Em Nome Do Amor I | SUPERCORP

O Curativo

Era pouco mais de uma hora da manhã quando eu saí do apartamento da Kara e fui a pé para o café mais próximo. Era um horário perigoso e extremamente frio, mas eu não estava sentindo que algo pudesse me machucar mais naquele dia.

Maggie havia combinado de encontrar comigo o mais rápido possível. Eu não tinha a mínima ideia do que havia acontecido entre ela e Alex, mas a situação já deixava claro que o que aconteceu foi devido á viagem que elas fizeram. Algo que não era bom, porque se o problema não era daqui, não tinha como resolvê-lo daqui provavelmente.

Quando eu cheguei ao café, praticamente vazio – apenas alguns seguranças e outros trabalhadores do turno da noite – encontrei a Maggie sentada em uma mesa nos fundos do café com uma grande caneca de chá. Ela não parecia assustada, aquilo não parecia algo possível para Maggie Sawyer, mas algo diferente realmente havia acontecido. Mesmo de longe era possível perceber que ela não estava com seu bom humor costumeiro e que se eu fizesse alguma piada agora, ela não emendaria em outra.

Eu me aproximei e me sentei á mesa, sem cumprimentos ou introduções. Ela continuou encarando á janela e a rua quase sem movimento do lado de fora, enquanto empurrava uma caneca de chá na minha direção. Eu agradeci com um murmúrio e tendi tirar o meu cachecol do pescoço pela temperatura do ambiente, mas imediatamente percebi porque o estava vestindo afinal.

-Você quer me contar o que aconteceu?

-Só se você quiser. – eu respondi tomando um gole de chá.

-Fique á vontade, você primeiro.

Eu respirei fundo repassando os fatos na minha cabeça. Eles já haviam deixado de ser um filme completo e virado apenas uma coleção de flashes – na ordem mais assustadora possível – dentro da minha cabeça.

-Ela me atacou...

-Durante o sono. – ela completou.

-E depois disso, ela voltou á dormir...

-Como se nada tivesse acontecido.

Eu fiquei em silêncio á encarando por alguns segundos.

-Você conseguiu fazer um curativo? - ela perguntou olhando o meu pescoço. Um cachecol não seria suficiente para enganar Maggie Sawyer. Eu puxei um pouco a beirada do pano e ela assentiu abaixando a cabeça.

-O que a Alex fez com você?

Ela respirou fundo tomando um gole de chá antes de responder. Ela não parecia estar ferida em qualquer lugar, eu também não conseguia imaginar essa cena. Pelo que eu entendi, eu era a única peça de porcelana ali.

-Ela quase atirou em mim. – Ela finalmente disse. – Pelo visto á Alex dos sonhos é burra porque a arma estava travada. Mas nem eu havia percebido isso até eu fechar os olhos e percebi que não estava no céu em três segundos.

Um silêncio recaiu sobre á mesa. Agora que eu estava realmente falando aquilo em voz alta, e conversando com alguém sobre aquilo, eu conseguia entender completamente a gravidade do que havia acontecido. Nós estaríamos mortas, se não fossem míseros detalhes no momento. Mortas.

-Você tem alguma explicação para o que aconteceu? - ela perguntou.

-Não. A Kara tinha algo pra me contar o dia todo, mas ela não disse nada sobre o que aconteceu de fato na Terra em que elas estavam. Total certeza de que está ligado á isso, mas eu não faço a real ideia do que seja.

-A Alex teve um apagão hoje enquanto voltávamos pra casa. Ela apagou no volante e de repente começou á gritar. Ela não se lembra daquilo também e eu supus que era um Transtorno de Estresse Pós-Tráumático, mas o que aconteceu depois muda tudo. E sendo, ou não, o que aconteceu naquela Terra foi horrível pras duas.