A Escolha

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-Você quer me matar? Fique á vontade.

Eu me pus de joelhos e coloquei a mão sobre a cabeça em frente á eles. Eu estava tentando ganhar tempo já que tinha completa certeza de que ele não queria me matar, ele queria outra coisa bem mais dolorosa.

De todas as coisas que um super-herói precisa na vida, uma identidade secreta é a mais importante. É a única coisa que afasta ele de uma celebridade de um reality show, a única coisa que realmente garante a segurança dele. No momento em que eu revelasse a minha identidade eu deixaria de ser uma figura utópica de esperança e me tornaria um ser humano acessível, real e mentiroso. Todas as pessoas com quem eu já convivi questionariam tudo que já viveram do meu lado e as conclusões que eles tirassem poderiam ser boas, ou não. Quando eu perdesse a minha identidade secreta tudo que eu conquistei se perderia porque um paradoxo do que era uma conquista humana e algo surreal se iniciaria.

Mas eu não tinha opções. Ou eu abria mão da minha identidade secreta, ou eu abria mão da minha família.

Eu estava naquela situação de novo, mas dessa vez eu não estava presa por kryptonita, eu não estava fraca e morrendo pouco a pouco, eu estava ali viva e em auge dos meus poderes. Eu podia estourar e abater cada um daqueles homens, mas eu não o faria. Eu estava lutando contra mim mesma, e independente do que acontecesse naquela batalha, eu nunca sairia ganhando.

-Eu não quero te matar, Supergirl. – Ele disse retirando o fuzil da cabeça da Lena e colocando sobre a minha, apenas por diversão. – Esse nunca foi o plano. Você nunca esteve no plano. E você tem trinta segundos.

-Kara – eu escutei a voz da Alex ao meu lado. Eu a encarei pela lateral da minha vista, ela fixou seus olhos nos meus e balançou a cabeça negativamente. – Você não precisa fazer isso.

-Eu preciso sim.

-Não precisa não. – ela disse com a voz trêmula.

-Choro, isso, chora! - a voz do pistoleiro cortou a voz dela. - Adicione mais drama á esse momento. Afinal, esse é um momento de família. Por favor, chorem!

A voz daquele homem nunca soou tão irritante na minha cabeça como estava soando naquele momento. Eu estava sentindo fúria pela impotência na qual haviam me colocado, tudo que eu queria era me erguer e lutar até que alguém não conseguisse mais mexer nenhum dos músculos. Mas eu não podia.

Aquilo não dizia respeito só á mim, tinha a ver com todas as pessoas ao meu redor. A minha identidade secreta era a garantia da vida de pessoas como minha mãe e a Alex tanto quanto Supergirl garantia a vida da cidade. Assim que eu deixasse de ser duas pessoas e me tornasse um só, os meus dois mundos se colidiriam e mesmo que eu conseguisse permanecer intacta, tudo terminaria atingido as pessoas com quem eu mais me importava.

-A gente vai sobreviver á isso. – ela disse fazendo questão de controlar sua voz e prender suas lágrimas.

-Não vamos não. Foi você quem me disse pra nunca me envolver com isso, eu devia ter te escutado...

-Não, não, não. Você fez o certo e está fazendo até hoje. E vai continuar fazendo.

-Eu não vou fazer nada se você não tiver aqui, Alex! Eu amo vocês, ninguém vai morrer!

-Se eles não morrerem agora, eles vão morrer quando todos os seus inimigos souberem exatamente onde você mora. Todos os seus pontos fracos vão estar á mostra... É uma questão de lógica, vão todos morrer.

Eu fechei meus olhos tentando pensar. Quais eram as minhas chances naquela situação? Por que eu ainda estava pensando? Eu não tinha opções, eu não tinha um plano. Eu só não estava disposta á deixar ninguém morrer. Eu não tinha esse direito. Nem que eu passasse o resto da minha vida escondida, que eu passasse o resto da minha vida fugindo, eu simplesmente não poderia trocar a minha liberdade pela vida de ninguém. Muito menos do amor da minha vida.

Em Nome Do Amor I | SUPERCORPOnde histórias criam vida. Descubra agora