Capítulo 22

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Eu tentei te amar.

Engoli em seco, porque não queria chorar. Dessa vez era diferente, eu sentia que era, porque antes não havia de fato um fim, como ele gostava de lembrar, pois não havia um começo. O início aconteceu na noite passada, o fim veio pela manhã.

É isso, acabou.

Senti uma onda de contentamento, incômoda e fria, e depois veio a dor, a solidão. Parecia que tudo estava mais difícil, agora, mais do que nunca, era difícil deixa-lo ir embora. Deixar Hayden ir não parecia significar apenas o fim de um relacionamento, parecia que eu o estava abandonando. Que tipo de vida ele tinha? Queria saber, pelo pouco que Hayden havia dito não parecia algo que uma pessoa deveria viver. Ele não merecia, seja lá o que haviam feito com ele, mas o pior era que, para Hayden, isso parecia ser o certo. Apertei o rosto com as mãos, sentindo a cabeça latejar. Eu não podia dar as costas para ele, e não importava se Hayden não gostava de mim, porque era claro o que ele significava na minha vida, se pudesse ajuda-lo, vê-lo sorrir como algo natural, então... Então eu seria feliz.

Perguntei na recepção do horel, mas ele não passara por ali. Os seguranças não o tinham visto. Uma coisa era certa: eu havia escolhido muito bem o meu guarda-costas. Só depois de trinta minutos andando para lá e para cá, descobri que Willam chegara no hotel naquela manhã, e quando estava indo vê-lo, os seguranças de Marli me abordaram e pediram que, com discrição, eu os acompanhasse. Perguntei o que estava acontecendo, mas ninguém respondeu. Quando chegamos ao destino, Willam estava com Marli, na sala de segurança, de frente para todas as telas das câmeras de segurança que cobriam o hotel.

— Ele foi embora – entrei dizendo.

— Em um péssimo momento – Marli acrescentou, se afastando da tela que observava e me chamando para que eu também pudesse ver.

Passei por Willam, que me cumprimentou com um tapinha nas costas, o que queria dizer que ele sentia muito, e me direcionei para a tela indicada. A imagem que surgiu, no entanto, estava além do imaginado. Era uma das câmeras da minha empresa.

— Sua mãe esteve em seu escritório – Marli disse às minhas costas.

A cena gravada mostrava minha mãe entrando no meu escritório, acompanhada de um homem que eu não conhecia.

— Então eles estão lá – ela disse. – Preciso dar um jeito naquele garoto.

— Desculpe, senhora – o homem interveio. – A senhora não está pensando em machucar ele, está? Hayden Manly não é assunto nosso.

— Você está com medo? – ela sorriu. – Esse menino é só um boneco pra ele, e acha mesmo que vão revidar? O serviço não foi cumprido, e a "mercadoria" está causando problemas.

Fechei os punhos.

Mais alguém entrou na sala, uma mulher utilizando um chapéu preto. Apenas pelo corpo eu diria quem era, mas não seria possível.

— Dylan fugiu com o garoto – Darla informou.

A mulher riu, e eu tive certeza de quem era, não podia me enganar.

— Meu docinho não mudou nada.

Era a voz de Lilá.

— Não é um problema – ela continuou com o costumeiro sorriso cínico. – Podemos nos aproveitar da situação. Ilha do Céu, não é?

— Você precisa trazer o Dylan até nós – minha mãe falou.

— Não precisava pedir – Lilá acenou com a cabeça. – E o menino?

— Livre-se dele.

O que aquilo significava? Eu não conseguia entender. O que minha mãe fazia com aquela mulher? Lilá era nossa inimiga. Ela me traiu, matou meu pai, e estava sempre me perseguindo. Lilá era minha inimiga? De repente as palavras de Isabel faziam todo o sentido. O que meu pai havia dito... Foi a minha mãe quem trouxe Lilá para a família. Foi ela... Não, não, não!

— Eu realmente sinto muito – Marli murmurou. – Não posso dizer que estou admirada. Então foi ela a responsável pela morte dele?

— Não tenho certeza – Willam respondeu.

— Ela é capaz disso – Marli disse com raiva. – Você sabe que é.

O que está acontecendo?

Não conseguia pensar com clareza. Marli pegou minha mão e colocou um celular nela.

— Eu vou tirar você daqui, em segurança – falou. – Depois manterei contato, use o telefone apenas para isso.

Willam segurou o ombro dela e falou baixo:

— Não se envolva, Marli, ele não ia querer isso.

— Que porra está acontecendo aqui? – trinquei o maxilar.

Marli apertou minha mão e engoliu em seco antes de responder:

— Eu amava o seu pai, e ele amava você, tenho certeza. Sua mãe acabou com a nossa vida, mas isso termina aqui. – Seus olhos estavam molhados e me encaravam profundamente. – Você pode fazer isso.

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