu para que eu continuasse. – E eu acho que eu fiz algo ruim e errado. Mas parece bom – eu fechei os olhos e senti um arrepio na espinha. – Foi muito bom...

-Kara. Por favor. – ela disse educadamente com a testa franzida.

-Okay. É... - eu pigarreei. - Eu e a Lena fizemos sexo.

Ela me encarou congeladamente e eu me encarei congeladamente. Não só porque eu havia dito aquilo, mas porque dizer aquilo em voz alta levou a coisa pra outra dimensão na minha cabeça. E eu finalmente entendi porque aquilo era tão errado.

-Você não está gritando. – eu fiz uma observação.

-Não. Eu estou preocupada com a parte em que você acha que foi um erro.

-Ah, eu não sei... – eu voltei minha cabeça para a mesa gelada. – Eu estou tão confusa, Alex... Foi tão bom, mas... – eu respirei fundo. – Eu não sei o que vai acontecer agora.

-Eu acho que você deveria colocar seus sentimentos em ordem. Vai com calma. É como fazer um passe no futebol americano, você tem que avaliar as opções. – eu a encarei com as sobrancelhas franzidas. – Desculpa. Esse não foi o meu melhor conselho.

-Concordamos. Mas eu entendi. Muito obrigado.

-Que bom. – ela disse me dando um beijo na testa. – Agora eu preciso ir...

Uma risada seca e alta explodiu ao lado dela. Eu levantei minha cabeça da madeira e ela se virou na cadeira encontrando um homem alto e gordo com uma camisa do The Clash. Ele estava encarando nós duas e eu não fazia a remota ideia do por quê.

-Algum problema?

-Vocês são namoradas? - ele perguntou com a voz rouca.

-Ela é minha irmã. – eu disse no tom mais controlado que eu pude já cerrando os punhos abaixo da mesa. Alex segurou a minha mão abrindo-a novamente.

-Por quê?

-São essas lésbicas malditas...

Alex não deixou que ele terminasse. No ensino médio todos os garotos da escola queriam sair com a Alex, mas noventa e nove por cento deles também tinha medo dela. Hoje cem por cento tem. Ela se levantou e puxando o braço direito do homem para trás como se ele fosse uma alavanca, ela pressionou o tronco dele pra baixo, batendo a sua cabeça na beirada da mesa.

Um baque alto soou no café, chamando a atenção dos desligados, até então, na confusão toda. Um copo caiu no chão, junto com o homem que desmaiou no chão como se fosse uma folha de papel. Todos encaram a Alex, com um misto de medo e admiração. Eu estava sorrindo, não sou fã de violência, mas eu sou fã da minha irmã.

-Pede pra ele me ligar caso ele queira fazer queixa. – ela disse colocando um cartão de visitas em cima da camisa dele. Eu segurei o riso. – Vinte á mais pelo copo, desculpa. – ela deixou uma nota em cima da mesa enquanto o atendente assentia freneticamente.

-Você está bem? - eu perguntei.

-Claro. Acontece o tempo todo com a gente. – ela disse com um olhar triste. – Eu tenho que ir trabalhar. – ela disse me dando um beijo na testa. – Ninguém pra gritar agora? Okay.

Eu ri enquanto ela saia do café. Maggie iria amar ver essa cena. 


Eu saí do café assim que terminei de ajudar a moça a limpar o lugar e tirar o gordo do meio do caminho. Ela continuou me perguntando em quanto tempo ele iria acordar, como se a Alex tivesse acertado-lhe um feitiço e não um golpe de luta.

Deram-me dois frapuccinos extras, pelo comentário contra nós duas, e eu agradeci indo para o meu apartamento.

Permaneci remoendo na minha cabeça o que Alex havia me dito no café. Quais eram as minhas opções? Quer dizer, as minhas opções que não tinham nada a ver com os encontros relâmpagos e os encontros que eu não pude terminar. Isso resumia as minhas opções á uma pessoa.

Eu não sabia as chances de aquilo dar certo, ou de se quer a pessoa querer sair comigo. Mas o maior problema no momento era que eu mal conseguia digitar o número no telefone sem tremer.

-Oi. Kara?

-Oie. Você está livre amanhã?

Eu escutei o silêncio do outro lado da linha e percebi o quanto eu falei aquilo rápido demais. E também me lembrei que geralmente as pessoas dizem "como vai?" entre outras coisas.

-Claro. – ele disse contente. – Eu te pego ás seis.

-Okay. – eu disse desligando o telefone rapidamente. – Ai, eu sou um poste!

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Aquele beijo ^^ Falem comigo nos coments, pls.

Em Nome Do Amor I | SUPERCORPOnde histórias criam vida. Descubra agora