Capitulo 10

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Algum tempo depois estávamos de novo no carro. Harry seguiu caminho sem me dizer onde íamos. Eu decidi não perguntar. O caminho não foi longo mas foi o suficiente para que os meus pensamentos voltassem. Olhei para o Harry e dei por mim a sorrir enquanto me lembrava do quão fantástico ele era. Os livros deles eram magníficos. Estranhamente todos eles contavam histórias de vidas perfeitas, mas isso era algo que o Harry não tinha. Eu sentia isso. Será que ele escrevia sobre o que sonhava ser a sua vida? Será que ele encontrava felicidade nas personagens que ele próprio criava na sua mente? Eu queria ter respostas para tudo e não me aproximava nem um pouco delas.

- "Sam chegamos" Ele parou o carro

Saímos do carro e ele deu-me a sua mão carinhosamente. Eu segui os seus passos até chegarmos a um jardim coberto de baloiços, pistas para bicicletas, relva. Era realmente um paraíso para crianças. Mas que teria ele para me mostrar? Sentamo-nos num banco que dava visibilidade para todo o parque. Ele apertou a minha mão e suspirou.

- "Sam foi aqui que eu cresci"

Ele parecia nervoso por isso dei-lhe um aperto para o encorajar a continuar.

- "Foi aqui que eu cai inúmeras vezes do baloiço, foi aqui eu aprendi a andar de bicicleta, que fiz as minhas birras, foi para aqui que vim quando me mascarei no carnaval, foi aqui que fiz amigos, inimigos." Harry suspirou "Eu fui tão feliz neste sítio bebé" Eu sabia que ele estava a conter as lágrimas

O Harry estava tão frágil com as memórias que ele tentava recordar. Ele parecia ter sido uma criança tão feliz, mas essa felicidade tinha sido substituída por mera nostálgica, por mágoa.
Eu tentava imaginar o Harry a correr de um lado para o outro com os seus olhos verdes brilhantes e os seus caracóis caídos na testa. Eu tentava imagina-lo a chorar enquanto fazia uma birra e também a sorrir de uma forma totalmente inocente. Alguma coisa haveria mudado a sua inocência e o seu amor pela vida. Alguma coisa haveria arrancado a felicidade do seu olhar e do seu sorriso.

- "Harry tu és feliz agora?" Eu e a minha grande boca

Ele permaneceu por momentos em silêncio, mas acabou por fixar o seu olhar no meu. Os seus olhos estavam húmidos e tão transparentes. Tão inocentes. Eles pareciam sempre profundos e certos, mas naquele momento algo estava diferente.

- "Agora eu sou, graças a ti" Um sorriso apareceu nos seus lábios e o seu olhar brilhante encadeava o meu.

Eu não sabia que deixava o Harry desta forma. Eu não imaginava que lhe causava tantas mudanças.

- "Eu não sorria desta forma desde que ..., bem há muito tempo Sam. E é tudo graças a ti" Ele parecia tão sincero

Mas desde quando? O que teria acontecido na sua vida para que ele tivesse perdido a vontade de sorrir? Eu não queria aborrece-lo, não agora. Por isso não questionei esse assunto. Mas eu queria saber alguma coisa sobre a sua família. Mas eu não queria perguntar. Mas porque é que não consigo estar calada?!

- "Harry e a tua família?" Vou arrepender-me disto.

Ele permaneceu mais calmo do que eu pensava mas eu via algo mudar em si

- "Bem eu preferia não falar disso Sam" Os seus olhos encontraram o chão

Eu ia começar a falar mas ele não deixou

- "É só que eu estou tão feliz agora e eu não queria estragar isso" As lágrimas estavam de novo a massacra-lo

Eu acenei com a cabeça e confortei-o com um beijo nos lábios, enquanto distribuía mimos pela sua face. As minhas suspeitas tinham sido confirmadas. Harry não estava bem com a sua família e eu sabia que era isso que o deixava tão infeliz. Mas eu continuava sem perceber o que de tão grave tinha acontecido para que ele fosse este menino zangado com a vida.

- "Vamos sentar-nos na relva. Eu adorava fazer isso dantes" Ele parecia estar a recuperar da emoção

- "É claro" Eu sorri e levantei-me

Corri um pouco e mostrei-lhe a minha língua.

- "Mas primeiro vais ter de me apanhar"

Ele imediatamente se levantou e soltou uma gargalhada. É claro que não demorou muito até eu ter os seus braços envolvidos na minha cintura. Ele era tão forte e bonito. A sua camisa azul que cobria a sua t-shirt era deslumbrante. Harry pegou em mim e deitou-me na relva caindo em cima do meu peito. A cruz que ele tinha ao pescoço fazia cócegas no meu nariz enquanto eu ria. Ele olhava me de uma forma tão atenta e os seus olhos arregalavam com cada movimento que eu fazia. Ele parecia feliz naquele momento.

- "Sam?" Ele disse enquanto puxava o seu cabelo para trás

- "Sim Harry" Eu disse pressionando a minha mão no seu peito

O seu olhar transpareceu e as suas bochechas coraram minutos antes de ele falar

- "É que eu quero saber se tu queres estar sempre comigo!" Gaguejou

- "Como assim Harry? Claro que quero"

- "Não é isso. Eu quero saber se tu queres ser minha namorada?" Uma onda vermelha invadiu o seu rosto

Era o que eu mais queria. Ser a namorada do Harry era um sonho. Ele era tão bonito e eu sabia que ele poderia ter qualquer rapariga. Eu reparei nos olhares que lhe eram lançados em todos os sítios onde íamos. Ele parecia não notar, ou se notava ignorava cada uma deles. Mas para além disso ele despertava tanta coisa em mim. O seu toque fazia-me suspirar e os seus beijos eram tão doces e tão quentes. Cada centímetro do meu corpo arrepiava com o seu olhar. Ele era o que eu mais queria.
Ele esperava ansiosamente pela minha resposta.

- "Harry é o que eu mais quero" Eu sorri

O olhar dele iluminou-se pela segunda vez naquele dia. Parecia quase magia. O sorriso nos seus lábios formava as covinhas que eu tanto gostava. Ele não sabia simplesmente o que dizer mas eu sabia que ele estava feliz. O seu peito ficou acelerado e o seu toque na minha pele estava tão intenso. O beijo que ele deixou imediatamente nos meus lábios deixou-me sem fôlego. Ele estava incontrolavel.

- "Eu não sabia que tu te arrepiavas desta maneira amor" Um sorriso atrevido apareceu para me arrepiar ainda mais.

Eu adorava a forma como ele comandava o meu corpo. Eu perdia completamente o controlo. Eu era totalmente dele e de mais ninguém. E ele sabia disso. Ele sabia o que provocava em mim.

- "E eu não sabia que tu eras tão atrevido" O meu tom de brincadeira provocou uma gargalhada no lindo rapaz dos caracóis.

- "Tu ainda não viste nada" Harry encostou o seu corpo no meu e sussurrou

A sua voz estava mais rouca do que nunca e o seu olhar selvagem estava a deixar-me louca. O melhor tudo era poder ver este Harry. O Harry que eu pressentia que pouca gente tinha o prazer de conhecer.

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