Brothers in arms are fighting tonight
the Forces of steel meet again
born in the fire, they look to the sky
power of metal unchained
(Unchained, Hammerfall)
Jackie sentia que finalmente começava a se recuperar do vício. Já não sentia tanta dor, as ondas vinham muito mais esparsas – a última fora durante a tarde anterior. Ela estava preocupada, contudo, com Jade, que continuava com a ideia fixa em voltar para sua antiga casa, para o mestre Júlio, e voltar a servir a seus pés. Pensar nisso, em como estava livre dessa realidade, a fazia respirar aliviada enquanto olhava ao longe, por sobre os prédios, na direção das docas. Desviou o olhar para os armazéns, sabia que em algum deles Rubi estaria se esfregando em Júlio e os homens, talvez, organizassem um resgate para Axel, pois não os via perdendo o sono pelo sumiço dela ou de Jade.
— Saudades de casa, Gata de Rua?
Disse uma voz atrás dela. Era Pam, a filha da chefe da "tribo", como elas se referiam a si mesmas.
— Ah, olá, Pam. — virou-se e respondeu. — Saudades? Não. Apenas pensava se eles estão se organizando para resgatar Axel.
— Não pense em falar comigo como se fosse uma de nós, escrava. — sua voz soou com raiva e desprezo — sou EU quem se preocupa com o que eles fazem fora daqui. Não esqueça disso. E se está tão preocupada, você virá com a gente hoje à noite em uma ronda.
— Mas sua mãe e Daphne disseram...
— Eu sei o que elas disseram, escrava. Você não pertence a esse lugar, não sabe como as coisas funcionam aqui. Por que você não pega sua amiga viciadinha e some daqui antes da noite cair? — terminou de falar com o dedo logo abaixo do nariz da policial.
— Calma! Eu não sou sua inimiga, Pam. Eu sou grata a vocês por nos acolherem... — desviou o olhar com certo tom de vergonha na voz — E por terem me curado do meu vício... Pode ficar tranquila, se você quer ir a uma ronda, eu vou junto.
— Veremos como você se sai no campo de batalha então, viciada. — Concluiu se afastando.
Jackie sentiu seu sangue ferver ao ouvir a forma como a garota lhe falara. Ela tinha praticamente dez anos a menos que ela. Como ela ousava falar daquela maneira, apontando-lhe o nariz? Decidiu por respirar fundo, afinal, aquela era a filha da líder do lugar, e ela e Jade, eram hóspedes. Voltou, por fim, a seus aposentos.
— Jade? Amor? — perguntou escorada no marco da porta do pequeno quarto onde estavam acomodadas. — Está acordada?
— Estou... — Respondeu a menina com a voz fraca.
— Olha... Hoje à noite eu vou com a Pam e outras meninas fazer uma ronda... Talvez passemos pelos armazéns. Não quer vir com a gente?
— Por que você insiste em se juntar a elas, meu amor? — Perguntou a menina sentando-se na cama, o que Jackie já sabia ser um convite para que ela se juntasse. — Nós... Nós não somos Elas. Não pertencemos a este lugar... O nosso lugar é com...
Jackie colocou a mão em seu rosto e a beijou nos lábios. Odiava quando ela entrava naquela conversa, e sabia que não adiantava tentar argumentar que Jade não mudaria de ideia. Ela sabia o que teria que fazer se quisesse continuar com as Nightmares, mas seu coração ansiava que houvesse outro jeito.
— Desculpe, amor. Eu não deveria ter te convidado... — fez menção de sair da cama, a outra a segurou; — sei como você se sente em relação àquele lugar. Mas veja... A gente vive aqui agora. Temos uma oportunidade de mudar nossas vidas! Não precisamos, além do mais, ficar aqui para sempre, como precisaríamos com Júlio ou em qualquer outro lugar. Podemos ir embora!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas de Rat's Bay - Jackie Aeon
ActionCrônicas de Rat's Bay é uma distopia sombria e profunda, um mergulho ao que há de pior e mais podre no coração humano. Em uma cidade dominada pela corrupção, Jackie Aeon é uma jovem detetive. Sua missão, entretanto, não é fácil: ela precisa se infil...