Crônicas de Rat's Bay - Jackie Aeon

Capítulo 8 - Debutantes

Guess I should say thank you
For the "hate yous" and the tattoos
Oh baby, I'm cool by the way
Ain't sure I loved you anyway
Go 'head, babe, I'mma live my life, my life, yeah

(Shout out to my ex, Little Mix)

Lara permaneceu deitada em sua cama muito tempo depois da saída da escrava. Aquela era uma garota diferente de todas as outras que sua tutora havia apresentado até aquele momento. Ela era desafiadora, instigante; havia algo em seu olhar, algo marcante.

Virou-se de lado na cama, o braço apoiado embaixo do travesseiro. Será que a garota estava certa, e ela era uma prisioneira aqui? Não se sentia uma prisioneira. Sentia que tinha toda a liberdade que queria. Ou seria uma ilusão criada por ela própria e alimentada por aquela que tomou a tarefa de cuidadora?

Sem motivos, uma lembrança surgiu devagarzinho em sua mente, como um carro distante em uma estrada, ao qual vemos apenas os faróis como dois pontos brilhantes e, quando nos demos por conta, estão na nossa frente. Lembrou-se de sua festa de debutantes, alguns dias antes de seu sequestro.

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— MENINA!

Exclamou uma moça. Era um pouco mais velha que ela, e, ao contrário de Lara Cowen, que era a filha do Alto Conselheiro, aquela garota usava roupas simples, tinha uma aparência simples, seus cabelos, apesar de bem cuidados e presos, eram sem vida. Não era uma surpresa que ela vinha do Distrito Baixo, por pertencer a uma das castas menores.

— Você está linda com esse vestido! — Espantou-se a estilista. Ela havia sido chamada em pessoa pelo lider de sua Casta meses antes, e ali, faltando alguns dias, ela terminava os últimos ajustes. — Tenho certeza que a senhora vai brilhar mais que qualquer coisa!

— Tenho certeza que sim!

Concordou uma Lara que já não via hora de descer daquela bancada. Não que ela não estivesse animada e até excitada com a proximidade de seu baile de debutantes - seu pai prometera trazer um dos galãs do seriado de vampiros que ela ama - mas aqueles últimos dias estavam se demonstrando serem de tantos compromissos, que já não via a hora de chegar o dia.

— Você sabe se as outras meninas vestirão o mesmo que eu?

— Menina, ninguém será tão linda quanto você. Isso eu garanto. — Pegou um alfinete que mantinha preso nos lábios e prendeu uma prega na saia. — Mas a sua mãe fez questão que todos os vestidos de vocês fossem complementares. Ou seja, na hora da grande foto, — a garota gesticulou com ambas as mãos — você arrasará, e as suas amigas arrasarão logo atrás. Como se vocês todas fossem uma única pintura!

— Nossa!

— Me mostra as fotos depois, né?

— Com certeza! — Lara riu, sendo acompanhada pela estilista.

Aquela garota, a estilista, vinha desenhando e costurando as roupas da herdeira de Philip Cowen desde que começou os ofícios de sua Casa. Era natural que agora, em um dos momentos mais importantes da vida da menina, fosse ela quem tivesse a honra de vesti-la. Era a mais próxima de uma amiga sincera que Lara tinha.

— Pronto. Terminei. Agora vamos tirar esse vestido e você está livre de mim até sexta, Lara.

— Sabe que não é verdade, Cris. Eu gosto de você, você me conta como estão as coisas na cidade e tudo mais. Diz as coisas que estou fazendo errado mesmo quando não quero ouvir. As outras. Apenas me paparicam e concordam comigo. — Levantou os braços para que a outra começasse a despi-la.

— Obrigada, Lara, é sempre bom ouvir isso de você.

Algum tempo depois Lara já estava de volta a seus afazeres. A filha do Alto Conselheiro possuia uma agenda de compromissos rígida, onde cada linha da listagem de horários que começava as 7:00 e estendia-se até as 20:00 era preenchida. Olhou para o relógio digital no telefone pessoal, sendo chamada atenção por seu professor de Economia e Finanças Públicas.