Capitulo 42

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- "Onde está a Sam?"

O homem alto e bem vestido parado há minha frente parece indignado com a minha agressividade. Não quero saber de qualquer forma.

- "A Samantha juntou as suas folgas e vai ficar uma semana de férias"

Férias? Mas que porra de brincadeira é esta? Para onde é que ela foi afinal? E porque é que tirou férias agora? Para fugir de mim? Estou a ficar passado.

- "Ok" Respondo friamente e saiu da loja a correr

Chego ao carro e o meu primeiro instinto é arrancar o volante. Mas que merda. Eu preciso de descarregar a minha raiva. A raiva de não saber onde ela se meteu, de saber que ela está a fugir de mim, porque eu fiz merda. Como sempre faço. Vou ao ginásio. É a única forma de não espancar ninguém.

SAM POV

Passaram 7 dias desde aquela noite. Hoje é sábado e eu nem acredito como o tempo demorou a passar. Eu não sabia que era possível passar nem um dia sem falar com ele e agora já passaram sete dias. Sinceramente, parece que passaram anos. Não tem sido fácil, nada mesmo, mas a cada dia que passa parece doer cada vez menos. Não que seja uma coisa considerável, mas para quem se sente a morrer por dentro já é um começo.

Eu sei que sou eu que não permito qualquer diálogo nem justificação. Eu sei que fui eu que fugi aos problemas e me isolei numa casa no meio do nada. Eu sei que sou eu a culpada desta dor que me persegue. Mas não fui eu que causei esta situação. Não fui que o trai, nem que fiz dele um objeto de uso. Não fui.

Os primeiros dias foram os piores. Senti-me deprimida. Deprimida sem o seu corpo alto perto de mim. Deprimida sem os seus lábios rosados presos nos meus. Deprimida sem o seu toque. Deprimida sem a sua voz rouca no meu ouvido. Senti-me perdida nos meus pesadelos que a cada dia se tornam mais fortes e horríveis. Eu não quero sentir-me assim. Eu quero ser capaz de viver sem ele. Quero ser igualmente feliz sozinha.

O terceiro dia foi o pior. Foi o dia em que me apercebi realmente daquilo que tinha acontecido. Foi o dia em que acordei para a realidade. Nesse dia não comi, não falei, nem mesmo abri a janela do meu quarto para ver a luz. Nesse dia da minha boca saíram apenas soluços e respirações rápidas. No terceiro dia nem a cara lavei e muito menos me levantei para ver o estado dela.

Pela primeira vez rezei a Deus. Rezei que ele me leva-se juntamente com esta dor. Esta dor que me sufocava e me sugava a alma devagar. Eu não aguento. Nem mesmo eu aguento. Foi o dia a que julguei ser impossível sobreviver. Neste dia pensei em ligar o telemóvel e esquecer. Esquecer o que ele me fez e correr para os seus braços. Dizer-lhe que o amo e que o perdoo-o. Graças a deus que a minha sanidade mental continuava intacta e não me permitiu fazer tal ageneira. Este foi o dia em que as memórias me perseguiram e me corroeram a alma. Senti-me vazia.

O quarto dia foi o dia em que comi alguma coisa. Umas torradas que a minha mãe decidiu deixar na minha mesinha de cabeceira. Na verdade só o fiz porque não queria que ela reclamasse comigo, mas agora até agradeço porque até assentaram bem no meu estômago vazio. O chá quente acalmou o meu choro e limpou as dores na minha garganta por tanto gritar de dor. Gritar em silêncio. O meu maior inimigo tem sido ele, o silêncio. Eu queria gritar. Gritar e limpar a alma, mas não consigo.

Foi o dia em que decidi olhar-me ao espelho. O dia em que vi a lástima em que me encontrava. Abri ligeiramente a janela do meu quarto e espreitei lá para fora. O dia claro que se opunha ao meu estado de espírito deixou-me irritada e revoltada com a angústia que não me permite prosseguir com a minha vida. Este foi o dia em que consegui controlar as lágrimas. Em que a dor não esteve sempre presente e me permitiu descansar um pouco. Posso até dizer que foi no quarto dia que dormi. Dormi como não dormia há muito.

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