O Funeral

7K 466 197
                                    


Lena Luthor P.O.V.

No dias seguintes, eu não acordei, em nenhum deles.  Só se acorda quando dorme e essa se tornou a atividade mais difícil do mundo pra mim. No começo eu até me sentia levemente em paz com a Kara enrolada em mim, encarando seu rosto enquanto ela dormiu, ouvindo as coisas que ela dizia na sua língua materna, mas com o tempo até aquilo começou a me tirar do sério.

Quando até alguma coisa que a Kara faz é capaz de me deixar irritada, é porque as coisas estão perdidas.

Em menos tempo do que o esperado, até nas minhas previsões, o luto passou.

Foi estranho como em algum momento ele simplesmente me deixou em paz, mas com um pouco de pensamento eu cheguei a conclusão de que era o que fazia sentido. Afinal, por quem eu estava de luto? Definitivamente não era pela minha mãe. Pelo que eu estava de luto?

Mas os efeitos colaterais do luto nunca me deixaram.

Eu continuava sentindo o vazio que senti quando a notícia caiu sobre mim, eu sabia que com aquele evento eu perdia um pedaço dos meus propósitos e força da minha força de vontade. E, além disso, eu sabia de todos os problemas que a morte da Lilian iriam me causar nas próximas semanas. 

Tudo isso era manejável. Eu sabia lidar com a justiça e com executivos, se não soubesse, não teria durado tanto tempo na cadeira da L-Corp. Mas com uma coisa eu não sabia lidar: todas as memórias da minha infância e da minha adolescência que de repente vieram a tona. Em um curto período de tempo tudo que eu consegui foi filtrar as memórias e infelizmente até mesmo as felizes me deixavam deprimida.

As felizes, caso se pergunte, eram as de mim com o Alexander. Todos os momentos que passamos juntos, ideias que tivemos juntos e expectativas que eu tinha de que aos 30 anos que eu tinha agora, eu e ele seríamos algo grande. E esse último pensamento era o que me entristecia profundamente.

E eu não sei lidar com tristeza. Pior ainda em grupo. E isso não era bom já que agora eu tinha amigos e tudo que eles queriam - como amigos de verdade sempre querem - era me ajudar. O problema, no entanto, é que eu não queria tanta ajuda.

Admito que era sensacional ter todo mundo querendo me animar a todo momento, mesmo que ninguém realmente soubesse como, mas eu sentia alguma coisa dentro do meu corpo gritando como se eu quisesse socar alguma coisa e não listar meus problemas parentais só porque Lilian havia morrido.

Logo, quando acordei na manhã do funeral de Lilian e encontrei um post-it na bancada dizendo "Seu café da manhã está pronto. Fui buscar todo mundo. Beijos  ^^"  tudo que eu quis foi amassar o papel e jogá-lo do outro lado da cozinha. E visto que nada me impedia, eu efetivamente o fiz.

E mesmo vendo o papel voar apenas um metro antes de cair, devido á leis da física que eu conhecia muito bem, e escutar o som quase inaudível dele no chão, eu senti um impacto enorme pela ação. E quis fazer de novo, com algo maior, imediatamente.

Eu sabia que aquilo era um péssimo sinal, pessoas em seu auge de saúde mental normalmente não tinham aquele tipo de pensamento, mas sinceramente, esse era o menor dos meus problemas no momento.

Atravessei a sala de estar até o buffet e analisei por um segundo o que era mais proveitoso de se jogar na parede, o que faria mais barulho ou se partiria em mais partes, uma taça de vinho, uma taça de champagne ou um copo de whisky? Eu deveria enchê-los, tomar um gole e jogá-los em seguida? Não tinha tempo pra essa decisão, iria com eles vazios mesmo.

Peguei uma taça e enquanto erguia ela no ar senti um poder desconhecido e muito bom sobre mim, se destacando completamente entre todas os miseráveis sentimentos que eu estava tendo. Mas infelizmente antes que eu pudesse sentir o poder por completo, a porta se abriu.

Em Nome Do Amor I | SUPERCORPOnde histórias criam vida. Descubra agora