Larguei meus livros de Machado de Assis de lado por um momento, ou do contrário eu dormiria sentada naquela escrivaninha e realmente não seria muito bom acordar com meu pai gritando que eu estava dormindo. Parei no banheiro para passar uma água no rosto e andei em direção à cozinha, cantarolando alguma música em tom baixo, antes de deslizar pelo tapete da cozinha. Procurei um pacote de pipoca no armário e arranquei-o, colocando-o dentro do micro-ondas e selecionando três minutos e enquanto estourava, procurei uma bacia para despejar o conteúdo na mesma.
O barulho sonoro me despertou da decoreba que eu tentava lembrar para a prova de literatura brasileira e puxei o saco do aparelho e despejei o conteúdo em uma bacia, aproximando a mesma do saleiro e enchi de sal, até imaginando que meu cardiologista me mataria na próxima consulta. Antes de voltar para a minha atenção aos clássicos brasileiros, a campainha tocou.
Saltitei pela sala de TV e olhei pela lente olho de peixe com dificuldade, já que aquilo era bem mais baixo do que minha altura permitia e observei uma loira, muito bem arrumada, passando as mãos nos cabelos lisos e franzi a testa. Bonita demais para ser uma das namoradas do meu pai. Segurei a maçaneta com uma mão e com a outra eu abracei meu balde de pipoca. A porta fez o barulho infernal de sempre e eu coloquei primeiro a cabeça para fora, a taxa de qualquer tipo de crime na cidade era igual à zero, mas não era todo dia que tinha um estranho na sua porta, ainda mais com um BMW 2003 novinha estacionada na rua.
- Ei. – Falei, colocando o corpo para fora, notando que estava muito mal vestida com meu short e regata, enquanto aquela mulher usava um lindo sobretudo, deveria estar morrendo de calor. – Posso te ajudar? – Falei e ela abriu um sorrio para mim.
- Hey. – Notei um sotaque forte. – Hablas English? Entendeste inglês? – Ela perguntou, fazendo uma dificuldade incrível para falar.
- Inglês? Sim. – Falei, usando meus conhecimentos adquiridos em seis anos de inglês particular. – Está procurando alguém? – Parece que uma luz surgiu em seus olhos, feliz por alguém entender sua língua, a cidade era pequena, mas fazíamos parte da civilização.
- Sim, sou Jessica Stone, de Los Angeles, Estados Unidos.
- Eu sei onde fica Los Angeles. – Falei, dando um sorriso de torto.
- Bom! – Ela riu fraco. – Eu procuro por Alice Lins, é você, certo? – Franzi a testa, pronta para sair correndo novamente para dentro.
- Depende! Quem gostaria? – Perguntei, colocando uma pipoca na boca.
- Eu sou empresária de músicos de uma gravadora de Los Angeles, e eu recebi um vídeo seu, será que poderíamos conversar?
- Sobre o quê? – Perguntei, aquele papo estava muito estranho.
- Acho que você deve estar receosa sobre isso. – Ela falou, tirando do bolso um cartão. – Eu trabalho na Virgin Records, moro em Los Angeles, me mandaram um vídeo seu cantando e gostaríamos de te oferecer um contrato. – Soltei uma risada fraca.
- Desculpa, é que é estranho acreditar, uma mulher de Los Angeles, vindo para o Brasil, ou melhor, em Relva, no fim do mundo, para conversar comigo, me oferecer um contrato? Você disse sobre vídeo, que vídeo? – Quando vi estava falando muito rápido.
- Nós encontramos as melhores vozes, não é fácil, mas temos nosso pessoal. – Ela sorriu. – Já sobre o vídeo, creio que foi em uma formatura, certo? – Ela abriu sua mochila e puxou um notebook da mesma, eu só tinha visto um negócio daquele na internet, assim que ela abriu aquilo, a tela se acendeu e um vídeo subiu rapidamente.
- Oh meu Deus, aquelas vacas! – Falei alto, trocando de mãos com ela, lhe entregando a bacia de pipoca e observei o vídeo em que eu cantava uma das minhas músicas favoritas no palco do concurso de talentos do Ensino Médio no fim do ano passado. – Onde você encontrou isso?
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Total Stranger | Chris Evans
RomanceA história de uma adolescente que tem o incrível dom de cantar e acaba sendo descoberta por uma grande gravadora, a Virgin Records. A história, mostra sua ascensão à fama, envolvimento com os membros de bandas, família e amigos, além de suas escolha...