Capitulo 29

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Caminhei pela rua vazia enquanto o ar frio me batia na cara. Sentia arrepios cada vez que o ar embatia com força no meu corpo pouco protegido. Ouvi gritos e olhei para a casa ao meu lado. A janela estava entreaberta e eu conseguia ver que alguém estava a discutir lá dentro. Realmente já nada faltava acontecer hoje. Continuei a minha caminhada e após alguns quarteirões estava em casa. Entrei e fechei a porta atrás de mim. Descalcei os sapatos lentamente e fui até há cozinha. Quando me aproximei ouvi um barulho vindo de lá. Perfeito. Já só falta assaltarem-me a casa hoje. Eu não deveria ter saído da cama. Peguei na primeira coisa que se parecia mais com uma arma e abri lentamente a porta. Espreitei e vi alguém de costas com uma estrutura magra e baixa. Cabelo castanho claros e curto pelas orelhas. Mãe?

- "Mãe o que fazes aqui? Quase me matas-te de susto" Eu disse pousando o meu objeto de defesa

A sua gargalhada era como música para os meus ouvidos. Como eu tinha saudades dela.

- "O que ias fazer com essa girafa de porcelana Samantha Jones?"

Eu apenas sorri e abracei-a com as poucas forças que tinha. As lágrimas queriam mais uma vez cair mas eu não permiti. Eu não queria que ela soubesse que algo não estava bem. Larguei os seus braços protetores e olhei nos seus profundos olhos azuis.

- "Viés-te visitar-me mãe?"

Sentei-me na cadeira que estava disposta de frente para a bancada e fui seguida pela minha mãe que apoiou os seus braços na mesa.

- "Não concretamente"

Não? Na minha cabeça começavam a nascer mil e uma ideias do porquê da minha mãe estar aqui. Eu sou mesmo complexa.

- "Então?"

- "Digamos que vou ficar por cá. A tua avó está melhor e não justifica eu perder o meu emprego cá"

Melhor notícia do dia, sem dúvida. Ia ter a minha mãe de volta, ia voltar a comer aqueles pratos magníficos que ela faz e melhor que tudo ia ter o seu carinho sempre que precisasse. Agarrei as suas mãos e mostrei-lhe o meu melhor sorriso do dia.

- "Mãe isso é óptimo. Estou tão feliz por estares de volta"

Um beijo foi deixado na minha face e eu acabei por retribuir com um sorriso. Eu e a minha mãe sempre tivemos uma excelente relação apesar de eu as vezes não ser a melhor filha. A filha que ela merece.

- "Então temos um novo inclino?"

Percebi imediatamente que ela se referia a Gemma.

- "Inclina. É a Gemma. Ela estava magoada e eu trouxe-a para casa"

- "Pelo que vi ela e o Cat estão a dar-se lindamente"

Eu sorri e acenei em confirmação. Eu sempre adorei animais e confesso que sempre tive a pequena esperança de me formar em medicina veterinária, mas o dinheiro nunca foi muito e sempre fui uma desajeitada. O resto da tarde foi passada na cozinha com a minha mãe. Lanchamos uma belas panquecas feitas por ela e acabamos por fazer um bolo. Conversamos sobre os últimos acontecimentos e eu contei-lhe sobre o incêndio sem pronunciar o nome do Harry. Fiquei aliviada por ela não chamar o seu nome há conversa e agradeci-lhe mentalmente por isso. Dei por mim a pensar onde estaria ele. Se estaria bem ou até mesmo se estaria a pensar em mim. Mas é claro que não que pergunta estúpida. Eu gostava sinceramente de saber qual o seu segredo. Qual o medo que o atormenta e magoa todos os dias. Mas ele é simplesmente teimoso de mais e guarda tudo para si. A verdade é que eu também nunca lhe disse que os meus pesadelos não são apenas de agora. A verdade é que eu os tinha na infância devido ao meu desconhecido pai.

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