"Well, I've been haunted in my sleep
You've been starring in my dreams
Lord I miss you
I've been waiting in the hall
Been waiting on your call
When the phone rings"
(Miss you, Rolling Stones)
Como vinha fazendo ao longo de todas as noites no último mês, o único ocupante do sobrado de número Dez, acorda sobressaltado, o aparelho de telefone apertado na mão. Antes mesmo de abrir os olhos, o homem levava o aparelho ao ouvido.
— Alô? Jay? Jay, é você? — perguntou um totalmente aflito Brian — Responde, amor! Onde você está? Você está bem? Jackie!
Tendo como resposta apenas o silêncio, ele acionaria a discagem rápida para o serviço de monitoramento da cidade.
— Bom dia. Aqui é Brian Clarke, assessor da conselheira Nikolaidis — disse apressadamente, como fizera tantas manhãs antes — Eu preciso que você me diga todos os últimos números que ligaram para esta linha, e o horário.
— Claro, senhor — respondeu uma jovem com voz de sono. E, após alguns instantes, continuou — Senhor, a última chamada para esta linha faz mais de duas semanas. O senhor deseja o número?
— Duas semanas?! — indagou irritado o homem — impossível! Eu ouvi o telefone tocar agora! Tinha uma respiração nele! Eu ouvi! Confira novamente!
— Um momento, senhor — após um tempo, outra pessoa assume o fone. — Sim, pois não, senhor? Sou Carl Allen, supervisor desta unidade. Em quê posso ajuda-lo, senhor?
— Escute. Eu preciso que você cheque apenas mais uma vez sobre quem ligou para cá. É só o que peço.
— Desculpe-me, senhor Clarke, serei franco. — disse em tom sério o outro homem — O senhor tem ligado para cá todas as manhãs, perguntando a mesma coisa, e, como em todas as manhãs, a resposta é a mesma: ninguém ligou para esta linha. Se o senhor está procurando alguém ou a espera de contato, talvez deva contatar a pessoa novamente, ou achar outro meio de comunicação.
Totalmente derrotado, o rapaz apenas desligou o telefone sem dar uma resposta ao homem. Ele estava certo, afinal. Ela não ligou. Fora apenas um sonho, como em todas as outras manhãs, ao longo dos últimos dois meses. E apenas naquele último ele acordava com a impressão de escutar o toque do aparelho. Por fim, rastejou para fora da cama até o banheiro, ligou o chuveiro, molhou-se rapidamente, e saiu. Enfiando a roupa no corpo, arrumou-se em um espelho e partiu para o trabalho. Sua vontade era trancar-se em casa, era isso que seu coração mandava fazer, convencendo, às vezes, até sua mente. Mas ele não podia. Tinha um importante cargo junto ao conselho do Comércio da cidade. Desceu as escadas, os pés arrastados nos degraus. Atravessou a sala, a luz acinzentada da manhã nublada dava ao ambiente uma atmosfera etérea, como que em um sonho ou em uma pintura. E, finalmente, viu-se do lado de fora, chegando ao prédio onde trabalhava em pouco tempo.
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Crônicas de Rat's Bay - Jackie Aeon
ActionCrônicas de Rat's Bay é uma distopia sombria e profunda, um mergulho ao que há de pior e mais podre no coração humano. Em uma cidade dominada pela corrupção, Jackie Aeon é uma jovem detetive. Sua missão, entretanto, não é fácil: ela precisa se infil...