A Verdade

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Quando eu abri meus olhos novamente, a sensação foi a pior das possíveis. Demorei longos segundos para efetivamente conseguir enxergar alguma coisa e sinceramente, preferia não tê-lo feito.

Minha cabeça parecia pesar uma tonelada – na verdade, meu corpo todo pesava, mas naquele momento era a única coisa que eu conseguia mexer. Meu uniforme estava preto e não azul como de costume, como eu o havia feito, e eu não tinha ideia do por que.

Demorei muitos segundos para conseguir erguer a minha cabeça e quando tentei fazer mais que isso, notei que as minhas mãos estavam amarradas. Eu estava de joelhos, no centro do andar onde há momentos atrás, estava acontecendo uma grande festa. Meus pulsos estavam voltados para as minhas costas e amarradas por algo que eu não conseguia quebrar ou rasgar e pelo efeito que estava tendo em mim, eu já sabia o que era.

Eu escutei uma risada seca atrás de mim, os passos dos saltos serpentearam ao meu redor até que ela entrasse na minha visão. Lena estava com um sorriso animado no rosto, seus olhos brilhavam com excitação e por alguns segundos encarando aquele rosto eu considerei por alguns segundos que eu tinha voltado para casa.

-Bom dia, cinderela. – ela disse.

Sua voz estava diferente. Não era o som que geralmente me agradava e no momento eu não tinha certeza se era o tom irritante de controle em sua voz, ou se a situação, mas algo estava errado.

-Como se sente?

Eu não respondi, nem se quer ergui o olhar.

Precisava descobrir onde todos haviam ido parar e principalmente como eu havia chegado ali. Eu não estava disposta a morrer naquele dia.

-Vai me ignorar? Okay. Então, vamos para as partes importantes, eu não me importo em fazer monólogos. – Ela se ergueu novamente, voltando a andar pelo andar vazio.

Havia um feixe de luz em cima de mim, mas eu não conseguia ver qualquer outro foco de luz vindo de qualquer lugar no andar. Na verdade, eu não conseguia enxergar as paredes do local, apenas o chão no qual eu estava jogada. A sala toda parecia um enorme vazio, e eu só tinha "certeza" de onde estávamos devido ao piso.

-Assim que descobri quem você era, principalmente quando você estava sentada no meu colo – ela sorriu erguendo a sobrancelha. – Eu fiquei imaginando, deve ser difícil implorar de joelhos com uma saia dessas... E aqui estamos, prestes a descobrir... – Ela se agachou novamente com um sorriso largo. Colocou o dedo no meu queixo, erguendo meu rosto em sua direção. – Então, vai me poupar do esforço?

-Eu não sei. Nunca implorei por nada. Não é pra isso que o uniforme serve.

Não foi uma resposta prudente, mas, de fato, também não era inverídica.

-Okay. Imaginei que não. – Ela riu. – Mas pra tudo há uma primeira vez. Alex também não costuma chorar, mas olha só...

Ela se ergueu e eu instintivamente ergui minha cabeça á procura da Alex, minha cabeça pesou e doeu imensamente, praticamente caindo sobre meu corpo. Eu suprimi um grito de desespero enquanto focava a imagem ao fundo da sala.

Uma lâmpada pendia do teto iluminando uma tábua de ferro na qual Alex estava. Estava destruída. Foi definitivamente pior do que qualquer coisa que eu já havia visto. Seu rosto estava pendendo levemente para o lado, então eu não conseguia ver seus olhos, mas sabia que estavam fechados. Seus braços estavam estendidos e marcados em toda a sua extensão com tantas marcas diferente que eu não conseguiria identificar a causa de todas. O sangue e a vermelhidão se espalhavam por toda a sua roupa.

Em Nome Do Amor I | SUPERCORPOnde histórias criam vida. Descubra agora