Capítulo 16

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Não pude acreditar no que acabara de escutar, minha mãe não podia estar falando sério. Meu primeiro casamento por seus meios de escolha não tinha sido trágico o bastante?

— Nós estamos cercados, Dylan – ela continuou. – Precisamos nos aliar a mais famílias, conseguir forças. Eu sei que você quer isso – sua voz agora soava mansa. – Quer se vingar de Lilá. Sim, aquela mulher foi uma péssima escolha, devemos ter mais cuidado com a próxima.

— A senhora deve estar brincado – falei sem pensar. – Lilá foi uma desgraça pra nossa família, e não faz muito tempo... Eu não vou casar assim de novo. – Falei com ênfase. – Não me trate como criança, meu pai não está mais aqui, graças a essas escolhas idiotas.

Darla riu.

— Você pensa que agora pode fazer o que quer por ser o dono da empresa e líder da família – minha mãe me olhou com escárnio. – Seu pai e eu também não nos casamos por amor, e é isso o que fazemos aqui. O dever vem primeiro, então pare de ser essa criança mimada e cresça de uma vez.

Dessa vez fui eu quem riu.

— Eu cresci, mamãe, embora a senhora não perceba. Eu devo mesmo seguir os passos de vocês? Sério? – Franzi o cenho com raiva. – Ótimo conselho, talvez assim eu acabe morto como o meu pai, ou desesperado como uma mãe que usa o próprio filho como recurso e marionete.

Hayden estava no canto da sala, observando em silêncio. O peguei pela mão e sai para o trabalho. Estava com raiva, muita raiva, sequer percebi que chegávamos ao elevador e ainda estávamos de mãos dadas. Hayden desvencilhou os dedos dos meus. Eu devia estar querendo piorar minha situação. Ele estava em minhas costas, e falei sem me virar, não sabendo se dizia aquilo para ele ou para mim mesmo:

— Eu não vou deixar que ela me controle.

— O que você vai fazer? – O escutei murmurar.

— Eu não sei – falei baixo demais.

Fui para o trabalho, e mais uma vez passei o dia fora, desejando que cada minuto demorasse o máximo possível, e mergulhando de cabeça em cada problema que me era apresentado, o cansaço do serviço era melhor do que o que me esperava em casa, e pelo menos as refeições eu podia fazer em paz. Hayden parecia distante, o que me incomodou um pouco, embora eu não conseguisse discernir seu estado normal de quando havia algo errado. Como ele aceitou comer comigo, imaginei que estava tudo bem... Mas talvez sua boa vontade fosse o pior sinal de que tudo estava errado.

Quando voltamos para casa dei uma boa olhada ao redor, não encontrando qualquer sinal de minha mãe. Talvez tivesse ido embora, eu esperava que sim. Fui direto para o banho, e deixei que aquele momento limpasse até o que eu não podia ver.

Quando terminei de me vestir uma voz chamou minha atenção, ficando alta por um segundo, o suficiente para ser escutada. Darla estava na sala, era certeza, e parecia estar com raiva, falar assim com alguém. A escutei falar coisas como ter vergonha e se colocar no seu lugar. Ao virar o corredor a vi quase ranger os dentes para Hayden, falando:

— Eu devia te colocar no lixo, onde é o seu lugar.

Ela ergueu a mão em direção ao seu rosto, e eu não podia acreditar no que via. Felizmente cheguei a tempo de segurar seu pulso, com medo de apertar devido à raiva que sentia.

— Já chega – trinquei o maxilar e olhei fundo em seus olhos pretos. – Essa é a minha casa, e você já interferiu o suficiente na minha vida.

Darla não falou nada. Ela sorriu de forma irônica, pegou a bolsa sobre a mesa, e saiu, puramente anunciando que não ficaria mais um dia naquele lugar. Então ela sabia... Como, isso eu não fazia ideia, mas se Lilá descobrira meu relacionamento, minha mãe, que mantinha olhos de águia sobre mim, acabaria sabendo. Assim que escutei a porta bater, me virei para Hayden, que já estava de pé às minhas costas, e o beijei. Ele empurrou meu peito.

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