48 - Famílias

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Passaram-se os 8 dias e nosso encontro vai acontecer.
Ele reservou um quarto de hotel pra ele e o pai apenas. O restante da família seguiu para a Argentina para aproveitar os momentos de folga antes do show.
Combinamos de nos encontrar no hotel, por causa da privacidade. Minha mãe já ficou encanada por isso:
- E a gente vai chegar no hotel e vai falar oq?!
- Mãe, calma! Ele já deixou avisado na recepção que iria receber visita.
- E desde quando pode receber visita em hotel?!
- Mãe, como ele msm disse: ser famoso tem que valer de alguma coisa!
- Estou bem assim? - ela conferiu as próprias roupas.
- Está ótima! Apenas seja você mesma, mas com um pouco de controle... - respondi rindo.
- Engraçadinha. Se eu falar coisa errada eles nem vão entender mesmo!
- Já tá assim, é? Não esquece que o Taylor está aprendendo português, então ele não é tão idiota assim.
- Tinha esquecido disso... Mas eu estou me sentindo estranha de ir até lá, assim...
- Assim como? Qq tem?
- Pq vai ser vc e ele e sobra o pai dele e eu! Não é estranho?! Queria que a mãe dele estivesse junto... ou pelo menos sua irmã... - ela estava realmente constrangida.
- Mãe, relaxa! Walker é um amor de pessoa e Diana teve que ficar com as crianças. Imagina vc com 7 filhos?! Vc ia querer aproveitar a viagem ou vir aqui?
- Aproveitar a viagem...
- Então!
- Bah! Eles podem estar acostumados com isso, mas eu não!
- Mãe, só relaxa, ok?
- Relaxa! Relaxa! Fácil falar!
E eu ri. É engraçado ver minha mãe, que sempre teve tantas certezas e sempre foi tão firme, tremer na base.
O táxi buzinou em frente a nossa casa e saímos.
Minha irmã não foi pq ela tinha prova na escola e não podia faltar.
Chegamos na porta do hotel e eles já estavam nos esperando no hall. Walker foi pagar o táxi e minha mãe já cochichou:
- A gente deveria ter vindo de ônibus!
- Re-la-xa.
Mas eu entendo ela. É assim aqui em casa. Nós estávamos acostumadas a lutar por nós mesmas, e receber favores, ainda mais de pessoas do sexo masculino, soa como um tiro no orgulho de sermos quem somos.
Taylor veio até nós e eu não pude deixar de sorrir. Meu coração fez um samba no peito: O sorriso dele foi tão largo e os olhos dele brilhavam. Ele abraçou primeiro a minha mãe:
- Prazer em conhecer - em português.
- O prazer é meu! - respondeu ela com um sorriso de orgulho.
Em seguida ele me abraçou. Foi um abraço que faz você esquecer o que tem em volta. Os segundos pararam naquele momento e eu senti minha alma ser envolvida. É assim que a saudade morre?
Walker veio e ouvi qnd cumprimentou minha mãe:
- Nice to meet you!
Soltei o Taylor e olhei pra ela, que me olhava com cara de "socorro", já que nem inglês básico ela teve a oportunidade de aprender.
- Ele disse prazer em conhecer, mãe.
- O prazer é meu! - respondeu ela e ele sorriu, provavelmente sem entender muita coisa também e então me abraçou.
- Vocês preferem ficar no saguão ou não se importa de irmos até o quarto? - perguntou Walker.
- Mãe, prefere ficar no saguão ou ir pro quarto?
- Difícil, heim? Tô sem graça de ficar aqui com todo mundo olhando, mas subir pro quarto não dá a impressão de coisa errada?
Eu ri: - Mãe, é cruz ou espada. Escolhe rápido que dói menos.
Taylor e Walker nos olhavam e eu expliquei:
- Ela está com vergonha de ficar aqui com as pessoas passando, mas tem medo de ir pro quarto e causar má impressão.
- Somos uma família, não há má impressão nisso. - respondeu Walker com um sorriso. - E brancas desse jeito, ninguém vai questionar nosso parentesco!
Senti um pouco de Zac nele e ri:
- Mãe, ele disse que a gente é branquela o suficiente pra ninguém questionar nosso grau de parentesco... kkkkkkkk
Ela olhou pra eles e disse:
- Que eles são pai e filho não dá pra duvidar! São cara dum, focinho do outro!
- Ela disse que vcs são idênticos, não dá pra negar que são pai e filho.
- Vocês tb são muito parecidas! - respondeu Walker.
- Menos os olhos claros... ela não me deu. - respondi olhando os olhos claros da minha mãe.
- Eu amo seus olhos castanhos! Eles tem pintinhas verdes... são como um pqno universo... -  Taylor respondeu me olhando no fundo da alma.
Eu sorri e meu coração ficou aquecido. Não tem palavra exata para descrever esse sentimento.
- Vamos ficar aqui então? - Taylor.
Minha mãe fazia cara de paisagem quando perguntei:
- Mãe, vai continuar aqui ou vai subir?
- Subir. As pessoas estão nos olhando. - respondeu ela.
- Subir.
Fomos até o quarto deles. Dessa vez é um quarto simples. Até pq na minha cidade não teria algo tão bonito e grande quanto na capital.
São duas camas de solteiro, um frigobar, tv, ar condicionado e uma escrivaninha. Mas no banheiro deu pra ver que tem uma banheira. Nem sabia que esse hotel é assim. É a primeira vez que eu entro em um hotel na minha própria cidade.
Nos sentamos nas cadeiras e eles se sentaram nas camas. Eu fiquei de tradutora, ponte ou intérprete. Chame como quiser. O mais importante é que a conversa girou em torno de amenidades e minha mãe ficou impressionada com a educação do Walker e do Taylor. No fim, ela relaxou, já ria nas conversas e ficou feliz de saber (e ver) que eles me tratavam bem e não faziam questão de eu ser americana ou rica e tão pouco achavam que eu estava me aproveitando deles. A nossa família, ou pelo menos, parte dela, se conhecia e se aceitava. No meio da conversa acabei saindo da cadeira e indo me sentar ao lado do Taylor. Nós entrelaçamos nossos dedos e eu encostei a cabeça no ombro dele. O pai dele e minha mãe nos olharam com olhos de orgulho.
Agora que eu percebi que nós somos oficialmente namorados, isso fez borboletas de gelo baterem asas dentro de mim.
A conversa durou a manhã toda e eles nos convidaram para almoçar com eles. Minha mãe se recusou de inicio, mas com jeitinho, Walker convenceu ela e almoçamos no quarto mesmo, pq apesar dela aceitar o convite, se recusou a ir até o refeitório/restaurante.
Após o almoço, ela decidiu que era hora de ir. Eu poderia ficar um pouco mais, se quisesse, mas ela queria voltar pra casa e ver se estava tudo bem com a Júlia.
Walker pediu um táxi e insistiu em acompanhar ela até o hall. Ela ficou sem graça de ir sozinha com ele, mas eu fiz eles se despedirem ali no quarto e então, lá embaixo, ela só precisaria dizer: "Tchau" e acenar e então ela concordou.
Nos despedimos e eles saíram, deixando Taylor e eu sozinhos.
Finalmente, ele acariciou minha nuca e disse:
- Na maioria do tempo durante o dia, não há ninguém que eu gostaria de ver mais, cuja voz eu preferiria ouvir, cuja mente eu preferiria explorar....
E então, ele me beijou. Uma vez, lenta e profundamente.
Meus lábios já formigavam, pq nós não conseguíamos parar, nem para respirar. Ele me deitou na cama e disse:
– Eu te amo. E sempre amarei.
Eu arrepiei inteira. Eu sei que não vai acontecer nada, pq Walker pode voltar a qq momento, mas ainda assim, meu corpo estremeceu com os pensamentos do corpo dele junto ao meu.
- Seu pai... - sussurrei.
- Eu sei... só não consigo evitar. - disse ele com a voz morna, ajeitando meus cabelos.
- Melhor eu me levantar... - respondi meio sem forças.
- Melhor... - concordou ele.
Eu sou uma cagona. Na verdade, acho que tudo tem sua hora e ainda não era a minha: meu corpo pedia, mas minha mente não. Então eu me sentei na cama e arrumei o cabelo. Olhei e comecei a rir, pq é impossível não notar o volume no colo dele. Ele ficou sem graça e eu me desculpei:
- Desculpa, não pude evitar...
- E vc acha que eu pude? - respondeu ele rindo - Vou jogar uma água no rosto, daqui a pouco meu pai vai entrar e eu não quero que ele me veja assim, todo animadinho...
E como se fosse cronometrado, ele entrou no banheiro e Walker abriu a porta do quarto:
- Onde está o Tay? - perguntou ele olhando em volta.
- Foi ao banheiro... - respondi tentando manter o riso sob controle - minha mãe já foi?
- Já... muito simpática ela. Diana disse que ela era brava...
- E é! Mas ela no fim ficou à vontade para baixar a guarda.
- Ela é uma mulher inteligente. Eu tb cuidaria assim das minhas filhas se fosse sozinha... às vezes eu acho que já pego demais no pé dos meus! E olha que Diana é quem cuida mais da educação deles.
- Vocês são ótimos...
- Obrigada.
- Pai? - Taylor saindo do banheiro.
- Oi Tay. - respondeu ele.
- Ah, nada não! Só queria ter certeza que era você.
- E quem mais seria?
- Quem sabe..? - respondeu ele se sentando na cama ao meu lado novamente.
- Conseguiram matar a saudade? - perguntou Walker.
E eu não sei se era essa a intenção dele, mas Taylor e eu ficamos mais vermelhos que molho de tomate e ele riu. *eu acho que ele fez sim, de propósito!*
- Conversaram bastante? - continuou ele.
- Sim...
- Claro...
Respondemos.
- O taxi demorou um pouco mas foi tudo bem. - continuou ele.
- Que bom... - respondi.
- Eu queria deixar vcs mais à vontade, mas sinto que não deveria deixar dois jovens namorados sozinhos em um quarto de hotel...
E se eu tinha ficado vermelha antes, não sei que nome dar a isso agora. Meu rosto está em chamas!
- Pai! - Taylor igualmente sem graça.
- Sério, filho! Queria que vcs pudessem conversar mais, mas lá em baixo não dá, pq logo alguém te reconhece e aqui em cima, bem... sua mãe me mataria, vc sabe disso.
- Pelo amor de Deus, pai! - Taylor beirando a loucura.
Esse é um daqueles momentos em que seus pais te constrangem na frente de alguém e vc não pode fazer nada à respeito.
- Tudo bem, Walker. A gente entende... - respondi tentando quebrar o clima e desviar o assunto.
- Nora sensata... - respondeu ele. - vou pegar uma cerveja, vc bebe?
- Não, obrigada. - respondi.
- Taylor?
- Não, agora não pai. Mais tarde, talvez.
*Então Walker sabe que ele bebe...*
Acho que meu olhar me denunciou, pq Walker disse:
- Em casa todos apreciamos uma boa cerveja... claro que com "todos", eu quero dizer todos os que já podem beber; mas bebemos assim, no nosso cantinho, só para degustar.
- Eu não bebo... nunca gostei, mas minha mãe tb gosta de uma cerveja aos fds.
- Bom...
E quando nos demos por conta, já era noite e jantamos juntos no quarto novamente e depois nos despedimos. Walker foi legal e deu uns minutinhos às sós no quarto para que eu pudesse me despedir de forma mais intima.
Nos beijamos e quando eu percebi, estava chorando. Eu estava com o coração partido, é verdade. Não queria deixar ele ir por mais 4 meses. Mas eu não tinha percebido que esse sentimento tinha sido grande o bastante para sair do peito e correr pelos meus olhos. Taylor secou minhas lágrimas com os polegares e me abraçou forte:
- Não chore, meu amor... eu sei como vc está se sentindo agora, mas isso não é um adeus, é um até logo, ok?
Concordei com a cabeça, pq as palavras estavam emboladas na garganta e eu fungava. Deve ser uma cena lastimável. Mas o inevitável aconteceu e nos despedimos do contato quente e físico para voltar ao frio virtual.

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Dias depois, recebi a letra de uma música chamada "Never Let Go", que não entraria no álbum, mas que é minha... ainda sem melodia, mas minha. Um poema.

"Penny Lane on line"

- Como foi seu dia?
- Péssimo!
- Pq? Aconteceu alguma coisa?
- Estamos tendo problemas com a gravadora...
- Oq está acontecendo?
- Divergência de interesses...
- Quer conversar sobre isso?
- Não quero te preocupar com coisas desnecessárias...
- Uma vez vc me disse que estaríamos juntos para tudo, não disse? Então seus problemas tb são meus e msm que eu não possa te ajudar, eu posso te ouvir.
- Muito bem então... estamos insatisfeitos pq a gravadora quer explorar o TTA até o fim e não é isso que queremos. Sei que tem dado certo, as turnês tem sido cheias e os ingressos esgotam fácil, mas isso vai acabar... não existem muitos lugares aos quais a gente não tenha ido ainda e eles insistem em reclamar das músicas novas que temos enviado.
- Vocês já tem novas músicas?
- Já... nós compomos o tempo todo e, normalmente qnd fechamos um álbum, temos outras tantas músicas na reserva.
- Não sabia. Pra mim vcs compunham no estúdio só.
- Não... aquela música que eu te mandei dias atrás, sua música, eu compus depois que vc foi embora. Fiquei pensando o tempo todo em tudo e acabei escrevendo ela no avião, indo pra Argentina. Aí converso com os meninos e fazemos ajustes e colocamos a melodia. Às vezes convidamos músicos para nos ajudar nisso, mas normalmente é um trabalho entre nós mesmos. O problema é que se a gravadora não concorda, nós não podemos gravar e nossa gravadora atual tem dificultado as coisas. E agora eles deixaram claro que querem explorar a nossa volta até o fim e só depois pensar em novidades. Não concordamos com isso. Queremos pensar no futuro e não só aproveitar a onda do momento... não somos esse tipo de artistas.
- E oq seu pai acha disso?
- Meu pai concorda com a gente, mas temos um contrato, Lola. Quebras de contrato são caras e burocráticas e além disso, nós precisaríamos de outra gravadora e isso tb não é fácil de se conseguir.
- Entendi. Vcs tem algum plano?
- Por enquanto nosso plano é cumprir a agenda e assim que acabar, vamos tirar férias e nessas férias, de cabeça fria, vamos pensar e provavelmente vamos gravar novas demos e enviar para gravadoras.
- É um bom plano.
- Esperamos que seja o suficiente.
- Vai sim.
- Me ama?
- Sempre.

(...)

Weird - E foi assim (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora