Capítulo 4

214 17 4
                                    

Claustrofóbico. Era como me sentia. Eu não tinha claustrofobia, mas em alguns momentos, instantes como aquele, faziam com que algo dentro de mim despertasse, embora não soubesse exatamente o que. Acho que era um somatório de tudo o que tinha vivido, então sim, certas situações me faziam sentir pressionado e sem ar. Abri os olhos em busca de alguma luz, algo que me guiasse, mas não vi nada. Me debatia desesperadamente, sentindo as mãos que abarcavam meu pescoço, pressionando minha pele com uma delicadeza assassina. Senti medo, não sabia onde estava, o que estava acontecendo ou quem estava sobre mim, apenas senti que era meu fim, pois não encontrava meios de fugir. Fechei meus olhos com força e quando enfim os abri mais uma vez encarei o teto do meu quarto. Fiquei parado encarando o vazio, sentindo o suor escorrer pela minha pele.

A luz do sol atravessava as cortinas azuladas e recaía sobre o meu corpo, incomodando minha vista. Sentei na cama e peguei meu celular, faltava uma hora até precisar levantar. Suspirei frustrado e decidi me adiantar, já que dormir novamente estava fora de questão. Assim que saí do banho e me vesti resolvi tomar um café-da-manhã calmo, sem pressa, como a tempos não tomava, mas ao abrir a porta do quarto vi uma silhueta passar em minha frente. Em um impulso instintivo agarrei seu pulso.

— Algum problema? – Hayden encarou-me com aqueles olhos gélidos, parado na mesma posição na qual o agarrara.

Como pude ser tão estúpido? Claro, era estranho morar com alguém depois de tanto tempo remoendo o passado, mas não podia esquecer que havia alguém ali. Principalmente alguém cujo os olhares pareciam congelar os confins da minha alma.

— Não – o soltei – Desculpa – foi o que disse, sem explicações.

Naquele dia me sentia estranhamente incomodado, não conseguia entender o que acontecia comigo. Queria arrancar a gravata, retirar o terno e os sapatos. Por fim correr livre. Pelo canto do olho observava Hayden, que sentava ao meu lado no carro. Ele era estranho, algo a mais em que não conseguia parar de pensar. Sua presença realmente chegava a me incomodar, havia algo, no fundo da minha alma mas havia, uma coisa que não conseguia descobrir o que era, um sentimento suspeito que de algum jeito me fazia sentir preso. O que era?

— O senhor está bem? – sua voz soou estranhamente calma, fazendo-me encará-lo quase boquiaberto, de guarda baixa como se meus pensamentos pudessem ter sido lidos por Hayden.

Voltei os olhos para a frente, vendo o sinal abrir. Apertei o volante com firmeza.

— Não se preocupe – respondi.

O sol já se recolhia na linha até onde meus olhos conseguiam alcançar, dando espaço para que a noite pudesse se expandir e tomar o céu. Mais um dia estava acabando, eu teria mais uma noite de inquietações. Minha mente vagava enquanto encarava a paisagem alaranjada. Hayden estava igualmente calado. Gostaria muito de saber em que estava pensando. Hayden, Hayden. Hayden. Quero entender esse garoto.

— Nós estamos sendo seguidos.

Tem muita coisa que quero entender. Quem é ele? O que pensa? Por que estou pensando nisso? Dentro da minha cabeça as perguntas murmuravam ao mesmo tempo e acabavam soando alto demais, por muito abafaram a voz de Hayden, que tinha soado baixo e casual. Finalmente absorvi suas palavras.

— O quê? – exclamei virando o rosto para o lado. Arregalei os olhos. Hayden estava tranquilamente contando as balas que colocava em seu revólver.

— Nós estamos sendo seguidos – ele repetiu sem tirar os olhos da arma, terminando o serviço e pregando a vista na estrada.

Qual o problema dele?

ToqueOnde histórias criam vida. Descubra agora