Isabel segurou minha mão e afundou o rosto no meu braço, horrorizada. Engoli em seco, com a vista presa àquela visão do inferno. O homem não parava de gritar, e agora era eu quem queria gritar. Agarrei o colarinho do doutor, erguendo-o um pouco do chão.
— Quem mandou que vocês fizessem isso? – Rosnei com ódio.
— Vamos nos acalmar – o homem ergueu as mãos. – Eu sou só um funcionário, recebo ordens, assim como todas essas pessoas aqui. Se não foi o senhor quem autorizou foi alguém com poder igual, porque apenas a sua família mantêm esse lugar, e também fui informado de que o líder acabaria por fazer uma visita ainda hoje. Até trouxeram sua secretária.
Droga.
Larguei aquele inútil e sai em um rompante pelo corredor, indo para o escritório que, se estivesse em uso, deveria ser eu, mas obviamente não era. Isabel estava apressada às minhas costas, e isso também me incomodava, terem a envolvido nesse circo. E eu estava certo, porque no fim daquele corredor, em frente à porta do escritório, estavam dois homens de terno. Um deles colocou o braço no meu caminho, sem dizer nada.
— Você não sabe quem eu sou? – O empurrei. – Eu exijo ver minha mãe.
— Ela não está aqui. – Um homem de no máximo quarenta anos saiu do escritório. Ele tinha cabelos cacheados, curtos e castanhos, e usava óculos de grau levemente escurecidos. – A senhor Eaves saiu mais cedo.
— E quem é você? – O encarei.
— Ethan Collins – ele estendeu a mão em minha direção. – Seu novo sócio.
— Eu não autorizei nada disso – recusei.
— Mas sua mãe sim – falou. – Ela pediu que lhe desse um recado, disse precisamente que enquanto você brinca ela tomou a decisão que precisava ser tomada, e que agora irá supervisionar tudo de perto.
Trinquei os dentes e dei meia volta, levando Isabel para fora dali. Passei como um furacão por todos no caminho até chegar ao carro. Não disse nada, apenas dirigi, com todo o ódio que estava sentindo naquele momento. Podia sentir os olhos preocupados de Isabel sobre mim, e as palavras que ela continha na boca. A levei para casa, mas ficamos dentro do veículo por alguns minutos antes de ela sair.
— Me desculpe por você ter visto aquilo. – murmurei com as mãos jogadas no volante.
— Não se desculpe, é o meu trabalho.
— Esse não é o seu trabalho – a olhei nos olhos. Isabel estava transtornada, era visível, e totalmente compreensível. – E também não é o meu. Preciso dar um fim nisso.
— Eu não acho que o seu pai ia querer que uma coisa assim fosse feita.
Claro que não, isso é retrocesso. Meu pai não era o tipo de pessoa que caminhava para trás, e também não era um monstro desumano. Tinha todos os defeitos, mas esses não.
— Não importa – falei. – Ele não está mais aqui, mas eu ainda sou o novo chefe dessa empresa, eu mando aqui.
— Sim – ela segurou minha mão. – E eu sei que fará a coisa certa, vou esperar por isso, ok? – Beijou meu rosto e saiu do carro, dando boa noite.
Vi Isabel entrar no prédio antes de partir, só por precaução. Sabia que ficaria bem, mas tinha que cuidar dela, não ia permitir que mais pessoas se machucassem por minha causa. Ali mesmo peguei o celular e liguei para Willam.
— Eu fiquei sabendo – ele disse logo ao atender. – Sinto muito.
— O que você acha?
— Acho que alguma coisa precisava ser feita. Eu só esperava que não fosse desse jeito. – Willam respondeu.
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Toque
RomanceUma cidade com passado sombrio e segredos que perduram para sempre, essa é Hidden Shadows, palco de experimentos e planos dos quais seus moradores sequer desconfiam. Dylan, filho da família responsável por toda a cidade, governando nas sombras...