Capítulo 1

379 23 10
                                    




Escutei o alarme tocar e gemi contra o travesseiro. Seria um dia cansativo. Levantei e fui direto para o banheiro, tomando um banho frio para tentar despertar. Vesti meu terno preto e arrumei a gravata, olhando meu reflexo no espelho de corpo inteiro, estava apresentável. Para a maioria pareceria estranho eu estar a procura de tantos seguranças e em especial de um guarda-costas, devo dizer que muitos homens que possuem bom físico não passam de um pacote de músculos que para nada servem, eu não sou um deles, cresci treinando como qualquer um de minha família, o que me rendeu o ótimo corpo que tenho aos 25 anos, na proporção certa, nada exagerado. Até esse momento dispensei a grande segurança que me era oferecida, não precisava disso, mas chega uma hora em que é preciso pôr o orgulho de lado e priorizar certas coisas. Peguei minha pasta de couro e saí do apartamento, sem nem resquícios de fome.

Nas portas do prédio já conseguia distinguir os homens que Willam havia contratado para mim, o que devia me dar alívio, mas apenas me fez sentir preso. Peguei o carro e dirigi até a Stone Circle, o centro comercial mais importante de Hidden Shadows, composto apenas por longos e intimidadores prédios. Para a maioria das pessoas minha família é a dona de uma importante empresa de uma cadeia multinacional, mas isso é apenas a ponta do iceberg. Hidden Shadows possuía um passado sombrio que sempre a atormentava, no começo três famílias cuidavam de tudo, mas os negócios negros acabaram escondidos. Minha família ainda cuidava da economia da cidade e dos resquícios dos antigos trabalhos, e acabaram resolvendo nos unir a outra família, casando-me com a filha dos líderes, Lila. No fim das contas aquela mulher nada mais era que uma aliada da família inimiga, os Albers, e me traiu, passando informações que puseram minha vida em perigo. Doeu muito, e eu lutei para esquecê-la. Lila era linda e encantadora, não saberia dizer se o que sentia por ela era amor, mas eu certamente me sentia atraído por aquela mulher.

Saí do carro e entrei no prédio que ficava em meio a outros dois mais baixos. Na recepção recebi o recado de que Willam já me esperava no segundo andar, o que me fez ficar um pouco aflito. Não queria ter de fazer isso, se pudesse pelo menos deixaria para outro dia.

Assim que entrei na sala de reuniões e vi Willam sentado, sozinho com seus papéis, pigarreei para chamar sua atenção e fechei a porta.

— Bom dia, Dylan – ele reuniu as folhas em suas mãos e as bateu contra a mesa para alinhá-las – Está tudo pronto. Se quiser já pode ir para a sala de entrevistas. – Willam se levantou e caminhou até mim, entregando-me as páginas já em uma pasta marrom.

Assenti e abri o arquivo, vendo as fichas dos candidatos ao emprego. O primeiro da lista parecia bem mal-encarado e estranho, talvez fosse um perfil ideal. Ele poderia intimidar mesmo à distância. Folheei um pouco de maneira rápida e soltei um suspiro pelo número de homens que teria de entrevistar. Fechei a pasta e saí da sala, atravessando o corredor da direita até chegar ao lugar onde conduziria as "reuniões". Coloquei meus pés no local e logo vi o ambiente amplo e as armas de fogo alinhadas na parede ao lado. Abri o arquivo e passeei os olhos pela primeira ficha que muito tinha me agradado. O homem tinha vindo da Suíça para cá cinco anos atrás, tinha sido policial e já estava na casa dos 40 anos de idade. Foi iniciado em nosso mundo por um amigo que trabalhou com ele no exército. Coitado.

Ouvi a porta ser aberta e reconheci o rosto da ficha em minhas mãos.

— Bom dia, me chamo Vigor Berggren – ele estendeu a mão para mim e o cumprimentei. Ele era alguns centímetros mais alto que eu, tinha a pele queimada e definitivamente era um pacote de músculos.

Espero que saiba usá-los – pensei ironicamente.

— Me chamo Dylan Eaves. – apresentei-me, mesmo sabendo que ele saberia o nome de seu eventual chefe – Senhor Berggren, o que o fez vir até aqui?

ToqueOnde histórias criam vida. Descubra agora